segunda-feira, dezembro 12, 2005

Perdizes de Mombeja



Ou uma manhã muito bem passada.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Os Tordos de Ferreira do Alentejo



e/ou a frustração de ter cobrado os 30 tordos às 9h30 da manhã.

terça-feira, novembro 08, 2005

Javalis na "Serra"



História segue em breve

segunda-feira, outubro 24, 2005

Associação de Caça e Pesca do Degebe



FOTO 2 - quadro final de caça ( após 12 Km a pé contados no pedómetro )
HISTÓRIA SEGUE EM BREVE

Associação de Caça e Pesca do Degebe



FOTO 1 - as duas lebres cobradas

segunda-feira, outubro 17, 2005

quinta-feira, outubro 13, 2005

ZCM Beringel e Mombeja - (ou às Lebres ? )


FOTO 2
Beringel - um regresso.
2000 hectares de planícies onduladas de restolhos ( muito rapados devido à seca deste ano e ao pastoreio) , terras lavradas , pastos de permeio e pequenos retalhos de olival - plantações novas e algumas de arvores seculares, no inverno por vezes muito visitados pelos tordos.

Algumas valas sulcam os campos e que, em bons anos, albergam bastantes codornizes e pequenos muros e montes , poucos, de pedra solta , escondem por vezes uns coelhitos .

A Associação de Caçadores de Beringel e Mombeja , liderados pelos Srs José Casaca e Manuel Inocencio , é uma máquina bem oleada no que respeita à organização das caçadas.

A hora de chegada a Beringel é por eles exigida com rigôr e quem se atrasa arrisca-se a ficar pelas piores soluções do dia. Daí que as 6h30 da manhã são, em geral, respeitadas por todos os caçadores que ali chegam para caçar à perdiz e à lebre. Aliás é habitual logo à partida a boa disposição entre todos, pois adivinha-se sempre uma boa jornada de caça.

Por volta das 7,30 horas da manhã, já após a caçada organizada, as caravanas de Jeeps e outras viaturas repletas de caçadores e perdigueiros dirigem-se para os locais de caça na Herdade.

A acompanharem-me nesta jornada foram o meu cunhado Manel e o Zé Camões, senhor já aposentado do Crédito Predial Português.

Estacionámos o Jeep a cerca de 50 metros do alcatrão. Soltados os cães do reboque, montadas as automáticas e colocadas as cartucheiras à cintura fizémos uma reunião curta onde o Manuel Inocencio explica a volta a dar. Ele iria no meio da linha para garantir o bom andamento da mesma evitando que a mesma "partisse" deixando as perdizes escaparem-se para trás.

A estratégia: as 2 linhas, a saírem de pontas opostas da Herdade, caminharem direito uma á outra para conseguir entalar as perdizes em zona mais ou menos a meio da ZCM.

Começámos a andar. A linha vai abrindo e varrendo as terras e os cães procuram incessantemente a caça. O tempo, bom, céu limpo, sol, alguma brisa e algum frio. Mistura explosiva para uma boa manhã de caça.

Percorridos os primeiros metros, logo uma lebre salta, longe, atravessa uma vala e escapa-se a trote para dentro de um olival pela minha esquerda. Mais á frente outra lebre, salta, também larga (já andam "escaldadas") e enfia-se, como a outra, dentro do olival.
"No regresso encontramo-nos" - pensei para comigo.

Os primeiros tiros ouvem-se na ponta direita da linha que seguia num plano mais elevado que o meu.
Paro e aguardo á espera de alguma perdiz fugida dos tiros. Nada. Provavelmente teria sido uma lebre.
Algumas boas centenas de metros á frente , seguindo o Zé Camões pela minha direita e logo de seguida o Manel, oiço este último:
"Zé Camões , atrás de si , uma lebre ! "
O dito cujo, virando-se , já não vai a tempo de fazer fogo. A lebre corre desenfreada pelo pasto, matreira, de orelhas coladas às costas.
"Filha da P." - dispara o Zé.

Outros tiros se ouvem.
Mais algumas centenas de metros. Olho á esquerda. e vejo a Pointer marrada de nariz ao alto. Aproximo-me calmamente. A pointer vai olhando pelo canto do olho e dá 2 ou 3 passos e estaca de novo.
"Brrreeee" - salta uma perdiz - logo ao primeiro tiro prego com ela no chão. A pointer arranca, cobra e traz-me a ave á mão. "Linda" - dá , faço-lhe uma festa na cabeça e depois de retirar-lhe a perdiz da boca dou-lhe a cheirar de novo o troféu. O animal abana alegremente a cauda de satisfação.
Continuamos.

A outra linha já se avista ao longe. Nota-se que a perdizes começam a saltar mais curtas. Aí está a táctica a a dar frutos. Apertadas pela frente e por trás, pelas 2 linhas de caçadores, as perdizes amagavam nos pastos e só saltavam desde que incomodadas pelos cão ou pelos pés dos caçadores.
Neste breves minutos fez-se seguramente um bom cinturão de perdizes, a dividir entre todos.

Continuámos. pela frente. agora, terrenos de restolho, com algumas pedras altas rodeadas de pequenos carrascos.

O Manel sobe para cima de uma dessas pedras. Alguns tiros se ouve. Sabe-se lá de onde passa-lhe uma lebre em corrida a cerca de 20-30 metros. O Manel encara a Beneli e faz-lhe 1, 2, 3 tiros esperando vê-la dar uma cambalhota. Qual quê , seguiu que nem uma flecha pelo montado abaixo.
"EhEh - Manel , então como é , 3 tiros numa lebre a 20 metros e no restolho e não fica? - comecei a "entrar com ele" - "que é que queres, não se podem matar todas" - retorquiu desanimado.

Começámos a inverter a marcha para ir de regresso aos carros.

Afastei-me um pouco da linha para deixar a pointer trabalhar à vontade. O regresso era feito contra o vento e com o sol pelas costas, deixando todos os trunfos do meu lado.
Num triangulo de pasto alto , perto de uma vala , a pointer arranca com uma lebre que levanta célere para o meu lado esquerdo. Num ápice a cadela põe-se no seu encalço e, sob pena da cadela encobrir a lebre, tive de encarar e atirar rápido. Ao primeiro tiro derrubo-a , ficando estatelada no pasto.
Gosto muito de ver a minha cadela cobrar uma perdiz na boca mas o espectaculo de ela me trazer uma lebre grande pendurada dá-me sempre um prazer especial pela satisfação do dever cumprido.

Algumas centenas de metros á frente , já com as perdizes muito fustigadas , a pointer desce e entra para dentro de uma vala cheia de juncos e teima em de lá não sair.
Estranho. Tinha de estar a trabalhar alguma peça de caça que lhe fugia no seu interior. Subo para cima de uma pedra para tentar vê-la no interior da vala. Não a consigo ver. O que vejo é uma perdiz a sair a grande velocidade e aos cacarejos de assustada. Desta vez encaro com calma e ao segundo disparo cai deixando um rasto de penas no ar. A Gabi , a pointer, sai do outro lado da vala e rapidamente cobra a ave, depois de a procurar durante alguns segundos com a ajuda da brisa.

"Ó Sérgio, ó Sérgio aí vai outra ! " - olho para o ar e vejo uma de asas abertas planando a espectacular velocidade direita a mim a uma altura de cerca de 30 metros. Aguardo, deixo-a "entrar" no campo de tiro e quando vai a passar por cima de mim primo o gatilho. Nada, a arma não disparou, tinha a arma na segurança. Quando atravessei a vala tinha colocado o travão de segurança e esqueci-me de a destravar. Com o esforço de querer premir o gatilho até me desequilibrei e tive de dar 2 ou 3 passos á frente para nâo cair. Quanto à perdiz... os Deuses estiveram com ela.

Ainda mais á frente , outro lance interessante. O Manuel Inocencio, dono de 2 excelentes cães de caça , um deles levantou-lhe uma lebre jovem, bastante pequena. O caçador que ia ao seu lado levantou ainda a arma para lhe desferir um tiro. Mas o Manuel Inocencio gritou-lhe: "Não atire, a lebre é nova e vamos ver se consegue ainda escapar" . Os cães, claro, desataram no seu encalço e depois de muitas voltas e quebras de rins, a pequena lebre, certamente já muito cansada, acabou por se deixar agarrar já dentro de um olival. Apesar dos gritos do Manuel Inocencio, os cães não lhe obedeceram e acabaram por cobrar o lebracho.

De regresso ás viaturas, foram feitos pequenos montes de caça no chão, mais ou menos iguais para todos e, pelo método do sorteio, cada um levou a sua simpática parte.

O Zé Camões, como no dia seguinte tinha uma caçada às lebres no seu Couto, ofereceu-nos as 2 lebres que lhe tinham calhado. Eu e o Manel, em troca oferecemos-lhe as perdizes que tínhamos.

Beringel , bons terrenos de caça , zona vasta para se poder caçar à vontade , gente simpática.
Enfim, um abraço para todos eles.


domingo, setembro 18, 2005

Patos à noite - cada vez mais uma paixão


17-09-2005
FOTO 2 - No final do dia
6h30 da tarde: defenidas as portas nos açudes , saltámos para cima do Jeep do Guarda da Herdade e encaminhámo-nos para os locais. Não era necessário levar abrigo de caça, dado que Sr Leonel, o Guarda, havia construído 4 abrigos em cada lagoa. Com o sol a começar a cair no horizonte , o Alentejo ganha mais côr e percorrer aquele caminho na caixa do 4x4 , com a brisa pela frente durante alguns minutos , deixou-me como novo.
Chegados ao açude, fizémos um pequeno sorteio das 4 portas existentes e cada um foi para o seu lugar.
Restava-nos esperar...os "meninos".
O açude, quase vazio , demonstrava fortes vestígios da presença dos patos nas suas margens.
7h30: o dia caía forte e a mistura do dia com a noite, naquele local, é simplesmente maravilhoso. O amarelo torrado dos restolhos circundantes , o balir dos chocalhos do gado bovino nas redondezas , o silencio da transposição do dia para a noite só interrompido pelo esvoaçar dos pássaros procurando dormida urgente, e a lua enorme e amarelada a subir no horizonte , deixava-me perfeitamente extasiado com tudo o que de bom a Mãe Natureza tem para nos dar.
Tão diferentes que somos nós caçadores daqueles que procuram avidamente a confusão das catedrais do consumo - os centros comerciais.
A comunhão com a natureza, a melancolia do campo no entardecer, onde tudo e todos se preparam para adormecer, experimentado nestas circunstancias de aguardar uma chegada dos patos, é algo que não se esquece facilmente. Cada vez mais uma paixão.

8h30 da noite: a Lua vai já bem alta e a sua tonalidade bem mais branca inundando de luz os arredores. Os patos tardam e teimam em não aparecer. Que desilusão se não chegarem.

De repente um tiro longinquo, no outro açude da Herdade. A adrenalina sobe de nível. Há que estar estanto pois os patos podem mudar de um para outro açude.
Alguns minutos mais tarde, um esvoaçar forte por cima de mim e a aterragem de um ánade nas águas prateadas do açude.
Ali estava ele, mesmo em frente - a cerca de 3-4 metros- de uma das portas. Desconfiado, o pato arrancou da água e passou por cima da porta. 2 tiros e lá vai ele cheio de saúde. Um chorrilho de impropérios deve ter passado pela cabeça do homem, em ter o pato mesmo ali na sua frente a olhar para ele, e depois tê-lo deixado escapar. Que raiva !

E agora, será que vinham mais? A ansiedade da visita dos patos é grande. Àquelas horas só sentimos a sua chegada através do forte bater das asas e a sua queda na água.

Mais barulho de asas, levanto a cabeça e vejo a chegar um bando de 5 ou 6. Os vultos, a voarem por cima das nossas cabeças, em contraste com o céu clareado pela Lua, preparando-se para aterrar na água, é coisa que não esquecemos.
Mais uns tiros. cai um ou dois.

Alguns minutos mais tarde nova visita. Desta vez eram mais. Cerca de uma dúzia. Notável. Mais uns tiros . Alguns caiem na água, outros nos limos secos das margens e outros já bem fora do açude no campo.
No espaço de cerca de 45 minutos a história repetiu-se por diversas vezes.

Da minha parte, consegui abater 3. Muitos outros houve que falhei estrondosamente. Parece fácil o tiro, mas de facto não é. As distancias são calculadas erradamente e a dificuldade de seguir o pato com a caçadeira é elevada, falhando com frequencia.

Cerca das 9h30 , mais ou menos uma hora após o ocaso, o Guarda chega com o Jeep, direccionando as luzes para o açude, onde boiavam, já sem vida, alguns patos reais, machos e fêmeas.
Recolhidos os animais, regressámos, de noite, para o Monte , onde nos iríamos reunir com os caçadores do outro açude.

O quadro de caça final foi interessante, sendo que os patos seguramente ficaram a ganhar aos caçadores. Fugiram muitos mas muitos mais dos que os que foram abatidos.
Feitas as despedidas. Rumo a casa.

À noite deitei-me e adormeci suavemente a recordar todas as cenas deste outro magnífico dia de caça.
Até à proxima, Herdade de Alcobaça.

Patos à noite - cada vez mais uma paixão.


17-09-2005
FOTO 1 - A meio da manhã

Quinta-feira , 15 de Setembro. Recebi uma chamada do gestor desta Zona de Caça dizendo-me se queria tentar caçar uns patos à noite. Que tinha 2 açudes e que os patos iam lá todas as noites comer.
Para não ir só á noite combinaríamos passar o dia na Herdade caçando de manhã umas codornizes ( bravas e de cativeiro ) , almoçando e depois faríamos a espera aos patos. Concordei. Primeiro porque este ano ainda não tinha posto a minha pointer na caça. Passar uma manhã às codornizes ir-lhe-ia fazer concerteza muito bem, para recuperar a forma e enfrentar a nova época de caça que se avizinha. E em segundo lugar porque patos bravos à noite e em lua-cheia , é sempre uma aventura a que não conseguimos dizer não.

Às 4h30 da manhã acordo com o despertador , tomo um duche, preparo-me , ponho a Gabi - louca de alegria , já sabia para onde ia - dentro da mala do carro e aí vou eu direito a Vila Fernando - Elvas.
Das 8 da manhã às 12h30 ( o dia estava bem fresco ) andámos com os cães em planície de restolho de trigo e sorgo cortado. Só havia meia duzia de codornizes bravas sendo as restantes de cativeiro, mas , ainda, assim, para o meu propósito, treinar o cão, recuperá-lo físicamente e dar uns bons tiros, serviu perfeitamente.

À uma da tarde já o cheirinho da linguiça , morcela e entrecosto a grelhar inundava os ares. Deus meu, que apetite, na caça e em contacto com o campo, a vontade de comer duplica ou triplica. Ali estivémos um pouco à conversa e, mais tarde, aproveitei para dormir um pouco, que a noite tinha sido curta.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Às Rolas na ZCM da Serra - Vila Nova S. Bento


27 Agosto 2005

Esta é uma história sem história ou, melhor dizendo, com muito pouca história.

Para haver história em caça tem de haver lances. E o único lance nesta jornada foi o abate de uma só rola, saldo final desta caçada.

Fruto do sorteio realizado no início do dia, coube-me o posto nº 5, por onde passaram 3 ou 4 pássaros e, mesmo, assim, bem altos por sinal, já fustigados pelos tiros das outras portas.

O resultado final da jornada, para 17 postos, foi de 90 bicos , entre rolas e torcazes ( mais torcazes do que rolas como se vê pela fotografia) o que, ainda assim, deu uma média razoável de 5 pássaros por posto. No ano anterior tinha sido bem melhor.

Relato este dia, somente para prestar uma pequena homenagem aos gestores desta Zona de Caça Municipal da Serra , situada na freguesia de Vila Nova de São Bento, concelho de Serpa.

São cerca de 700 hectares de montado e algumas culturas, com condições muito boas para a visita dos torcazes e rolas. Quer criando no local, quer provindo de outras zonas - inclusive de Espanha - através da existencia de 2 ou 3 cevadouros criteriosamente seleccionados e cuidadosamente colocados no local pelos gestores desta ZCM, a herdade é frequentada em abundancia suficiente para proporcionar habitualmente boas jornadas de caça em cada ano.

Parabéns ao Tomé Laneiro , ao Sr António e restantes companheiros que, com rigôr e disciplina, conduzem da melhor forma os destinos da ZC.

Para mim, desta vez, o dia foi da caça. Noutro dia se verá.

Saudações cinegéticas.



domingo, junho 26, 2005

Patos em S. Miguel de Machede


18 Setembro 2004
Bom, esta fotografia tem pouco a ver com a caçada que vou relatar. Mas como nesse dia infelizmente não levei a câmara , à falta de melhor utilizo esta que foi tirada a meio da manhã durante uma caçada às perdizes em Ferreira do Alentejo, onde a protagonista é a minha cadela pointer que, à minha ordem, saltou para a água e foi cobrar ... um pau por mim lançado.

Mas imaginem esta mesma lagoa, que tem à volta de 300 metros de diâmetro, transformada de repente num pequeno açude de app. 15 x 10 m , sem vegetação em redor e com 3 ou 4 palmos de altura de água.

Sim senhor, foi numa coisa assim deste tamanho, no meio de uma planície imensa de restolho e lavrado , praticamente sem um sobreiro, e com um ligeiro declive para o açude, que fiz uma caçada de espera aos patos, e que resolvi relatar pois foi das experiencias mais bonitas que tive na minha vida de caçador.

Francamente , devo dizer que nunca tinha caçado a sério aos patos. Mas no dia 18 de Setembro 2004 aceitei o desafio e compareci às 5h horas da manhã em S Miguel de Machede para uma brincadeira destas.

Para mim, o importante era ter a garantia que me tinham dado de caçar peças bravas e não patos de capoeira como tanto se vê agora por aí.

À minha espera estavam 3 confrades alentejanos , bastante jovens por sinal, todos estudantes universitários em Évora, mas muito batidos nesta coisa dos patos , e que , durante a caça geral , é raro acabarem o dia sem se colocarem à volta de um acude e aí esperarem os patos . Quando o sol se põe e os outros caçadores de salto arrumam a tralha e se vão embora , é precisamente quando eles tiram os abrigos do carro , os chamarizes e vão caçar patos.

Feitas as apresentações , segui atrás do Ford Fiesta deles , de noite escura , durante uma série de Km até virarmos para dentro de uma Herdade onde estacionámos os carros praticamente logo à entrada e onde estava o guarda à nossa espera.

Retirei o meu abrigo desmontável que comprei na Decathlon, camuflado em folhas de tons de castanho esverdeado e cinzento e encostei-o à carrinha. De seguida, tirei a minha semi-automática Beneli e enchi os bolsos com cartuchos Melior de 34 gr , chumbo 5.

Ainda era cedo e ali estivémos um pouco à conversa , fumando um cigarrito e olhando para os milhares de estrelas que nos miravam do céu. A madrugada estava com uma temperatura que era uma delícia e adivinhava-se um dia abrasador.

O cheiro dos restolhos humedecidos com o orvalho de verão entrava-me pelas narinas . Bebi 2 ou 3 goles de água para limpar e meti uma tablete de chocolate na boca pois quase não tinha tomado pequeno almoço.

Que havia uns patos naquela zona, que não era zona caçada há 2 anos, que era provável mantê-los entre as 2 lagoas/açudes onde se iria caçar por estarem muito "querençudos" , tudo isto me diziam os caçadores e guarda , mantendo, por isso, a minha adrenalina ao máximo.

Ainda escuro como breu, metemos a espingarda e restante tralha às costas e encaminhámo-nos para o citado Açude, deixando o guarda para trás a observar-nos. As botas tropeçavam desajeitadamente no meio da noite nos grandes torrões secos de uma parte lavrada, levantando pó , mas o silencio entre nós , enquanto caminhávamos, era quase sepulcral.

Eu nem sequer sabia para onde íamos. Sabia que era perto e que só tinha de seguir os vultos tentando não lhes perder o rasto.

A cerca de 100 metros do açude , o da frente parou e colocou tudo no chão. Acercámo-nos dele.
"É provável que estejam alguns patos dentro do açude" sussurrou quase imperceptívelmente. " por isso , vamos carregar aqui as espingardas , deixar o resto aqui , e vamos tentar derrubar um ou dois de surpresa assomando ao acude". Tudo isto de noite, ainda sem se ver, adornava o episódio também com uma grande dose de aventura.

E assim foi, fizémos uma aproximação em linha ao pequeno paredão do açude mas, ainda antes sequer de conseguirmos subir e vermos a água , já os sentíamos a bater as asas na água arranjando balanço para levantarem e irem para outras paragens . É que nem sequer os vimos, eu pelo menos não lhes puz a vista em cima.

Bom, desiludidos, regressámos ao sítio onde havíamos deixado os sacos e os abrigos e aí, então, fizémos um pequeno sorteio ( tudo isto de noite escura ) e fomo-nos colocar à volta do açude, dentro dos abrigos, ainda de noite.

Minutos mais tarde, os chamarizes de fole entraram em acção . Eu não conseguia ver os patos. Era ainda muito escuro. Mas de vez em quando sentia-os a passar. Dois tiros de uma das portas e senti um grande estardalhaço de um real a cair dentro de água.

Silêncio. Kué, Kué - mais uma vez o chamariz a funcionar. Mais silencio . Desta vez foram uma série de disparos. Um pato caiu à volta do açude e outo caiu dentro de água.

Longe ouviam-se mais tiros que eram feitos no outro açude e que, segundo eles , distava daquele cerca de 1 Km .

O tom rosa da aurora aparecia no horizonte e começava então a ver os contornos daquele sítio onde estava a caçar. Uma pequena maravilha da natureza que só quem caça pode benefeciar de momentos tão solenes.

Mais uns tiros ... mais uns patos a cair.

O primeiro que cacei senti o aproximar do bater das asas por trás de mim. Virei-me dentro do abrigo. Já vinha de asa aberta para se fazer ao açude. Dois tiros e foi cair em baque surdo na margem junto à agua. O coração encheu-se-me de alegria. Só tive vontade de sair do abrigo e ir a correr ver o pato derrubado. Mais tarde vi que era um pato colhereiro. É uma ave mais pequena que um real, com o bico em forma de colher , muito bonito.

Nas horas seguintes assisti a um espectáculo que nunca tinha visto. Os patos, sobretudo reais, aproximavam-se em formações de 4 ou 5. Antes de se fazerem ao açude sobrevoavam os ares. Imobilizados e completamente em silencio dentro dos abrigos ouvíamos o bater das asas lá no alto.

Muitas vezes davam 2 voltas e, desconfiados, começavam a afastar-se. Quando tal sucedia eram imediatamente "provocados" com os chamarizes de fole e de apito, reagindo e voltando para trás ao açude. Era então que levavam fogo.

Falhei diversos patos que me pareciam estar perfeitamente dentro do tiro. Puro engano, diziam-me os caçadores. Ainda iam altos. É preciso deixá-los fazerem-se muito bem à agua e só então atirar.

O segundo pato que matei era um real que passou muito desconfiado. Levantei-me de repente do abrigo, apontei a arma lá para o alto, dei-lhe um desconto de 4 ou 5 metros e disparei. O coração saltou-me quando o vejo a desprender-se lá do alto, muito alto, e foi cair redondo no meio da planície a cerda de 150-200 metros do síto onde estava.

Maravilhoso - pensei para comigo, que caça magnífica.

Pelas 11 horas , o sol queimava e os patos começaram a deixar de aparecer. Vi que um dos caçadores do outro lado do açude estava a dormitar dentro do abrigo, talvez fruto da noite mal dormida.

Minutos depois, ao longe, 6 ou 7 pontinhos no céu aproximavam-se a grande velocidade. Era uma formação de patos que nos ia visitar. O caçador continuou a dormir e os patos passaram-lhe mesmo por cima da cabeça, quase que lhe arrancando o chapéu. Quando tocaram com as patas na água levantaram voo de novo pois viram que estavam "acompanhados" e vieram direitinhos a mim. Mais 3 tiros e consigo abater mais um real que veio cair quase aos meus pés.

Foi uma manhã de maravilha. Cerca do meio dia, arrumámos tudo e fomos embora para os carros.

Um dos confrades tinha uma pequena geleira dentro da mala do carro e retirou umas cervejas ainda geladinhas que bebemos avidamente, sentados no chão à sombra dos carros, devido ao calor que se fazia sentir.

No final, manifestei a minha alegria quer pela caçada quer pelos resultados ( entre todos 19 patos , sendo 2 colhereiros e 2 marrequinhas - em Setembro !).

Disse-lhes que nunca na minha vida ia pensar que um açude tão pequeno e com tão pouca água pudesse "dar" tanto pato , ao que me responderam que, para eles, eram os melhores. Com pouca água, os patos gostam porque enfiam o bico dentro de água e conseguem revolver o fundo à procura de comida.

Para eles, os açudes fundos e com margens abruptas não são tão bons como aqueles.

Feitas as despedidas, meti-me no carro e regressei a casa. Um mundo de satisfação seguia dentro de mim revendo todos aqueles lances maravilhosos.

Dentro de uns dias relatarei uma caçada que fiz aos patos, mas desta feita na Barragem do Alvito e com o auxílio de barcos camuflados para o efeito.

Um abraço.

Javalis em Corte do Pinto


9 OUTUBRO 2004
Tínhamos escolhido um fim de semana inteiro de caça com a Família.
No sábado 9 de Outubro montaria em Corte do Pinto e, no dia seguinte, uma de perdizes na Serra de Serpa.
Na sexta-feira, depois do trabalho, saímos de Lisboa ao final da tarde e seguimos para Serpa onde iríamos ficar durante todo o fim de semana na bela Pensão Serpínia, logo à entrada da cidade.
Nos carros seguia a família toda, incluindo filhos, com a excitação normal destas ocasiões.
Jantámos pelo caminho e pelas 11 horas da noite chegávamos à Pensão,a Serpa.
Tratámos dos cães que ficariam nessa noite no reboque e, rapidamente, deitámo-nos, para dormir ainda algumas horas já que no dia seguinte teríamos de nos levantar , tomar o pequeno almoço e rumar para zona de Minas de S Domingos em Mértola.
Acordámos bem cedo, desengatámos o reboque que ficaria na pensão e "pusémo-nos" ao caminho.
Belo dia de Outono, cheio de sol, o ideal para uma Montaria.
No Corte do Pinto, no local do encontro, já se grelhavam febras e chouriço alentejano,em grandes grelhadores ao ar livre.
Completada a inscrição e restante pagamento das portas, chegou a hora do sorteio ,cabendo-me a porta 23.
Pelas 11 horas da manhã, entrámos em camionetas que diziam " Transporte de Gado Vivo" e lá fomos aos solavancos,agarrados como podíamos, no meio do incessante pó da estrada, para a mancha , com cerca de 200 hectares , onde podíamos, também, atirar aos veados.
A porta ficava situada no cimo de um cabeço, em cima de umas pedras altas,tendo pela frente uma ribeira que passava num pequeno vale e muita esteva pela frente , numa bela chapada com cerca de 200 metros de largura. Muito boa para carabina. Porco que passasse pela frente levaria à vontade pelo menos 3 tiros.
Cerca de 30 minutos mais tarde, os matilheiros entraram ao local.
Pela nossa direita, a cerca de 30 metros, do lado da chapada que ficava aos meus pés, as matilhas levantam uma vara de 4 porcos , mãe e 3 filhos já quase adultos.
A porca, esperta, baixa ao vale e desapareceu por completo, nem cães , nem matilheiros nem caçadores jamais a viram. Fiquei muito tempo a pensar naquilo , como era possível tal acontecer? Um animal daquela tamanho ?
Os filhos, esses, subiram a chapada e passaram por mim correndo desalmadamente entre as estevas, a cerca de 5 metros.
Apontei a um, com a dificuldade inerente à utilização de binóculo em tais circunstancias e premi o gatilho. Senti a frustração de carregar com força no gatilho e nada acontecer. Tinha deixado a BRNO em segurança, esquecendo-me por completo de a desengatilhar. Entre o corrigir a situação e tentar ainda o lance passou demasiado tempo. Os porcos tinham sumido.
Bolas ! Isto é imperdoável. Não se vem a uma montaria e esquecemo-nos de tirar a arma do seguro. Irritado, sentei-me desanimado de cabeça baixa.
"Mira hombre por que no has tirado ?" gritou longe o matilheiro que era espanhol. Lá lhe expliquei como pude e acenou com a cabeça como se estivesse a pensar: "é pá este gajo deve ser maçarico !!"
Bom, restava-me aguardar pelo fim da montaria e fiquei sentado a pensar que, não tendo aproveitado aquela oportunidade única, a montaria estava feita.
Cerca de 1 hora mais tarde, regressavam os matilheiros, debaixo de um sol escaldante e foram passar exactamente pelo mesmo local onde me encontrava desde manhã. Nem me levantei, limitando-me a observar, pensando que nada mais haveria por ali.
Quando passaram a meia encosta, também do meu lado, um grande alarido dos cães fez-me dar um salto, de arma aperrada. Um Javardo, grande , arrancava pelo meu lado direito ( era o pai) indo passar de través mesmo em frente às outras portas. Levou diversos tiros, uns atrasados, outros por cima, outros por baixo, muito pó,fugiu sempre e saltou para o lado de lá da encosta, correndo ainda chapada acima. Já no final quando já prestes a desaparecer, um tiro de carabina muito bem colocado por outro monteiro, fê-lo virar-se, perdendo lentamente o equilíbrio, caindo morto encosta abaixo.
Os cães tinham passado lá de manhã. Tinham levantado a mãe e os filhos. O pai, no meio da enorme confusão, ficou matreiro deitado no mato e tudo passou por ali sem que o porco fosse visto, sentido ou levantado.
Só no regresso é que, desinquieto e nervoso e finalmente descoberto resolveu tentar escapar.
Mais uma lição nestas lides das montarias.
Regressámos ao monte , e, embora o almoço fosse constituído por um dos meus pratos favoritos, um belo bacalhau cozido com todos, regressámos a Serpa, famintos, onde as mulheres e os filhos já nos esperavam há bastante tempo para almoço.
No dia seguinte haveria perdizes de salto. Que melhor programa de fim de semana se pode ter?
Um abraço
Nota: Mais tarde soube os resultados finais da montaria: 8 Javalis e 2 veados. Até para o ano.

domingo, maio 29, 2005

2004 - 07 de Novembro


Tinha sido sorteado com uma caçada às perdizes numa Zona de Caça Municipal na região de Reguengos.

A acompanhar-me, no sorteio, esteve também o meu cunhado Manel.

Alguns telefonemas prévios para o responsável da zona de caça davam-me a entender que se tratava de uma boa herdade para a caça geral !

Foi, por isso, com muita expectativa, que na madrugada deste dia arrumámos as armas na carrinha , atrelámos o reboque com os perdigueiros e rumámos direitos a Reguengos de Monsaraz, para a Vendinha.

Às 7h da manhã , com muito frio, estacionámos na praça central da Vendinha e aguardámos a chegada dos restantes caçadores.

A Organização, liderada pelo Sr António Janeiro, esteve irrepreensível em todos os aspectos. Não só no Sorteio das linhas, mas também e sobretudo na mensagem de rigor e disciplina que deixaram aos caçadores que iriam caçar nesse dia.

Como tinha chovido muito na véspera, o Sr António Janeiro recomendou que fôssemos com ele no 4x4 e deu-nos boleia para a Herdade. Pelo caminho um Jeep mais incauto atascou-se em profundos socalcos de lama que marcavam o trajecto tendo de ser rebocado, atrasando um pouco o início da caçada.

Chegados ao local e dirigidas as últimas palavras e recomendações aos caçadores, foi feito o sorteio pelo método do cartucho, ficando, no entanto, as pontas da Linha destinadas a caçadores locais da organização já que os restantes não conheciam os terrenos onde se iria caçar.

O dia esteve muito bom. Frio e muito Sol são, quanto a mim, os melhores ingredientes para caçar à perdiz e à lebre.

A Herdade, toda ela é composta por longas planícies de pastos e algumas linhas de água e por uma parte significativa de montado e vinha, de relevo mais acentuado.

Logo de início 1 ou 2 lebres deixaram a “malta” com água na boca fugindo ao longe no meio dos pastos, sem deixar a mínima hipótese.

O meu cunhado Manuel depois de atravessar uma ribeira ( linha de água ) e subindo um cabeço com o sol pela frente, tropeçou com uma lebre que, descoberta, arrancou rápido para trás, direita à ribeira. Beneli ao ombro e, ao segundo disparo, vejo a lebre dar uma cambalhota tocada de morte. O Bugy, o seu perdigueiro português, já velhinho, abocanhou e rapidamente levou ao dono. Pendurado o animal, retomou a caçada.

Da minha parte já ia a pensar estar em dia não. Pelas 9h30 ainda nada tinha visto e a minha pointer também nada “tirava” daqueles pastos.

Cerca de 1 Km mais à frente aguardámos um pouco pelo enrolar da Linha pelo lado esquerdo.

Atravessámos uma cerca e, logo, dentro de pastos bem altos, a Gabi , com a brisa bem de frente, estaca em linda paragem. À medida que chego mais perto, a cadela apercebe-se e inicia a guia – aproximação, àquilo que eu pensava serem codornizes. Barriga quase a roçar o chão , a pointer avança cerca de 30-40 metros e aí pára definitivamente em espectacular atitude de felino.

Sentindo-se descoberta, arranca velozmente uma perdiz , a qual encaro calmamente com a Bereta , jogando-lhe 2 tiros. Ao segundo a perdiz leva chumbo e segue de asa aberta para poisar lá bem ao longe, tive mesmo alguma dificuldade em ver onde havia pousado.

A vontade era ir de imediato no seu encalço. No entanto, fazendo-o, iria colocar-me à frente da linha de caçadores pelo que decidi esperar pelo enrolar da linha. Estes 5/6 minutos de espera enervante, fizeram-me perder a perdiz já que, quando cheguei ao local onde ela pousou , nunca mais a vi , nem eu nem a Gabi ( nem sinal dela deu ).

Pelo caminho, os restantes confrades iam mais ou menos fazendo o gosto ao dedo, sobretudo com as lebres e as codornizes que havia em abundância.

No regresso atacámos o montado. O Manel , pela minha direita, arranca-me com um bando de 10 a 12 perdizes que me passam pela frente e de través, para o meu lado esquerdo, a uns 20 metros para lá de uma cerca . Dois tiros e , do bando, vejo uma a enrolar no ar e cair como um fardo no chão. A pointer, já muito matreira nestes lances, atravessa o aramado e vai cobrar a perdiz. Tratava-se de um macho com esporões.

Logo de seguida, da ponta esquerda da linha oiço 2 tiros. Vejo uma lebre a correr desalmadamente direito a mim, pelo meio dos juncos de uma ribeira, com as orelhas bem pregadas ao lombo. Corro direito à ribeira e páro. Sabia que ela iria passar por ali. Não tinha outro caminho.

Mas não passou. Que raio ? Dou mais meia dúzia de passos e digo à pointer para buscar: Busca Gabi !

Mais um ou dois minutos. Nada. De repente vejo a cadela marrada junto a um tufo de juncos. O coração parece que me quer saltar do peito. Que emoção.

Aí vai ela ! Arranca forte e depois de correr 15 a 20 metros prego-a no chão com chumbo 7.

A cadela faz o cobro e vejo que se trata de um lindo animal. Era daquelas lebres , uma fêmea, que têm o pelo com um castanho um pouco mais escuro ou mesmo ruivo.

Penduro-a com emoção e rapidamente junto-me à linha.

Mais uma vez vejo a pointer a dar-me sinal de perdizes. Esquartejava rapidamente um cabeço, com a cauda a abanar muito rápido e isso eu sabia que era sinal muito fresco de perdizes.

Nem mais. A cerca de 25/30 metros vejo nascer uma perdiz do chão, arrancando atravessada , com aquele cacarejar típico que me deixa sempre com o coração na boca. Encaro a escopeta e logo ao primeiro disparo derrubo-a no ar caindo bem redonda.

Gabi , dá ! Nem preciso de lhe dizer. É rara já a perdiz que salta, seja de onde for, que este animal não se aperceba dela. Alguns segundos mais tarde, regressa orgulhosa com a perdiz na boca.

No caminho de regresso mais tiros se ouvem e as perdizes e as lebres lá vão caindo, à mistura com algumas codornizes que, embora já com a época avançada, existem ali com muita abundancia.

Cerca das 13 horas chegávamos aos carros depois de termos percorrido seguramente alguns 10 Kms. As Herdades desta ZC são pouco acidentadas, pelo que, caçando em linha, fazem-se muitos kilómetros.

Apurado o saldo da caçada e feita a distribuição, que a todos agradou já que quase todos os confrades levaram caça nos limites máximos, regressámos á Vendinha.

Pelo caminho atravessámos o “livre” onde diversos caçadores calcorreavam os terrenos para a frente e para trás ( quantas vezes por dia ? ) sem grande proveito já que estes terrenos estão, como toda a gente sabe ( sobretudo nesta altura da época ) completamente esvaziados de caça.

Despedimo-nos com amizade do Sr António Janeiro. Será que em 2005 regressamos ? Vamos ver, a esperança morre em último lugar.

domingo, maio 08, 2005

Honoris Postumos



Entre os meus 13 e os 16 anos de idade íamos ,todos os anos,os meus Pais e irmão mais velho, durante o mês de Agosto, de férias para Sines, numa altura em que nenhuma das suas praias se encontrava ainda poluída e faziam, com certeza, concorrência àquelas que hoje são talvez dos principais destinos turísticos do mundo.

A caça às rolas abria sempre a 15 de Agosto, e era obrigatória a saída do parque de campismo, logo de madrugada, para nos deslocarmos à zona da Salvada, pequena povoação a sul da cidade de Beja.

Claro está que, naquele tempo, o terreno livre era pródigo em caça e, enquanto, o meu pai ia atirando ás rolas, era frequente vermos perdizes, lebres e coelhos deambulando por aqueles “cabeços”.

Foram férias que me deixaram muitas alegrias e sempre recordei com saudade aquelas saídas ás rolas de verão, ficando ma minha mente as herdades de cabeços pronunciados, com bastante mato e sobreiros e, aqui e ali, algumas zonas de restolhos de cereal, que convidavam as rolas a procriar e permanecer até ao regresso a terras de África.

No ano passado tive a possibilidade de, passados tantos anos, regressar à Salvada para uma caçada ás perdizes que me diziam tinham criado excepcionalmente bem, prometendo algumas horas de puro divertimento e adrenalina.

A 14 de Novembro 2004 saí de casa e, depois de recolher o meu cunhado em Oeiras, conduzimos até Beja, onde, entrando no seu interior , desviamos depois para a dita povoação da Salvada, ponto de encontro que havíamos combinado com o gestor da ZC , Sr José M., que já estava á nossa espera.

Dali até à zona de caça fizémos um bom par de dezenas de Km por meio das Herdades, o que mais se assemelhava a um safari em Africa, tal o estado dos caminhos.

Por fim chegámos e já lá se encontravam os restantes caçadores, à volta de uma fogueira que fazia frio, aguardando a chegada do Sr José M..

Cumprimentados os Confrades e defenidas as linhas – pelo método do sorteio – foi a altura de carregar as escopetas , soltar a minha inseparável pointer Gabi e iniciar a caçada.

Logo para começar, atacámos um cabeço onde, chegados ao topo, vi jeitos de, tão cansado estava, de me desequilibrar e voltar ao ponto de início.

“É lá, parece-me que aqui vou ter de sofrer as estopinhas” – pensei. No percurso, alguns torcazes saltavam da dormida de cima dos sobreiros, permitindo que, logo de manhã, alguém fizesse o gosto ao dedo, derrubando um ou outro.

Eu acompanhava o ponta esquerda já que não conhecia o local, e começámos então a caça às perdizes.

As que iam saltando, lançavam-se largas e sempre a coberto do sol, já que a direcção da linha rumava contra o sol, coisa que sempre me aborrece quando são combinadas estas voltas.

A paisagem era extasiante e quase inacreditável.

Intermináveis cabeços de giestas faziam-nos pensar 2 vezes , se devíamos continuar... ou se devíamos regressar ao carro. Claro está que a paixão e o vício das vermelhudas fazem-nos sempre ir mais além, fazendo-nos ate esquecer das distancias a que por vezes nos encontramos.

As perdizes, essas, brincavam connosco, saltando de uma encosta e voando , não para a seguinte, mas quase desaparecendo de vista, como se costuma dizer: para trás “ do sol posto”.

A Gabi não parava de me dar sinais, ora abanando a cauda naquele estilo tão peculiar dos perdigueiros ora baixando o ventre e trotando rápida pelo meio das giestas.

Já o sol ia alto e quente quando o Sr José M., fazendo-me sinal para parar, disse:

Fique agora aqui debaixo deste sobreiro, neste vale, que as outras linhas agora, supostamente, hão-de trazer-nos algumas perdizes.

Claro está que aproveitei de imediato para descansar da valente coça.

Despida a camisola e arreada a mochila que sempre levo nas caçadas de salto, com a camisa inundada em suor, sentei-me debaixo do dito sobreiro, a apanhar sol, com a Bereta nas pernas e carregada de chumbo 6 , 32 gramas.

Decorrido cerca de meia-hora, ouvi um tiro e vejo uma perdiz planar longe de asa aberta no outro lado da encosta.

Será que já aí vêm ? – pensei.

Mais 5 minutos e oiço meia duzia de tiros ao longe e de imediato vejo mais um par delas planando direito a mim pelo meu lado direito, de través. Levanto-me, encaro a espingarda , jogo os 2 tiros e as perdizes ...continuam pelo vale abaixo.

Se palavrões e impropérios as derrubassem, de certeza que nesse lance tinha feito doble.

Mais tiros e vêm mais meia dúzia delas. Passam por cima de mim. Mais 2 tiros. Não cai nenhuma.

“#$%&/; - .... para as perdizes !

E vêm mais duas... e vão mais 2 tiros e... nada!

Bom, isto hoje está mesmo para esquecer. O Sr José M. grita-me lá do alto para começar de novo a andar e virar para a minha direita, para iniciar o regresso aos carros.

Meu Deus, o que eu sofri até chegar ao carro. As pernas doíam-me quase até não poder. O coração saltava-me do peito tal o esforço desenvolvido. As perdizes, lá íam “espirrando” e no meio de muitas falhadas por clara falta de concentração devido ao forte esgotamento, lá consegui derrubar 3 no regresso, uma com a ajuda muito prestimosa da Gabi que a “marrou” dentro de uma ribeira seca.

Cheguei a ver bandos de 10 a 15 perdizes saltarem dos cabeços e voarem para tão longe que desafio qualquer um a, naqueles terrenos, ter vontade de ir atrás delas.

No final da caçada , 127 perdizes ( não me enganei não, foram cento e vinte e sete ) e 2 lebres compunham o tableau de chasse.

Para mim, honoris póstumos para 3 delas.

Magnificas terras de caça que, de tão agrestes e selvagens, albergam tantas perdizes. Para a organização, os meus parabéns. Escusado será dizer que, para o ano, lá estarei, quer para as perdizes quer para os javardos, sim, porque “rastos” frescos destes meninos era o que também lá não faltava.

Um abraço amigo Confrade José M. e obrigado pela oportunidade que me deu.

terça-feira, maio 03, 2005

Perdizes na Vendinha



Meu caros e Prezados amigos,

O meu coração está muito ligado ao Alentejo e à caça.

Esta ultima caçada, na Vendinha, às perdizes, recomenda "meiadúzia de linhas" quanto mais não seja para ficar ligado ao evento, para a posteridade.

Às 5horas da manhã do dia 27 Outubro 2004, estava a sair de S. João doEstoril, com o atrelado e a inseparável Gabi.

Uma paragem no Restelo para me encontrar com o resto do grupo "perdizeiro".

Às 7h30 da manhã, reuniamo-nos na Praça Central da Vendinha, para tomar um café quente e aquecer o estômago.De seguida, e satisfeitas as "formalidades", metemo-nos nos carros e fomos para o Monte , bem conhecido no local pela sua fama de bom sítio para dar uns tiros nos Javardos. Mas , desta vez a conversa era outra e tinha penas.Penas vermelhas e grande velocidade de voo.

Chegados ao Monte, aproveitámos para tomar um bom pequeno almoço, café com leite, chouriço, queijo regional e salpicão alentejano.

Composto o estômago, e esfregadas as mãos de nervoso miudinho,metemo-nos de novo nos carros e fomos para o local da "faena".

Soltos os cães, carregadas as espingardas e de cartucheiras à cinta,atacámos uns cabeços bem "avantajados" cobertos de pequenos matos e estevas. O Sol já ia alto e resolvi ficar só de T-Shirt.Aberta a linha ( 7 caçadores ) iniciámos, e logo de início, saltaram algumas perdizes que "abalaram" inquietas para outros cabeços.
Com o coração a bater mais forte e a esperança no coração, começaram a sair os gritos de encorajamento aos cães.

A primeira que derrubei veio de outro caçador e apareceu-me da esquerda para a direita aí a uns 30 metros de altura. Ao primeiro tiro caiu"redonda" fazendo a Gabi ( que tudo viu ) sair disparada para o cobro antes que ela se "pusesse nas asas". Entregou-ma na mão, com a cauda a abanar de contentamento.

Recarregada a Beneli, seguimos em frente. A segunda vem, mais tarde,também de outro caçador que fazia a ponta direita da linha e aparece-me quase de frente. Dois tiros e pregoa-a no chão. Esta requereu cerca de 5 minutos para a encontrar porque caiu no meio das giestas, mas, por fim, lá apareceu a irrepreensível Gabi com a perdiz na boca. Liinnnda cadela ! Dá ao dono, dá !Pendurada ( era a segunda ) seguimos em frente para não perder a linha que já ia algo distante.

A terceira mereceu medalha e foi assim: A cadela, com o vento de frente,parou de repente com o focinho no ar. Ao meu lado, o Biscaia dizia: Sergio,olhe a sua cadela que está marrada ! Fiz-lhe sinal que estava a controlar e, durante cerca de 50 metros, a Gabi foi atrás daquele cheiro a penas,que teimava em não aparecer. Pois não, a perdiz sentiu-se detectada e foi a patas em fuga debaixo das giestas até não poder mais. De repente, pensou que já não podia esconder-se mais e arrancou! Que voo...Dois tiros e trás ...no chão ! Abocanhada, foi-me entregue pela cadela que estava cheia de nervos.

3 foi a conta que Deus fez e chegávamos à hora do almoço. Carros com eles e atacámos um delicioso Cozido á Portuguesa no Monte com sobremesade Leite-creme, café e o scotch da ordem.

Sentámo-nos cá fora á sombra a descansar e eu aproveitei para lavar a Gabi que, entretanto e de manhã, resolveu deleitar-se rebolando num valente monte de bosta de vaca.

Vamos á 2º parte. Estomago cheio e com mais vontade de dormir debaixo de um sobreiro do que atacar as perdizes com o calor que se fazia sentir, lá nos enchemos de coragem para a tarde.Um meu amigo, o Nuno, que não tinha cão, adiantou-se na linha cerca de 80metros e o Eng Venancio que ia ao meu lado direito logo lhe disse; "Nuno,que estás a fazer rapaz ? Volta mais para trás" . "É pá, foi uma perdiz que eu vi ir para aquele sobreiro, vou lá ver dela". O que é certo é que aquela perdiz não apareceu mais para o Nuno. Apareceu foi para mim que por lá passei. De repente, vejo a Gabi virar-se ao vento e fazer uma "guia" de uma duzia de metros pela enconsta abaixo. Brrrrrrrrrrrrrr, que lá vai ela!! Trás, Trás, dois tiros e a perdiz estendida nos pastos.

A quarta foi numa ribeira que atravessámos, cheia de ervas altas. Reparo. Estava atento ao lance - cerca de um minuto tinha passado - quando, de um pequeno túnel de ervas - mesmo á minha frente, aparece a perdiz que,descoberta, arranca veloz. Derrubada ao primeiro tiro, é trazida pela Gabi,cheia de orgulho."Ena pá, valente cadela que você tem, assim vale a pena !" - Obrigado-respondi.

Acabada a tarde, montado o tableau de chasse e contados os ultimos pormenores da aventura, metemos as espingardas nos carros e regressámos, com a alma aberta depois de um excelente dia às perdizes.

Aquele abraço

domingo, fevereiro 06, 2005

Montaria em Mértola - 11 Dez 2004



Sonhei muitas vezes com este dia ao longo do ano.

Em Janeiro, tinha estado noutra Montaria nesse mesmo local. Apesar de ter estado numa porta de travessa passei toda a santa manhã a ouvir tiros, ... do meu lado esquerdo, do meu lado direito e em toda a mancha. No final, 24 porcos abatidos e cerca de 250 tiros jogados. Convenhamos que é obra!
Pensei comigo: “ na próxima época tenho de vir outra vez”.
E esse dia chegou: 11 de Dezembro de 2004.

Às 4H00 saí de casa em S João do Estoril , meti-me na carrinha e rumei a Mértola onde seguramente iria encontrar-me com antigos amigos das Montarias.

Lá estavam eles, o João Baioa , o Zeca , o Jorge, entre outros. Também estava presente o caro amigo Manuel Barbosa , proprietário de uma bela Zona de Caça Turística em Mértola - Santana de >Cambas onde já "virei" muitas rolas e alguns patos.

O ambiente era de grande expectativa nesta montaria. Ao pequeno almoço um bom café com leite , ovos mexidos , salpicão e um café "grosso" animaram ainda mais as hostes.

Sorteio: Porta 61. Armada (de novo ) - Que bom !

Mancha: cerca de 260 hectares, com uma ribeira a atravessá-la, em alguns sítios muito fechada.

O transporte para os postos foi feito em tractores e outros veiculos de caixa aberta - em silencio como mandam as regras.

Chegado à porta , depois de uma boa caminhada , ponho a carabina no chão , largo a mochila e - inundado em suor- dispo o capote alentejano. Retiro a carabina da funda e abro a mochila para retirar as munições. Fiquei petrificado. Depois de muito procurar cheguei a uma terrível conclusão: havia deixado as balas na carrinha, no local da concentração.
Tem calma Sérgio , pensa no que hás-de fazer. Deslocar-me á porta ao lado e pedir balas ? Não vale a pena , vou desestabilizar a Montaria e a hipótese de encontrar um caçador que tenha 9-3-62 não é muito certa.
Ir-me embora ? Também não. Nada a fazer! Resta-me esperar até ao fim.

"Armei" a minha câmara Fujitsu de 6,1 megapixels e dediquei-me à caça... fotográfica!

Neste dia , entraram na minha porta 3 porcos , um deles navalheiro ( abatido depois na porta ao lado ).
Todos eles entraram em terreno limpo como se pode comprovar pela fotografia tirada.

Finalizada a Montaria, regressei à Vila. O sonho de um ano tinha-se esfumado por um pequeno erro de logìstica.

Quadro final : 18 porcos.


Apesar do percalço, as Montarias desta Zona de Caça continuam a ser excelentes, como depois se veio a comprovar pela Montaria seguinte em Janeiro 2005 , com 44 ( quarenta e quatro ) porcos abatidos ( 2 meus ) . Parabéns aos Organizadores. Excelente ZC.

Este ano, com sorte, lá estarei de novo.




Às perdizes no Rio Chança - Mértola



De há muito tempo que vinha ouvindo falar nas "perdizes do Rio Chança". Que são bravas, esguias, sempre muito suadas, enfim...à antiga portuguesa.

Assim que a oportunidade bateu à porta não hesitei.
Troquei algumas impressões com o gerente desta ZC , Sr Carlos Raposo que, logo de início me sossegou, quer pela qualidade quer pela quantidade de "produto acabado" ali existente.


No dia 10 de Outubro 2004 , saí de armas e bagagens e com a esperança no coração.
Às 7h00 da madrugada estava a entrar nas Minas de S. Domingos - Mértola.


No ponto de encontro, logo encontrei gente muito bem disposta e simpática, o que é sempre importante para nós que vimos de fora sem conhecer as pessoas e, portanto, sempre com algum receio neste aspecto.

Após o sorteio, deram-me boleia num 4x4 cheio de armas, bagagens e perdigueiros à mistura, e rumámos direito à herdade onde íamos montar uma linha de 7 caçadores. Nas vozes, notava-se a excitação da jornada que íamos viver.Tudo gente jovem, incluindo uma senhora caçadora, esposa do Sr Carlos Raposo.

Encostámos o Jeep numas ruínas e logo aí combinámos a volta. " O Sérgio Vieira, como é a primeira vez que cá vem vai encostado ao ponta da linha do lado direito enquanto os restantes vão enrolando pela extrema da Herdade.

Dados os primeiros passos logo uma lebre dispara direito ao vale escapando ilesa sem sequer levar fogo. Matreira hem?.

A paisagem é magnífica. Cabeços de estevas com alguns sobreiros e azinheiras e grandes limpas de permeio, com diversos pastos aqui e ali. O sol, logo de manhã inunda de luz aqueles montes pondo as perdizes a cantar alegremente.

O ponta direita ia fazendo o gosto ao dedo e logo na primeira reunião que fizémos, já ia com um saldo de 5 perdizes abatidas. Da minha parte ia com uma pendurada, que me tinha saltado do meio das estevas aí a uns 20 metros para o meu lado direito ( este é o meu tiro favorito e mais uma vez funcionou ).

Por vezes, tínhamos de atravessar os giestais e, com as duas mão, levantar ao alto as caçadeiras para não se estragarem naquela vegetação tão densa.

Mas era dentro desta vegetação que as perdizes estavam. Muitas, concerteza que nem levantaram, esgueirando-se para trás da linha. Isto, quer queiramos quer não, para quem já cá anda há uns anos nestas lides, é coisa que se sente.

Na volta de regresso, completamente esgotado, tive ainda a oportunidade virar mais duas. Uma delas sai do meu lado esquerdo e, voando atravessada a "duzentos à hora" passa-me de repente pelas costas. Viro-me, encaro quase por instinto, e , já em desequilíbrio, disparo 2 vezes, sendo que, ao segundo tiro, vejo-a pendurar uma das patas e foi poisar a cerca de 200-300 metros de distância.

Chamo a minha pointer e, em passo de corrida como se diz na tropa, vou direito "à queda". Quando chego, 3 ou 4 minutos depois, como era de se esperar , parece que se tinha esfumado.

Calma Sérgio que ela tem de por aqui estar - pensei. Gabi, minha linda, busca, busca.

Quem porfia sempre alcança e decorridos meia dúzia de minutos aí estava a cadela marrada junto a umas pedras. Incitei-a a entrar e a perdiz saíu do outro lado aos saltos sendo agarrada de imediato pela boca da pointer que excitadamente a trouxe às minhas mãos.

E agora a linha ? Toca de acelerar de novo para os encontrar que aquela gente não perdoa. É mesmo "à antiga portuguesa".

No fim, dispostas no chão , um saldo de 24 perdizes e 6 lebres. Mais não se mataram dado que não era permitido.

Nessa noite, já em Lisboa, adormeci a ver as perdizes a saltar e a cair naqueles montados magníficos do Rio Chança.

Bem hajam Carlos Raposo e restantes membros. Que saudades que eu já tenho.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Perdizes em Beja



No final de uma caçada às Perdizes em Beringel.
Gonçalo, Nelo e eu (da esquerda para a direita)
Dez 2004


Esta Zona de Caça tem-se revelado pela excelente organização dos seus fundadores e sócios bem como pela qualidade e quantidade de caça nela existente.

Parabéns à Organização!