domingo, setembro 18, 2005

Patos à noite - cada vez mais uma paixão


17-09-2005
FOTO 2 - No final do dia
6h30 da tarde: defenidas as portas nos açudes , saltámos para cima do Jeep do Guarda da Herdade e encaminhámo-nos para os locais. Não era necessário levar abrigo de caça, dado que Sr Leonel, o Guarda, havia construído 4 abrigos em cada lagoa. Com o sol a começar a cair no horizonte , o Alentejo ganha mais côr e percorrer aquele caminho na caixa do 4x4 , com a brisa pela frente durante alguns minutos , deixou-me como novo.
Chegados ao açude, fizémos um pequeno sorteio das 4 portas existentes e cada um foi para o seu lugar.
Restava-nos esperar...os "meninos".
O açude, quase vazio , demonstrava fortes vestígios da presença dos patos nas suas margens.
7h30: o dia caía forte e a mistura do dia com a noite, naquele local, é simplesmente maravilhoso. O amarelo torrado dos restolhos circundantes , o balir dos chocalhos do gado bovino nas redondezas , o silencio da transposição do dia para a noite só interrompido pelo esvoaçar dos pássaros procurando dormida urgente, e a lua enorme e amarelada a subir no horizonte , deixava-me perfeitamente extasiado com tudo o que de bom a Mãe Natureza tem para nos dar.
Tão diferentes que somos nós caçadores daqueles que procuram avidamente a confusão das catedrais do consumo - os centros comerciais.
A comunhão com a natureza, a melancolia do campo no entardecer, onde tudo e todos se preparam para adormecer, experimentado nestas circunstancias de aguardar uma chegada dos patos, é algo que não se esquece facilmente. Cada vez mais uma paixão.

8h30 da noite: a Lua vai já bem alta e a sua tonalidade bem mais branca inundando de luz os arredores. Os patos tardam e teimam em não aparecer. Que desilusão se não chegarem.

De repente um tiro longinquo, no outro açude da Herdade. A adrenalina sobe de nível. Há que estar estanto pois os patos podem mudar de um para outro açude.
Alguns minutos mais tarde, um esvoaçar forte por cima de mim e a aterragem de um ánade nas águas prateadas do açude.
Ali estava ele, mesmo em frente - a cerca de 3-4 metros- de uma das portas. Desconfiado, o pato arrancou da água e passou por cima da porta. 2 tiros e lá vai ele cheio de saúde. Um chorrilho de impropérios deve ter passado pela cabeça do homem, em ter o pato mesmo ali na sua frente a olhar para ele, e depois tê-lo deixado escapar. Que raiva !

E agora, será que vinham mais? A ansiedade da visita dos patos é grande. Àquelas horas só sentimos a sua chegada através do forte bater das asas e a sua queda na água.

Mais barulho de asas, levanto a cabeça e vejo a chegar um bando de 5 ou 6. Os vultos, a voarem por cima das nossas cabeças, em contraste com o céu clareado pela Lua, preparando-se para aterrar na água, é coisa que não esquecemos.
Mais uns tiros. cai um ou dois.

Alguns minutos mais tarde nova visita. Desta vez eram mais. Cerca de uma dúzia. Notável. Mais uns tiros . Alguns caiem na água, outros nos limos secos das margens e outros já bem fora do açude no campo.
No espaço de cerca de 45 minutos a história repetiu-se por diversas vezes.

Da minha parte, consegui abater 3. Muitos outros houve que falhei estrondosamente. Parece fácil o tiro, mas de facto não é. As distancias são calculadas erradamente e a dificuldade de seguir o pato com a caçadeira é elevada, falhando com frequencia.

Cerca das 9h30 , mais ou menos uma hora após o ocaso, o Guarda chega com o Jeep, direccionando as luzes para o açude, onde boiavam, já sem vida, alguns patos reais, machos e fêmeas.
Recolhidos os animais, regressámos, de noite, para o Monte , onde nos iríamos reunir com os caçadores do outro açude.

O quadro de caça final foi interessante, sendo que os patos seguramente ficaram a ganhar aos caçadores. Fugiram muitos mas muitos mais dos que os que foram abatidos.
Feitas as despedidas. Rumo a casa.

À noite deitei-me e adormeci suavemente a recordar todas as cenas deste outro magnífico dia de caça.
Até à proxima, Herdade de Alcobaça.