domingo, maio 29, 2005

2004 - 07 de Novembro


Tinha sido sorteado com uma caçada às perdizes numa Zona de Caça Municipal na região de Reguengos.

A acompanhar-me, no sorteio, esteve também o meu cunhado Manel.

Alguns telefonemas prévios para o responsável da zona de caça davam-me a entender que se tratava de uma boa herdade para a caça geral !

Foi, por isso, com muita expectativa, que na madrugada deste dia arrumámos as armas na carrinha , atrelámos o reboque com os perdigueiros e rumámos direitos a Reguengos de Monsaraz, para a Vendinha.

Às 7h da manhã , com muito frio, estacionámos na praça central da Vendinha e aguardámos a chegada dos restantes caçadores.

A Organização, liderada pelo Sr António Janeiro, esteve irrepreensível em todos os aspectos. Não só no Sorteio das linhas, mas também e sobretudo na mensagem de rigor e disciplina que deixaram aos caçadores que iriam caçar nesse dia.

Como tinha chovido muito na véspera, o Sr António Janeiro recomendou que fôssemos com ele no 4x4 e deu-nos boleia para a Herdade. Pelo caminho um Jeep mais incauto atascou-se em profundos socalcos de lama que marcavam o trajecto tendo de ser rebocado, atrasando um pouco o início da caçada.

Chegados ao local e dirigidas as últimas palavras e recomendações aos caçadores, foi feito o sorteio pelo método do cartucho, ficando, no entanto, as pontas da Linha destinadas a caçadores locais da organização já que os restantes não conheciam os terrenos onde se iria caçar.

O dia esteve muito bom. Frio e muito Sol são, quanto a mim, os melhores ingredientes para caçar à perdiz e à lebre.

A Herdade, toda ela é composta por longas planícies de pastos e algumas linhas de água e por uma parte significativa de montado e vinha, de relevo mais acentuado.

Logo de início 1 ou 2 lebres deixaram a “malta” com água na boca fugindo ao longe no meio dos pastos, sem deixar a mínima hipótese.

O meu cunhado Manuel depois de atravessar uma ribeira ( linha de água ) e subindo um cabeço com o sol pela frente, tropeçou com uma lebre que, descoberta, arrancou rápido para trás, direita à ribeira. Beneli ao ombro e, ao segundo disparo, vejo a lebre dar uma cambalhota tocada de morte. O Bugy, o seu perdigueiro português, já velhinho, abocanhou e rapidamente levou ao dono. Pendurado o animal, retomou a caçada.

Da minha parte já ia a pensar estar em dia não. Pelas 9h30 ainda nada tinha visto e a minha pointer também nada “tirava” daqueles pastos.

Cerca de 1 Km mais à frente aguardámos um pouco pelo enrolar da Linha pelo lado esquerdo.

Atravessámos uma cerca e, logo, dentro de pastos bem altos, a Gabi , com a brisa bem de frente, estaca em linda paragem. À medida que chego mais perto, a cadela apercebe-se e inicia a guia – aproximação, àquilo que eu pensava serem codornizes. Barriga quase a roçar o chão , a pointer avança cerca de 30-40 metros e aí pára definitivamente em espectacular atitude de felino.

Sentindo-se descoberta, arranca velozmente uma perdiz , a qual encaro calmamente com a Bereta , jogando-lhe 2 tiros. Ao segundo a perdiz leva chumbo e segue de asa aberta para poisar lá bem ao longe, tive mesmo alguma dificuldade em ver onde havia pousado.

A vontade era ir de imediato no seu encalço. No entanto, fazendo-o, iria colocar-me à frente da linha de caçadores pelo que decidi esperar pelo enrolar da linha. Estes 5/6 minutos de espera enervante, fizeram-me perder a perdiz já que, quando cheguei ao local onde ela pousou , nunca mais a vi , nem eu nem a Gabi ( nem sinal dela deu ).

Pelo caminho, os restantes confrades iam mais ou menos fazendo o gosto ao dedo, sobretudo com as lebres e as codornizes que havia em abundância.

No regresso atacámos o montado. O Manel , pela minha direita, arranca-me com um bando de 10 a 12 perdizes que me passam pela frente e de través, para o meu lado esquerdo, a uns 20 metros para lá de uma cerca . Dois tiros e , do bando, vejo uma a enrolar no ar e cair como um fardo no chão. A pointer, já muito matreira nestes lances, atravessa o aramado e vai cobrar a perdiz. Tratava-se de um macho com esporões.

Logo de seguida, da ponta esquerda da linha oiço 2 tiros. Vejo uma lebre a correr desalmadamente direito a mim, pelo meio dos juncos de uma ribeira, com as orelhas bem pregadas ao lombo. Corro direito à ribeira e páro. Sabia que ela iria passar por ali. Não tinha outro caminho.

Mas não passou. Que raio ? Dou mais meia dúzia de passos e digo à pointer para buscar: Busca Gabi !

Mais um ou dois minutos. Nada. De repente vejo a cadela marrada junto a um tufo de juncos. O coração parece que me quer saltar do peito. Que emoção.

Aí vai ela ! Arranca forte e depois de correr 15 a 20 metros prego-a no chão com chumbo 7.

A cadela faz o cobro e vejo que se trata de um lindo animal. Era daquelas lebres , uma fêmea, que têm o pelo com um castanho um pouco mais escuro ou mesmo ruivo.

Penduro-a com emoção e rapidamente junto-me à linha.

Mais uma vez vejo a pointer a dar-me sinal de perdizes. Esquartejava rapidamente um cabeço, com a cauda a abanar muito rápido e isso eu sabia que era sinal muito fresco de perdizes.

Nem mais. A cerca de 25/30 metros vejo nascer uma perdiz do chão, arrancando atravessada , com aquele cacarejar típico que me deixa sempre com o coração na boca. Encaro a escopeta e logo ao primeiro disparo derrubo-a no ar caindo bem redonda.

Gabi , dá ! Nem preciso de lhe dizer. É rara já a perdiz que salta, seja de onde for, que este animal não se aperceba dela. Alguns segundos mais tarde, regressa orgulhosa com a perdiz na boca.

No caminho de regresso mais tiros se ouvem e as perdizes e as lebres lá vão caindo, à mistura com algumas codornizes que, embora já com a época avançada, existem ali com muita abundancia.

Cerca das 13 horas chegávamos aos carros depois de termos percorrido seguramente alguns 10 Kms. As Herdades desta ZC são pouco acidentadas, pelo que, caçando em linha, fazem-se muitos kilómetros.

Apurado o saldo da caçada e feita a distribuição, que a todos agradou já que quase todos os confrades levaram caça nos limites máximos, regressámos á Vendinha.

Pelo caminho atravessámos o “livre” onde diversos caçadores calcorreavam os terrenos para a frente e para trás ( quantas vezes por dia ? ) sem grande proveito já que estes terrenos estão, como toda a gente sabe ( sobretudo nesta altura da época ) completamente esvaziados de caça.

Despedimo-nos com amizade do Sr António Janeiro. Será que em 2005 regressamos ? Vamos ver, a esperança morre em último lugar.

domingo, maio 08, 2005

Honoris Postumos



Entre os meus 13 e os 16 anos de idade íamos ,todos os anos,os meus Pais e irmão mais velho, durante o mês de Agosto, de férias para Sines, numa altura em que nenhuma das suas praias se encontrava ainda poluída e faziam, com certeza, concorrência àquelas que hoje são talvez dos principais destinos turísticos do mundo.

A caça às rolas abria sempre a 15 de Agosto, e era obrigatória a saída do parque de campismo, logo de madrugada, para nos deslocarmos à zona da Salvada, pequena povoação a sul da cidade de Beja.

Claro está que, naquele tempo, o terreno livre era pródigo em caça e, enquanto, o meu pai ia atirando ás rolas, era frequente vermos perdizes, lebres e coelhos deambulando por aqueles “cabeços”.

Foram férias que me deixaram muitas alegrias e sempre recordei com saudade aquelas saídas ás rolas de verão, ficando ma minha mente as herdades de cabeços pronunciados, com bastante mato e sobreiros e, aqui e ali, algumas zonas de restolhos de cereal, que convidavam as rolas a procriar e permanecer até ao regresso a terras de África.

No ano passado tive a possibilidade de, passados tantos anos, regressar à Salvada para uma caçada ás perdizes que me diziam tinham criado excepcionalmente bem, prometendo algumas horas de puro divertimento e adrenalina.

A 14 de Novembro 2004 saí de casa e, depois de recolher o meu cunhado em Oeiras, conduzimos até Beja, onde, entrando no seu interior , desviamos depois para a dita povoação da Salvada, ponto de encontro que havíamos combinado com o gestor da ZC , Sr José M., que já estava á nossa espera.

Dali até à zona de caça fizémos um bom par de dezenas de Km por meio das Herdades, o que mais se assemelhava a um safari em Africa, tal o estado dos caminhos.

Por fim chegámos e já lá se encontravam os restantes caçadores, à volta de uma fogueira que fazia frio, aguardando a chegada do Sr José M..

Cumprimentados os Confrades e defenidas as linhas – pelo método do sorteio – foi a altura de carregar as escopetas , soltar a minha inseparável pointer Gabi e iniciar a caçada.

Logo para começar, atacámos um cabeço onde, chegados ao topo, vi jeitos de, tão cansado estava, de me desequilibrar e voltar ao ponto de início.

“É lá, parece-me que aqui vou ter de sofrer as estopinhas” – pensei. No percurso, alguns torcazes saltavam da dormida de cima dos sobreiros, permitindo que, logo de manhã, alguém fizesse o gosto ao dedo, derrubando um ou outro.

Eu acompanhava o ponta esquerda já que não conhecia o local, e começámos então a caça às perdizes.

As que iam saltando, lançavam-se largas e sempre a coberto do sol, já que a direcção da linha rumava contra o sol, coisa que sempre me aborrece quando são combinadas estas voltas.

A paisagem era extasiante e quase inacreditável.

Intermináveis cabeços de giestas faziam-nos pensar 2 vezes , se devíamos continuar... ou se devíamos regressar ao carro. Claro está que a paixão e o vício das vermelhudas fazem-nos sempre ir mais além, fazendo-nos ate esquecer das distancias a que por vezes nos encontramos.

As perdizes, essas, brincavam connosco, saltando de uma encosta e voando , não para a seguinte, mas quase desaparecendo de vista, como se costuma dizer: para trás “ do sol posto”.

A Gabi não parava de me dar sinais, ora abanando a cauda naquele estilo tão peculiar dos perdigueiros ora baixando o ventre e trotando rápida pelo meio das giestas.

Já o sol ia alto e quente quando o Sr José M., fazendo-me sinal para parar, disse:

Fique agora aqui debaixo deste sobreiro, neste vale, que as outras linhas agora, supostamente, hão-de trazer-nos algumas perdizes.

Claro está que aproveitei de imediato para descansar da valente coça.

Despida a camisola e arreada a mochila que sempre levo nas caçadas de salto, com a camisa inundada em suor, sentei-me debaixo do dito sobreiro, a apanhar sol, com a Bereta nas pernas e carregada de chumbo 6 , 32 gramas.

Decorrido cerca de meia-hora, ouvi um tiro e vejo uma perdiz planar longe de asa aberta no outro lado da encosta.

Será que já aí vêm ? – pensei.

Mais 5 minutos e oiço meia duzia de tiros ao longe e de imediato vejo mais um par delas planando direito a mim pelo meu lado direito, de través. Levanto-me, encaro a espingarda , jogo os 2 tiros e as perdizes ...continuam pelo vale abaixo.

Se palavrões e impropérios as derrubassem, de certeza que nesse lance tinha feito doble.

Mais tiros e vêm mais meia dúzia delas. Passam por cima de mim. Mais 2 tiros. Não cai nenhuma.

“#$%&/; - .... para as perdizes !

E vêm mais duas... e vão mais 2 tiros e... nada!

Bom, isto hoje está mesmo para esquecer. O Sr José M. grita-me lá do alto para começar de novo a andar e virar para a minha direita, para iniciar o regresso aos carros.

Meu Deus, o que eu sofri até chegar ao carro. As pernas doíam-me quase até não poder. O coração saltava-me do peito tal o esforço desenvolvido. As perdizes, lá íam “espirrando” e no meio de muitas falhadas por clara falta de concentração devido ao forte esgotamento, lá consegui derrubar 3 no regresso, uma com a ajuda muito prestimosa da Gabi que a “marrou” dentro de uma ribeira seca.

Cheguei a ver bandos de 10 a 15 perdizes saltarem dos cabeços e voarem para tão longe que desafio qualquer um a, naqueles terrenos, ter vontade de ir atrás delas.

No final da caçada , 127 perdizes ( não me enganei não, foram cento e vinte e sete ) e 2 lebres compunham o tableau de chasse.

Para mim, honoris póstumos para 3 delas.

Magnificas terras de caça que, de tão agrestes e selvagens, albergam tantas perdizes. Para a organização, os meus parabéns. Escusado será dizer que, para o ano, lá estarei, quer para as perdizes quer para os javardos, sim, porque “rastos” frescos destes meninos era o que também lá não faltava.

Um abraço amigo Confrade José M. e obrigado pela oportunidade que me deu.

terça-feira, maio 03, 2005

Perdizes na Vendinha



Meu caros e Prezados amigos,

O meu coração está muito ligado ao Alentejo e à caça.

Esta ultima caçada, na Vendinha, às perdizes, recomenda "meiadúzia de linhas" quanto mais não seja para ficar ligado ao evento, para a posteridade.

Às 5horas da manhã do dia 27 Outubro 2004, estava a sair de S. João doEstoril, com o atrelado e a inseparável Gabi.

Uma paragem no Restelo para me encontrar com o resto do grupo "perdizeiro".

Às 7h30 da manhã, reuniamo-nos na Praça Central da Vendinha, para tomar um café quente e aquecer o estômago.De seguida, e satisfeitas as "formalidades", metemo-nos nos carros e fomos para o Monte , bem conhecido no local pela sua fama de bom sítio para dar uns tiros nos Javardos. Mas , desta vez a conversa era outra e tinha penas.Penas vermelhas e grande velocidade de voo.

Chegados ao Monte, aproveitámos para tomar um bom pequeno almoço, café com leite, chouriço, queijo regional e salpicão alentejano.

Composto o estômago, e esfregadas as mãos de nervoso miudinho,metemo-nos de novo nos carros e fomos para o local da "faena".

Soltos os cães, carregadas as espingardas e de cartucheiras à cinta,atacámos uns cabeços bem "avantajados" cobertos de pequenos matos e estevas. O Sol já ia alto e resolvi ficar só de T-Shirt.Aberta a linha ( 7 caçadores ) iniciámos, e logo de início, saltaram algumas perdizes que "abalaram" inquietas para outros cabeços.
Com o coração a bater mais forte e a esperança no coração, começaram a sair os gritos de encorajamento aos cães.

A primeira que derrubei veio de outro caçador e apareceu-me da esquerda para a direita aí a uns 30 metros de altura. Ao primeiro tiro caiu"redonda" fazendo a Gabi ( que tudo viu ) sair disparada para o cobro antes que ela se "pusesse nas asas". Entregou-ma na mão, com a cauda a abanar de contentamento.

Recarregada a Beneli, seguimos em frente. A segunda vem, mais tarde,também de outro caçador que fazia a ponta direita da linha e aparece-me quase de frente. Dois tiros e pregoa-a no chão. Esta requereu cerca de 5 minutos para a encontrar porque caiu no meio das giestas, mas, por fim, lá apareceu a irrepreensível Gabi com a perdiz na boca. Liinnnda cadela ! Dá ao dono, dá !Pendurada ( era a segunda ) seguimos em frente para não perder a linha que já ia algo distante.

A terceira mereceu medalha e foi assim: A cadela, com o vento de frente,parou de repente com o focinho no ar. Ao meu lado, o Biscaia dizia: Sergio,olhe a sua cadela que está marrada ! Fiz-lhe sinal que estava a controlar e, durante cerca de 50 metros, a Gabi foi atrás daquele cheiro a penas,que teimava em não aparecer. Pois não, a perdiz sentiu-se detectada e foi a patas em fuga debaixo das giestas até não poder mais. De repente, pensou que já não podia esconder-se mais e arrancou! Que voo...Dois tiros e trás ...no chão ! Abocanhada, foi-me entregue pela cadela que estava cheia de nervos.

3 foi a conta que Deus fez e chegávamos à hora do almoço. Carros com eles e atacámos um delicioso Cozido á Portuguesa no Monte com sobremesade Leite-creme, café e o scotch da ordem.

Sentámo-nos cá fora á sombra a descansar e eu aproveitei para lavar a Gabi que, entretanto e de manhã, resolveu deleitar-se rebolando num valente monte de bosta de vaca.

Vamos á 2º parte. Estomago cheio e com mais vontade de dormir debaixo de um sobreiro do que atacar as perdizes com o calor que se fazia sentir, lá nos enchemos de coragem para a tarde.Um meu amigo, o Nuno, que não tinha cão, adiantou-se na linha cerca de 80metros e o Eng Venancio que ia ao meu lado direito logo lhe disse; "Nuno,que estás a fazer rapaz ? Volta mais para trás" . "É pá, foi uma perdiz que eu vi ir para aquele sobreiro, vou lá ver dela". O que é certo é que aquela perdiz não apareceu mais para o Nuno. Apareceu foi para mim que por lá passei. De repente, vejo a Gabi virar-se ao vento e fazer uma "guia" de uma duzia de metros pela enconsta abaixo. Brrrrrrrrrrrrrr, que lá vai ela!! Trás, Trás, dois tiros e a perdiz estendida nos pastos.

A quarta foi numa ribeira que atravessámos, cheia de ervas altas. Reparo. Estava atento ao lance - cerca de um minuto tinha passado - quando, de um pequeno túnel de ervas - mesmo á minha frente, aparece a perdiz que,descoberta, arranca veloz. Derrubada ao primeiro tiro, é trazida pela Gabi,cheia de orgulho."Ena pá, valente cadela que você tem, assim vale a pena !" - Obrigado-respondi.

Acabada a tarde, montado o tableau de chasse e contados os ultimos pormenores da aventura, metemos as espingardas nos carros e regressámos, com a alma aberta depois de um excelente dia às perdizes.

Aquele abraço