quinta-feira, março 20, 2008

O Grupo dos Tordos















Depois de uma boa manhã de tordos .
Recompôr as forças sentados à volta de uma mesa.
Almoço no "Arrozinho de Feijão" - Serpa.
Encontramo-nos na próxima época.
Abraço a todos.
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sábado, março 15, 2008

O Rei do Bando

Perdizes

Nas Zonas de Caça Associativas do Crespo, a rainha é a nossa querida perdiz vermelha, ou patiroja como lhe chamam os nossos vizinhos espanhóis.

Quando em Junho os Perdigotos eclodem dos seus ovos e, poucos minutos depois, começam logo a debicar o chão em busca dos insectos que lhes são tão necessários à sua sobrevivência, não lhes passa sequer pela cabeça que elas são consideradas como uma das mais belas e esguias aves de caça do mundo.

Cedo começam a sucumbir aos seus predadores naturais e, por força de terem de se defender da adversidade natural do meio hostil em que vivem, adquirem um elevado nível de argúcia, destreza, bravura.

Formam então os seus bandos e normalmente vivem em comunidades de até 20 indivíduos nas planícies e montados de cereais de restolhos, em montados abertos e ladeiras por vezes pronunciadas, com matos rasteiros que lhes proporcionam o abrigo necessário quando perseguidas.

Principalmente o ouvido e a vista estão muito desenvolvidos na perdiz vermelha, tirando partido destes 2 sentidos para escapar aos seus inimigos mais comuns: a raposa ou zorra, os toirões, corvos e gaios, gatos selvagens e, por último, o seu pior predador: o homem !

E é sobretudo no início da temporada, quando os bandos de perdizes ainda não ouviram sequer estoirar a pólvora nem zunir à sua volta o chumbo das espingardas dos caçadores, que a sua caça no montado revela todos os seus atractivos.

Nenhum outro género de caça permite aos nossos perdigueiros realçar tão bem as suas qualidades e proporcionar-nos a nós seus donos a possibilidade dos chamados “dobles” ou “dobletes” que são, para mim, a essência e o nosso desafio final na caça à perdiz.

Nas nossas zonas de caça associativa, os terrenos são polivalentes isto é, tanto podemos encontrar extensões de pastos e cultivos, como também temos terras de pousio e algumas parcelas de pinhais. É, quanto a mim, pela sua biodiversidade agrícola, dos terrenos mais aptos de Portugal para a criação da perdiz e lebre.

A lebre, essa, nas nossas zonas de caça, pela sua capacidade de proliferação, acaba quase sempre por ser bastante prejudicial para as perdizes.

Por serem em grande número, e sobretudo por se movimentarem muito de noite em grandes correrias quando estão na época do cio, acabam por atropelar os bandos de perdizes que pernoitam e dormem descansadas em círculos no chão e, por isso, muitas vezes são obrigadas a levantar voo, tresmalhando-se na noite e indo embater contra os sobreiros e azinheiras das redondezas, ficando isoladas e mais à mercê dos seus predadores naturais.


Lebre


Faz muitos anos, adquiri o hábito de, cada vez que derrubava uma perdiz com um tiro e o perdigueiro a cobrava, não a pendurava no cinto sem antes verificar primeiro se tinha ou não dois ou três pontos pretos na parte debaixo das penas da cauda.

É que quando uma destas perdizes nascem e lhes aparece aparentemente por dádiva do Criador estes sinais nas penas da cauda, são automaticamente eleitas pelo resto do bando como o seu leader, como o seu Rei.

É esta a perdiz que não se alimenta enquanto as outras estão, nas primeiras horas da manhã, comendo e debicando o chão. Ela não. Ela encontra-se geralmente isolada, a poucos metros do bando, atenta, geralmente num ponto mais alto, em cima de uma rocha etc, olhando para o horizonte a ver se existe perigo eminente ou predadores á sua volta ou por cima. Só quando as suas irmãs acabam de comer é que ela então se alimenta.

Aposto que muitos dos nossos colegas e amigos confrades caçadores da Associação não sabem deste pormenor das pintas pretas. Sobretudo os mais novos.

Pois é, mas é verdade, o rei do bando é o mais sagaz, o mais esperto, o mais difícil de abater quando caçamos de salto, isolados ou em linha. Se conseguirmos tal façanha, quer nós quer o nosso perdigueiros estaremos de parabéns. Fomos mais espertos e vencemos o Rei.

Na caçada de 28 de Outubro, caçava como é habitual em linha e tinha como companheiros, do meu lado esquerdo o meu cunhado Manel e do lado direito o Bento Laneiro, com o seu magnífico epagneul breton que tanta caça lhe dá a matar.

Ao passar num moroço de carrascos, pedras e juncos, o pointer faz uma breve paragem, mas a atitude e o brilho dos seus olhos mostrou-me logo que o assunto era sério e que por ali haveria de certeza caça escondida.

Bem pensado bem acontecido. Não tinha decorrido de certeza um minuto quando vejo uma lebre a fugir por trás de mim, direita à parte mais suja do moroço. Tive que me empenhar e ter reflexos extremamente rápidos. Um tiro quase de instinto deixou-a estendida no esteval que já ia atravessando.

Cobra pachola ! – gritei ao pointer. Grito-lhe sempre com entusiasmo para ele cobrar pois noto no animal maior empenho em tal acto contra natura que é a de caçar e ter de me vir entregar a caça. Afinal o seu instinto básico é comê-la, certo ?

Cobrada a lebre , ouço 2 tiros do meu lado direito e vejo que o Bento Laneiro ou atirou a perdizes ou então tinha falhado aquela lebre matreira que vinha a 100 à hora pela encosta abaixo com as orelhas encostadas às costas. Um tiro bem apontado e a Benelli bem corrida e a lebre deu 2 cambalhotas. O Fox , o rafeiro do meu cunhado, ao ouvir o tiro, passou a correr mesmo por cima dela e nem disso se apercebeu.

Cobra pachola !– novo grito de alento e tenho, de novo o pointer a trazer-me a segunda lebre.

Mau, que isto já é peso a mais para as minhas 2 hérnias de estimação. Coloquei uma dentro da mochila que levava às costas e pendurei a outra por fora também da mochila, deixando o peso todo para os ombros e aliviando a carga na cintura – zona das hérnias.

Percorridas mais umas centenas de metros oiço 2 tiros pelo meu lado esquerdo. Olhó Manel – penso. Está a dar nelas !

Não estava. Falhando, observo que deixou fugir um par de perdizes que passaram aí uns 30 metros por cima de mim de asa aberta em voo planado e a grande velocidade. Faço logo o 1º tiro à 1ª quando ainda não estava na minha vertical, pelo canto do olho vejo que vai cair na encosta do lado de lá da ribeira, olho para a outra e penso – ainda vou a tempo – outro disparo com a minha automática e vejo a segunda perdiz a desplumar-se lá no alto e vir cair que nem um pombo torcaz quando vem em queda livre. Fantásticos estes cartuchos –penso para mim próprio – e, ao mesmo tempo, grito vitorioso, em sonoro eco, no meio do vasto montado: “dobleeete, dobleeete !!

Uma das perdizes cobro eu próprio – a segunda – e a primeira peço ao pointer para cobrar na zona onde havia mais ou menos caído. Orgulhoso, depois de algumas voltas dadas vejo-o a trazer-me a perdiz pendurada na boca. A cauda a abanar rapidamente era o sinal de que o meu canito estava – como eu – completamente radiante.

Ao pendurá-la, viro-a, espalho em leque as penas da cauda e…lá estavam, 3 pontos pretos, cada um na sua pena. Reparo nas patas e a perdiz tem 2 esporões, macho velho, cabeça grande e redonda, não tinha a menor dúvida: tinha caçado o REI DO BANDO. Obrigado Associação Caçadores do Crespo, pois há cerca de 10 anos que não matava um Rei do bando.
Perdiz

Abraço amigo

Sérgio Vieira