terça-feira, dezembro 01, 2015

Tributo à Inka




A Inka, de guarda ao seu espólio do dia.






























28-11-2015
Terras de Beja

Neste sábado havia marcado encontro na Herdade do Jarropal, em Mértola para uma caçada em linha, à perdiz, com os amigos GS e PL.

A Inka, estando em pleno cio e ainda por cima já nos seus dias férteis, levou-me a tomar a decisão e optei por substituir aquilo que iria ter no Jarropal pelo que tive na Gravia Grande.

Embora privando-me da companhia dos meus amigos, em boa hora o fiz.

Estas são verdadeiramente terras de caça, sobretudo para a praticar, de salto, com o nosso cão de parar, pela frente.

E aqui, hoje, vejo-me obrigado a fazer uma sincera e sentida homenagem de gratidão à  minha cadela, que esteve verdadeiramente endiabrada neste dia.

Todo o caçador tem a propensão de considerar que o seu companheiro de 4 patas é quase sempre melhor do que os outros.

A Inka, do canil Alão de São Bartolomeu, foi por mim repescada há 5 anos atrás, quando andava com uns tenros 5 meses de idade, perdida algures nas herdades de Ferreira do Alentejo, a caçar praticamente todos os dias, ao lado do dono da exploração da caça. Caçava para todos, dentro de toda a linha, era um pivot de equipa sem rei nem roque, sem instrução nenhuma de posicionamento e educação.

Depois de observar a cachorra, repito,com os seus 5 meses de idade, em 3 ou 4 lances, em que bateu claramente em mestria e nariz todos os outros cães que por ali caçavam, escolhi o meu alvo. Tinha de ter aquela cachorra para  mim.

Alguns meses mais tarde consegui-o, finalmente, e, desde então,  tornou-se  na minha inseparável companheira das lides cinegéticas . Já me desapontou algumas vezes na caça ( sim, quem não erra?) mais por impaciências do dono do que propriamente por erros dela, mas as alegrias sempre se sobrepuseram em larga escala às decepções, nesta arte, nesta escola de virtudes que é o acto de caçar, quer para o dono quer para o seu cão.

Quando para aqui venho, para a Salvada, procuro sobretudo o espaço, amplo,  que me é impossível encontrar na cidade, procuro também  o silêncio da natureza nestas terras do Alentejo, mas, sobretudo, procuro e geralmente alcanço uma profunda paz de espírito e tempo de sobra, para mim próprio.

Procuro esse desafio, de me superar a mim mesmo na luta pela descoberta e captura de caça, neste adiantado da época em que lutamos quase em igualdade de circunstâncias. Eu, com boas armas e munições, elas, as espécies, a caça, que já me reconhece à distancia, com toda a sua artimanha de camuflagem e fuga muito antes de poder chegar perto. É assim a caça de final de Outono, esperta, matreira, leva-nos muitas vezes quase ao desespero de a vermos escapulir-se deixando-nos muito poucas hipóteses de êxito.

Voltando ao meu dia de caça, a meio da manhã já tinha vindo ao carro largar 2 lebres, primeiro brilhantemente detectadas e depois levantadas pela Inka em olival velho que por ali conheço. Saíram as duas a jeito, a correr à frente dela e, confesso, também não deixei os meus dotes de atirador médio em mãos alheias. Dois passos rápidos ao lado, dois tiros bem centrados e, secos, deram a merecida resposta e oportunidade à cadela de fazer 2 belos cobros.

Na linha de caminho de ferro da povoação de Quintos, mudava de cartuchos na sobrepostos e fazia mais 3 codornizes.

Como sempre, um bando de perdizes daquelas que lá nasceram e que já "a sabem toda" colocaram-se longe, do outro lado da ribeira, intransponíveis. A sacrifício, ainda fui lá ver delas, mas devem ter-se entranhado dentro da terra, pois nem uma mais vi.

Baleizão estava ali pelo caminho e parei para comer uma bela sandes de presunto em pão alentejano e beber uma taça de vinho novo branco, Margaça, da zona de Pias,tudo rebatido com um café bem quente.

Até à hora do almoço, ainda visitei uns terrenos de lebres. Uma fugiu-me pela frente, longe, sem dar hipótese. Fiquei a vê-la correr até desaparecer no horizonte. A outra, ia completamente distraído a olhar para o chão quando olho para o lado e vejo-a a escapar-se, lesta, direi mesmo desalmadamente para dentro do olival do espanhol. Esta dava-me tiro, mas caça é isto, umas vezes saímos vencedores nos lances outras vezes o oposto, bem derrotados.

Ao almoço, com um magnífico dia de sol, frango assado no churrasco, com batata frita e salada de tomate maduro, com muita cebola. Uma taça de vinho tinto, um pudim de ovo e um café escaldado.

Aproveitei,  comprei e arrumei no porta bagagens 10 litros de azeite novo, puro e autêntico, do melhor que por ali se faz, por um dinamarquês sediado na região, proprietário de um belo monte, K. Larsen.

Depois de deixar alguma bagagem no Monte da Gravia, meti a espingarda e a cadela dentro da carrinha, mais um punhado de cartuchos e dirigi-me a uma conhecida zona de perdizes.

O sol já ía caindo ( agora às 17h30  é praticamente de noite) quando levantei o primeiro bando. Foram para muito longe, desanimei logo. Mesmo assim, fui-lhes no encalço. De caminho a Inka começa a dar-me sinais claros de perdizes por ali e por baixo de uma oliveira, com o vento de ventas, parou. Acelerei o passo e ao virar a oliveira a perdiz arranca, brava, escondendo-se com outra oliveira. Tiro rápido e veio cair na encosta. A braco corre, rápida, ao tombo e ainda ferida, consegue agarrá-la, segurá-la bem na boca, e trazer-me a ave à mão.

Já ia virando para o carro quando, numa cerca de arame farpado, encostada a uma lavrada enorme, mas com pastos só por baixo da aramada, a Inka descobre um "túnel" no pasto, mas baixa imediatamente o quadril e começa a abanar rapidamente o rabo, tipo pincel.. Não demorou quase nada, 4 ou 5 segundos depois o coelho estava a sair pela minha frente e a correr para trás, bem direitinho às tocas. Um tiro certeiro, a uns 25 metros e ficou redondo.

As fotos acima reflectem o que para mim foi um dia perfeito de caça.

Na primeira consegui com o telemóvel uma paragem da Inka a codorniz. Escusado será dizer que a ave fugiu. Mas eu consegui o que queria, A foto da paragem. Não é bem das melhores mas é para mais tarde recordar.

As seguintes são para a recordação.

Oh happy day !!

Abraço amigo.