quinta-feira, dezembro 11, 2014

À ANTIGA !




















Novembro 2014

Ainda antes de sair de Ourique, "cozinhei" a ideia de, no dia seguinte, fazer uma jornada de caça à "antiga".

Assim, entrei no Pingo Doce e comprei uma  garrafinha pequena de vinho tinto, alentejano, 4 pequenos pães de frutos secos com passas, um pequeno paio de porco preto, meio frango assado, 3 pastéis de bacalhau e 2 laranjas.

Meti tudo num saco, entrei na carrinha e fui direitinho para a Salvada, em Beja.

A noite caiu rápida e, antes mesmo de chegar à Salvada,  não resisti em encostar a carrinha, sair e, por alguns momentos, tentar conseguir uma boa foto da magnífica lua amarela que se ia levantando naqueles céus abertos do sul de Beja.

Nessa noite, após o jantar, no Toi, tão ou mais extenuada que eu, por termos andado diversas horas atrás das perdizes em Ourique, a Inka dormiu em cima do tapete, aos pés da minha cama, em profundo sono. Nem dei por ela.

De manhã, levantei-me, pernas doridas, soltei a cadela para ir para fora do monte fazer as necessidades e fui tomar um pequeno almoço que me desse força para o que pretendia: comi 3 ovos estrelados, uma chávena almoçadeira de café com leite, uma fatia de pão alentejano com doce de laranja, outras duas com fiambre e queijo e rematei, com um (dois) cafés bem fortes.

Meti-me dentro da carrinha, entusiasmado,  e fui para a ponta do couto, junto à Associativa de Quintos, nos terrenos da Engenheira. Deixei a carrinha perto de um pinheiro, junto à estrada, enchi um cinturão de cartuchos, meti mais meia dúzia nos bolsos e pendurei o bornal às costas com o que tinha comprado no Pingo Doce, na véspera.

Eram 08h30 da manhã. A missão estava definida: caçar todo o dia por aquelas extensas planícies e olivais, pousar o bornal e almoçar quando a fome o ditasse, tranquilamente encostado a um sobreiro ou a uma oliveira, com a Inka deitada ou sentada perto de  mim, e regressar ao carro quando a noite estivesse quase a cair, isto é, cerca das 17 horas da tarde.

Os meus genes de caçador solitário estavam totalmente despertos neste fim-de-semana e esta era uma experiência única que, no meu íntimo,  há muito desejava.

Recordo-me dos meus tempos de rapaz em que, sozinho, saía de madrugada de casa dos meus pais, com uma Ford Transit 'pão de forma' , com cortinas ( atente-se) e ia caçar lá para os lados de Mourão/Granja. Enfiava os cães lá para dentro, levava pombos correio para soltar e, sozinho, caçava todo o dia sem parar, fizesse sol, chuva, vento ou frio. Tal era o vício. a Ford Transit era tão antiga que para virar para a direita tinha que voltar o volante para a esquerda e vice-versa. Puro divertimento conduzir aquela máquina.

Regressando a Beja, a percha foi curta, um coelho, uma lebre e um perdigão velho.

Mas o divertimento foi grande. As codornizes continuam por ali e contentei-me em ir "amaciando o pelo à Inka", com festas e palavras de grande incentivo, sempre que ela as parava e eu as deixava ir, pois terminou a época da sua caça.

Ao meio-dia passei pelo Monte da Gravia, espingarda às costas e cadela atrás, e a mulher do Guarda, a Dona J. perguntava, admirada: então o carro? -lá o irei buscar mais tarde, agora vou dar uma volta para os lados do Guadiana.

Para aquela zona ainda não tinha ido caçar este ano. Num projecto de pinheiros, falhei, logo à entrada, com 2 tiros, um coelho que se escapuliu sem dar hipótese. Entretanto a Inka desapareceu e, já preocupado, comecei a chamá-la. A preocupação aumentou de grau ao não ver a cadela. Alguns minutos passam e oiço uma ladra dentro dos pinheiros - lá está ela- e pensei que corria atrás de algum coelho. Para minha admiração, vejo uma lebre a correr a sair do 'projecto' e, não fora a semi-automática com 3 tiros, àquela distancia não a teria segurado.

Finalmente! -disse. De manhã havia visto outras 2 e tinha falhado mais outra, com 3 tiros. Já pensava que terminaria o dia sem cobrar nenhuma.

Entretanto, vi o que me levou àquele lado. Um bando de perdizes selvagens. Ariscas, não deram "orelha" e fizeram um voo enorme. O sol começava a sua curva descendente. O suor, com o apressar do passo para as encontrar de novo, escorria pela testa e pescoço, em bica.

Cabeço após cabeço lá fui avançando, o vento pela frente, o sol pelas costas. Condições ideais para fazer um ataque ao bando. A Inka começa a dar-me sinais de rastos, desinquieta. Com o apito do colar, chamo-a, em silencio, para o pé de mim. "Ao pé" - disse-lhe, baixinho. A cadela com a cabeça alta, não me enganava, as perdizes estvam do outro lado do morro.

Com a cadela ao lado, chego ao topo do cabeço. "Brrrrrrrrrrr" -saltam 2 ou 3. Um tiro, dois tiros, nada. O cansaço pesava e o sol cavalgava já a esconder-se no horizonte. Subitamente, uma terceira levanta voo, possante,encaro a semi-automática e, quase sem apontar, disparo. A perdiz enrolou-se toda no ar e veio cair cá abaixo dentro da vala. Como a Inka tinha visto o lance, fiquei descansado. Alguns momentos depois estava na minha  mão, o perdigão da foto.

Tempo suficiente para uma foto com o telemóvel e regresso apressado ao carro.

Depois de voltar a sair do projecto de pinheiros, um coelho levanta-se do pasto e, já com alguma dificuldade, disparei, certeiro. Este já não ficou na foto. Foi pendurado, na cartucheira.

Por volta das 18 horas, noitinha, cheguei à carrinha. Arrumei a tralha toda, passei pelo Monte e, por volta das 21h00 já estava em casa, para jantar.

Percha: perdiz + lebre + coelho
Espécies vistas: 5 lebres, 3 coelhos, diversas codornizes, 2 ou 3 bandos de perdizes.
Kilómetros percorridos: não sei, muitos.
Tempo durante o dia: maravilhoso, céu limpo e um sol radioso.

Abraço amigo.