segunda-feira, outubro 18, 2010

A 1ª Caçada às Perdizes













Em Serpa, claro ! -como não podia deixar de ser.

Quinze dias antes não tinha conseguido fazer a minha tão almejada abertura às perdizes pelas razões que apontei na história anterior.

Agora, a ansiedade, como é natural, estava mais do que exponenciada.

Sábado a seguir ao almoço saímos ( "com o mais novo" ) e fizémo-nos à estrada direitinhos à A2, com desvio para Beja pouco depois da área de serviço de Grândola.

Em Santa Margarida do Sado, depois de vermos as obras da nova ponte, parámos para esticar as pernas e para o "condutor " beber um cafézinho. No local, grande azáfama, como de costume, diversos veículos com reboques repletos de cães de caça de todos os géneros e feitios ali estavam estacionados enquanto os caçadores, dentro dos Cafés, refrescavam as gargantas, pois a tarde estendia-se bastante quente.

Parámos por ali a observar uns podengos absolutamente lindos que estavam dentro de um dos ditos reboques quando, de repente, olho para a direita e vejo na estrada o Zé G e a R. a chegarem de carro. Não tínhamos nada combinado pelo que a satisfação do encontro, claro, foi grande. Parece que tínhamos combinado mas não, era pura coincidência. Sabíamos, isso sim, que ambos estávamos no caminho para Serpa e para Vila Nova de São Bento para caçarmos juntos no domingo, mas encontrarmo-nos ali não estava previsto.

Seguimos viagem e perto de Beringel, prenúncio de sorte, saltam-me do lado direito da estrada 4 perdizes que, com um possante voo arqueado, atravessaram a via por cima dos carros e passaram para o lado oposto da estrada,planando, de asas abertas, para irem pousar dentro dos restolhos. Bom sinal - pensei, pois nestas coisas sou sempre supersticioso. Amanhã até vêm ter comigo...!

Chegados a Serpa, fomos sem demora para a "nossa" Residencial Serpínia, ali, logo à entrada da cidade, e ainda consegui assistir, no terraço do quarto, em perfeito relaxe espiritual, ao espectáculo de cor do pôr do sol, que deixa-me sempre completamente extasiado .

Nessa noite fomos jantar a Pias, com o Zé G. e a R. , ao Restaurante O Adro - recomendo vivamente - do melhor que há na zona. À refeição, serviram-nos uns deliciosos secretos, retalhados em pequenos golpes, para lhe retirar toda a gordura à medida que vão sendo grelhados. O Zé, esse, encheu-se de coragem e, embora não fosse muito recomendável àquela hora da noite, comeu uma gravanzada, típico prato alentejano. O vinho, claro, de Pias, tinto. As sobremesas, de chorar e berrar por mais - uma deliciosa tarte de coco e um bolo encharcado.
O mais novo, claro, deliciou-se com um corneto de morango que é aquilo que ele mais gosta. Depois dos cafés, as despedidas e, enquanto o Zé seguiu para V N S Bento, eu e o Miguel, debaixo de um céu estrondosamente estrelado, fomos para Serpa, dormir o sono dos justos.

Desta vez sim, a noite foi muito bem dormida e às 06h00 da manhã estava já a pé, a tomar um belo dum duche quente. Quando saí da casa de banho já o Miguel estava dentro do quarto todo equipado com a roupa de caça . Se fosse lá em casa demoraria pelo menos 1/2 hora para se vestir. Aqui...nem lhe preciso dizer nada.

Depois de um opíparo pequeno almoço na residencial, fomos para o Monte do P, na Vendinha, ponto de encontro dos caçadores, nesse dia 17 de Outubro. O nevoeiro, cerrado, fazia antever algumas dificuldades iniciais, mas sabíamos que rapidamente desapareceria com os primeiros raios de sol. E o tempo, também o sabíamos, ia estar completamente solarengo e quente.

Calhou-me "em sorte" uma porta logo no início da caçada e, de seguida, iria fazer metade da jornada a caçar de salto.

Já na Porta ( a 4) , desembainhei a minha Benelli e carreguei-a com 3 cartuchos Rotweill, 36 gr, ch 6.

Alguns minutos depois já se ouviam os tiros e os gritos da linha de caça que, ao longe, vinha caçando direito a nós.

Um bando de 4 passam-me rápidas, por cima, golpe de rins e ao primeiro disparo derrubo a 1ª perdiz da temporada. Ui, que sensação fantástica. O Miguel vai a correr e cobra-me a perdiz. no tombo. Fêmea nova, de criação deste ano. Que pena - pensei - a minha paixão são os perdigões velhos.

Alguns minutos mais tarde "entra" outro bando de cerca de 7, de asas abertas, voam encosta abaixo direitas ao Ti Manel. Ainda assobio mas ele não não conseguiu ver ou ouvir. Acontece. Ganharam o dia e foram-se todas embora

Acabada a fase da porta, o Miguel ajuda um companheiro e , satisfeito, leva na mão, pela estrada abaixo, até às carrinhas, uma lebre morta "à porta".

Já em cima das carrinhas de caça, dirigimo-nos para outra zona da reserva. Aí iríamos caçar de salto. Era o que eu mais queria. Infelizmente acabámos por ir caçar para uma zona de matos cerrados, com tojo, giestas e pinheiros, pouco agradável de andar ( o Miguel que o diga). As perdizes , essas, iam escapando à nossa frente, em voos largos, sem darem tiro. Uma lebre salta no pasto, à frente dos pés do Miguel "Pai olha, olha!! - encaro a Benelli , deixei-a esticar-se aí uns 15 ou 20 metros e, tiro fácil, cambalhota e estendida no pasto. O Miguel, radiante, pega na lebre e prontifica-se logo para a levar.

Algumas centenas de metros mais à frente, já as perdizes começavam a "espirrar" para trás, com longos voos para terrenos que elas conhecem melhor. É aí a oportunidade única. que temos de lhes causar algumas baixas. Com 2 tiros "despego" uma lá do alto, pendura as duas patas e segue. Baixo-me, sigo-a com o olhar mas já não consegui ver onde caíu. Perdiz com as patas penduradas, onde cai, morre. Eu sabia. Por isso, enchi-me de coragem e com o suor a escorrer-me copiosamente pelo rosto e a empapar-me a camisa fomos procurá-la. O Luís, à minha esquerda, dizia-me: " Vieira, olhe que via-a cair aí no meio dos pinheiros, espere aí que dou-lhe aí uma ajuda". A cadelita dele, uma bela perdigueira castanha escura, pouco precisou de procurar. Um ou dois minutos após, aparece com a perdiz na boca. Macho grande com esporão saliente, belo exemplar. "Obrigado Luís" - agradeci.

À frente, novo lance. Perdiz fugida da linha, passa-me por cima da esquerda para a direita, disparo a cerca de 20 metros de altura e cai redonda, "sem espinhas"-como se costuma dizer. O Miguel corre barranco acima e vai apanhá-la.

Ainda outro lance. Lebre fugida da linha, com 2 tiros falhados do Luís, passa por trás de mim a uns 40 metros. Benelli a funcionar, um disparo e a lebre dá um salto ficando estendida no mato. O Miguel corre. A lebre, macho grande, esperneia forte e vejo que o Miguel está com dificuldades para a segurar. Poiso a espingarda, corro, pego-lhe pelas patas de trás e ensino-lhe. "Miguel, na caça, aos animais devemos evitar que sofram desnecessariamente. O bom caçador, após a captura, termina imediatamente com o sofrimento de um animal que esteja ferido. "Vou explicar-te como se faz. Com um golpe fatal , com a mão em cutelo, por trás das orelhas , a lebre morre de imediato. "Vês, assim não sofre Miguel, podes levá-la".

Naqueles cerros desfrutei muito ainda e pude assistir à fuga de diversos bandos que por ali estavam encurralados. Talvez perto de 30 ou 40 perdizes conseguiram a fuga. Abatidas, pouco mais de meia dúzia, se tanto.

Regressados ao Monte, tirei ainda uma última foto com a caça pendurada e, de seguida, separou-se a caça em montes e procedeu-se à distribuição por todos os caçadores.

Da minha parte, abatidas, pendurei 2 lebres e 3 perdizes.

Depois, fomos todos almoçar.

O almoço, esse, uma iguaria meus caros. Achigâs grelhados, de bom tamanho, pescados na véspera, em Espanha, algures nos açudes, pelo presidente da associação, Zé T.

Logo de manhã , na cozinha do Monte, tinham sido estripados e temperados com sal. Para os comer, foi servido com um molho especial feito com ( francamente não sei o quê) mas com ervas e especiarias. Do outro mundo!

Depois do almoço, fui espreitar o Miguel. Estava a brincar com os cães. Fez um amigo, o João , filho do B. e, por isso, também para eles miúdos, o divertimento é grande e intenso. Fui dar com eles dentro da caixa aberta de uma carrinha, um a jogar psp e o outro a dar tiros com uma pistola de ar, de brincar. Os cães do Luís, cansados, claro, não lhes ligavam patavina, dormindo profundamente.

Estripadas as lebres e os coelhos que levámos, já na esplanada do café do Luís da Vendinha, ainda esperámos pelo Zé S. e pelo G. que tinham ido para Mértola, às perdizes.

Saí às 17h30 e cheguei às 20h15 a S João do Estoril. No caminho, o Miguel, dormiu profundamente ao meu lado, todo o caminho.

Às 09h30 eu e o Miguel já dormíamos profundamente nas nossas camas. Segunda-feira era dia de trabalho para mim, dia de escola para ele.

Que belo fim-de-semana!. Que belo dia de caça !

Abraço amigo.
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domingo, outubro 03, 2010

Aquele almoço de sábado ...

No fim de semana anterior todo o material e equipamento das lides da caça encontrava-se já religiosa e escrupulosamente guardado na garagem, preparado para a grande Abertura Geral , que se realizaria no fim de semana seguinte. Como todos nós caçadores sabemos, este é, sem excepção, o dia mais esperado e desejado pelos caçadores ao longo do ano, sobretudo enquanto atravessamos o "deserto" do defeso.

Nos dias que antecedem este acontecimento anual, a ansiedade é bastante grande e vai mesmo aumentando à medida que o famigerado dia se aproxima. Nestas noites, já nos vamos deitando a sonhar com perdizes a saltar de dentro das giestas , a derrubar lebres que nos saltam sem esperarmos, aos pés, quando atravessamos os pastos ainda acastanhados pelo sol do verão.

Este ano, neste fim de semana , resolvi combinar uma de pesca e de caça. A meteorologia apontava claramente para um dia de sol no sábado ( neste dia iríamos pescar um pouco tentando um ou dois achigãs ) e para um domingo chuvoso por todo o país, incluindo o concelho de Serpa, claro.

Saí no sábado de manhã, pelas 09h30, com o mais novo ( sempre pronto para acompanhar o Pai, onde já sabe que, nestes fins de semana, esperam-no as mais diversas peripécias no campo, que , na cidade, não consegue ter ao seu alcance).

Já pelo meio-dia, combinámos almoçar primeiro e, a seguir, iríamos, então, tentar as margens do alqueva , lá para os lados de Mourão.

Parámos, por isso, em Reguengos de Monsaraz e entrámos num restaurante que desconhecíamos, onde, no exterior, se grelhavam frangos na brasa. - é já aqui Miguel ! - disse, inspirado pelo magnífico cheirinho da carne de frango a grelhar. Para o Miguel serviram uns bifinhos com cogumelos que é o que ele mais aprecia. Um bom piri-piri e uma cerveja gelada deixaram-me, no final, radiante da vida.

Após o almoço ala que se faz tarde, seguimos para as margens do grande lago. Ali, montámos as canas do achigã, estivemos cerca de 1 hora a fazer lançamentos com amostras de todas as formas, feitios e cores, mas os peixes, esses, parece que andam com a barriguinha cheia, não lhes pegam de forma nenhuma. Vêm dos pequeninos, à dúzia, atrás das amostras mas só isso e pouco mais.

"Vamos para Serpa, para o Monte do Zé S. ?" - perguntei-lhe. A resposta, claro, não se fez esperar: " VAMOS!!!

Arrumadas as canas na carrinha, parámos em Safara e na bomba da gasolina à entrada comprei 2 gararfas de litro e meio de água geladinha, pois fazia bastante calor. Saciada a sede seguimos caminho.

Antes de Serpa, parámos no Monte das Oliveiras onde fui comprar 2 queijos da região - um curado e outro de meia cura. Quando os amigos confrades quiserem comprar queijo de Serpa, comprem-no aqui, pois é garantia de alta qualidade.Fica ali, entre Vila Nova de S Bento e Serpa, bem assinalado, no lado direito da estrada. Nesta Herdade, o Miguel entreteve-se a fotografar um par de coelhos à entrada das tocas e um bando de 8 perdizes que comiam tranquilamente ao final da tarde, encostadas a uma cerca, mal imaginando o que estava para suceder no dia seguinte.

Quando chegámos ao Monte o Zé apareceu poucos minutos depois e, claro, com o seu filho mais novo, começou logo a brincadeira. Primeiro brincaram com os cachorros, depois com as galinhas - debaixo do telheiro, de cócoras, procuraram pelos ovos caseiros- e, de seguida, foram ver os cavalos ( o Baunilha) e o pónei ( Lino). Demos o comer aos cães de coelhos e aos perdigueiros e , fazendo-se já tarde, fomos embora para Serpa, não sem antes combinarmos o encontro para o jantar, no restaurante " A Piscina" , às 20h30.

Em Serpa, na Residencial, tomámos um duche bem quente e, depois de mudarmos de roupa , fomos jantar . Antes disso, já ia sentido um enjoo persistente, com o sabor do frango do almoço a subir-me constantemente à boca, num gosto e travo amargos. Para a refeição, escolhi um bife da vazia, grelhado, bem passado, que, apesar do excelente aspecto que tinha, já só consegui engolir um pequeno naco... o resto foi para dentro, para a cozinha.

Escusado será dizer que durante a noite não preguei olho, com vómitos quase constantes, dores no corpo e , embora não a tenha medido, sentia mesmo uma ponta de febre. Às 04h30 da manhã tomei a decisão: não estava de todo em condições de ir à caça. Levantei-me, fui à recepção e disse à D Teresa para não me despertar à hora combinada. Quando entrei de novo no quarto o Miguel estava já sentado na cama, acordado, e tive de lhe dizer que não conseguia ir à caça. "Eu não acredito nisto" - dizia-me, profundamente desiludido.

Mas mais desiludido que eu não estava de certeza, pois afinal tinha esperado todo o ano por aquele dia.

Enviei os sms necessários aos meus amigos e companheiros de caça naquele dia, que ainda insistiram para eu ir, que me passava depois a má disposição, que podia ir para uma porta etc. Mas só quem se sente como eu sentia é que poderia saber que não conseguiria ter equilíbrio físico e mental para conseguir aguentar uma manhã de caça naquele estado.

A partir das 6h30 consegui, finalmente, adormecer um pouco, atè às 09 da manhã.

Às 09h30 estávamos a tomar o pequeno almoço -eu limitei-me a um chá, uma maçã e uma bolacha integral. O Miguel, claro, para meu grande prazer e regalo, comeu lindamente.

Arrumámos a bagagem na carrinha e saímos de Serpa pelas 10h30 direitos a Lisboa.

Nas planícies que atravessávamos os caçadores e seus perdigueiros batiam as grandes extensões de restolhos, com perdizes e lebres penduradas. O céu carregado de nuvens baixas e o vento, esse, soprava forte e ameaçador, de sul, fazendo antever o grande temporal que chegaria da parte da tarde.

Na zona de caça onde o Zé G e o Zé S caçavam naquela altura, iam dando bem conta delas. Ao final da manhã, apesar da zona escolhida não ser das melhores da herdade, salvo erro, o Zé S tinha no bornal 4 perdizes e 2 lebres e o Zé G. 2 de cada espécie.

Abertura para não recordar mais tarde. Do frango, esse, de certeza que não me esquecerei.

Abraço amigo