domingo, outubro 03, 2010

Aquele almoço de sábado ...

No fim de semana anterior todo o material e equipamento das lides da caça encontrava-se já religiosa e escrupulosamente guardado na garagem, preparado para a grande Abertura Geral , que se realizaria no fim de semana seguinte. Como todos nós caçadores sabemos, este é, sem excepção, o dia mais esperado e desejado pelos caçadores ao longo do ano, sobretudo enquanto atravessamos o "deserto" do defeso.

Nos dias que antecedem este acontecimento anual, a ansiedade é bastante grande e vai mesmo aumentando à medida que o famigerado dia se aproxima. Nestas noites, já nos vamos deitando a sonhar com perdizes a saltar de dentro das giestas , a derrubar lebres que nos saltam sem esperarmos, aos pés, quando atravessamos os pastos ainda acastanhados pelo sol do verão.

Este ano, neste fim de semana , resolvi combinar uma de pesca e de caça. A meteorologia apontava claramente para um dia de sol no sábado ( neste dia iríamos pescar um pouco tentando um ou dois achigãs ) e para um domingo chuvoso por todo o país, incluindo o concelho de Serpa, claro.

Saí no sábado de manhã, pelas 09h30, com o mais novo ( sempre pronto para acompanhar o Pai, onde já sabe que, nestes fins de semana, esperam-no as mais diversas peripécias no campo, que , na cidade, não consegue ter ao seu alcance).

Já pelo meio-dia, combinámos almoçar primeiro e, a seguir, iríamos, então, tentar as margens do alqueva , lá para os lados de Mourão.

Parámos, por isso, em Reguengos de Monsaraz e entrámos num restaurante que desconhecíamos, onde, no exterior, se grelhavam frangos na brasa. - é já aqui Miguel ! - disse, inspirado pelo magnífico cheirinho da carne de frango a grelhar. Para o Miguel serviram uns bifinhos com cogumelos que é o que ele mais aprecia. Um bom piri-piri e uma cerveja gelada deixaram-me, no final, radiante da vida.

Após o almoço ala que se faz tarde, seguimos para as margens do grande lago. Ali, montámos as canas do achigã, estivemos cerca de 1 hora a fazer lançamentos com amostras de todas as formas, feitios e cores, mas os peixes, esses, parece que andam com a barriguinha cheia, não lhes pegam de forma nenhuma. Vêm dos pequeninos, à dúzia, atrás das amostras mas só isso e pouco mais.

"Vamos para Serpa, para o Monte do Zé S. ?" - perguntei-lhe. A resposta, claro, não se fez esperar: " VAMOS!!!

Arrumadas as canas na carrinha, parámos em Safara e na bomba da gasolina à entrada comprei 2 gararfas de litro e meio de água geladinha, pois fazia bastante calor. Saciada a sede seguimos caminho.

Antes de Serpa, parámos no Monte das Oliveiras onde fui comprar 2 queijos da região - um curado e outro de meia cura. Quando os amigos confrades quiserem comprar queijo de Serpa, comprem-no aqui, pois é garantia de alta qualidade.Fica ali, entre Vila Nova de S Bento e Serpa, bem assinalado, no lado direito da estrada. Nesta Herdade, o Miguel entreteve-se a fotografar um par de coelhos à entrada das tocas e um bando de 8 perdizes que comiam tranquilamente ao final da tarde, encostadas a uma cerca, mal imaginando o que estava para suceder no dia seguinte.

Quando chegámos ao Monte o Zé apareceu poucos minutos depois e, claro, com o seu filho mais novo, começou logo a brincadeira. Primeiro brincaram com os cachorros, depois com as galinhas - debaixo do telheiro, de cócoras, procuraram pelos ovos caseiros- e, de seguida, foram ver os cavalos ( o Baunilha) e o pónei ( Lino). Demos o comer aos cães de coelhos e aos perdigueiros e , fazendo-se já tarde, fomos embora para Serpa, não sem antes combinarmos o encontro para o jantar, no restaurante " A Piscina" , às 20h30.

Em Serpa, na Residencial, tomámos um duche bem quente e, depois de mudarmos de roupa , fomos jantar . Antes disso, já ia sentido um enjoo persistente, com o sabor do frango do almoço a subir-me constantemente à boca, num gosto e travo amargos. Para a refeição, escolhi um bife da vazia, grelhado, bem passado, que, apesar do excelente aspecto que tinha, já só consegui engolir um pequeno naco... o resto foi para dentro, para a cozinha.

Escusado será dizer que durante a noite não preguei olho, com vómitos quase constantes, dores no corpo e , embora não a tenha medido, sentia mesmo uma ponta de febre. Às 04h30 da manhã tomei a decisão: não estava de todo em condições de ir à caça. Levantei-me, fui à recepção e disse à D Teresa para não me despertar à hora combinada. Quando entrei de novo no quarto o Miguel estava já sentado na cama, acordado, e tive de lhe dizer que não conseguia ir à caça. "Eu não acredito nisto" - dizia-me, profundamente desiludido.

Mas mais desiludido que eu não estava de certeza, pois afinal tinha esperado todo o ano por aquele dia.

Enviei os sms necessários aos meus amigos e companheiros de caça naquele dia, que ainda insistiram para eu ir, que me passava depois a má disposição, que podia ir para uma porta etc. Mas só quem se sente como eu sentia é que poderia saber que não conseguiria ter equilíbrio físico e mental para conseguir aguentar uma manhã de caça naquele estado.

A partir das 6h30 consegui, finalmente, adormecer um pouco, atè às 09 da manhã.

Às 09h30 estávamos a tomar o pequeno almoço -eu limitei-me a um chá, uma maçã e uma bolacha integral. O Miguel, claro, para meu grande prazer e regalo, comeu lindamente.

Arrumámos a bagagem na carrinha e saímos de Serpa pelas 10h30 direitos a Lisboa.

Nas planícies que atravessávamos os caçadores e seus perdigueiros batiam as grandes extensões de restolhos, com perdizes e lebres penduradas. O céu carregado de nuvens baixas e o vento, esse, soprava forte e ameaçador, de sul, fazendo antever o grande temporal que chegaria da parte da tarde.

Na zona de caça onde o Zé G e o Zé S caçavam naquela altura, iam dando bem conta delas. Ao final da manhã, apesar da zona escolhida não ser das melhores da herdade, salvo erro, o Zé S tinha no bornal 4 perdizes e 2 lebres e o Zé G. 2 de cada espécie.

Abertura para não recordar mais tarde. Do frango, esse, de certeza que não me esquecerei.

Abraço amigo