segunda-feira, dezembro 28, 2015

Caçar em Mértola



















Herdade de Santa Maria
São João dos Caldeireiros

À medida que a época de caça avança rapidamente para o seu termo, é normal que os resultados e os quadros de caça sejam cada vez mais parcos, mais escassos. O contrário é que seria anormal e, infelizmente, vemos isso muitas vezes.

Nesta simpática herdade onde faço algumas boas caçadas por época, tenho muita dificuldade em bem expressar o que me atrai para estas bravias terras.

As peças de caça são de inegável e até invejosa qualidade sobretudo quando comparadas com outros coutos, quase vizinhos e onde abastada gente "caça".

A foto de paisagem que acima coloco não reflecte, de modo algum, as dificuldades, por vezes extremas com que nos deparamos nalgumas zonas da herdade, sobretudo nos projectos de pinheiros, e na caça à perdiz.

Aqui, as perdizes quando embatem no chão não soltam penas como é tão característico das perdizes de cativeiro. Os coelhos, quando desalojados pelos cães, fogem desalmadamente para as suas tocas e não são daqueles que correm por todos os lados mas não sabem onde esconder-se.

Nesta altura da época, somente algumas portas bem colocadas garantem mais abates e, portanto, a possibilidade de atingir, no final, o cupo instituído pelos donos da exploração de caça.

De salto, nesta altura da época, se derrubar  1 ou 2 destas aves já é um bom resultado. Para muitos, para aqueles que só gostam de dar tiros mas que de caçadores pouco terão, não é o local aconselhado para a prática "do salto"

Agora para aqueles que gostam do desafio de conseguir o cupo de perdizes, com o perdigueiro pela frente, como eu tanto gosto, há algo que, como acima refiro, não consigo explicar a atracção de aqui vir caçar.

Depois do dia de caça, pernoitar e jantar em Mértola, permite-nos sempre, trazer de recordação uma foto daquela localidade que, à noite mais parece um presépio iluminado.

Dia 09 de Janeiro será a última jornada na Herdade de Santa Maria.

Um abraço amigo.







sábado, dezembro 12, 2015

Não desfazendo....




















05-1-2015
Salvada - Beja


Bom, não desfazendo nalgumas zonas de caça que, seguramente, serão bem melhores que esta, as fotos acima acabam por serem bem atípicas e desenquadradas da realidade desta caçada..

Só posso ter o grato prazer de dizer que, e aqui convenhamos referir que é obra, 2 amigos ( 2 espingardas) com os seus 2 bons cães de caça ( e seguramente que haverão muitos e bem melhores cães de caça que os nossos... ) nesta zona de caça fizeram umas belas perchas cujo total alcançou, no conjunto dos 2 dias, se não me falha a memória,  11 lebres, 4 coelhos, 4 perdizes, 1 pato e 1 torcaz, ou seja 10 peças por cada espingarda no conjunto dos 2 dias, 5 por dia/caçador. Falamos de caça de salto, não em linha ...!

Isto, em Dezembro, já praticamente a caminho do final da época.

Mas ainda vou fazer mais umas contas.

É que as fotos acima foram tiradas a meio da manhã do 1º dia ! - tenho de refazer os números.

Infelizmente, o autor teve o azar de, logo no 1º dia, sábado, de manhã, contrair uma lesão no tornozelo, e, no dia seguinte, domingo, com muita tristeza minha, tive de regressar a casa pois o inchaço e as dores já eram insuportáveis.

Quer isso dizer que, não tendo tido a oportunidade de tirar uma foto final no sábado à tarde, já por manifesta incapacidade física, ainda, nesse mesmo dia, apanhámos, os dois, noutras zonas do couto mais "perdiceras" como dizem os nossos vizinhos e confrades espanhóis, ainda mais uma lebre e 4 perdizes.

Só posso adiantar que é angustiante a cadela estar a dar com os rastos das perdizes, adiantar-se logo mais rápido como é normal, e o dono "sem perna" para lhe acompanhar o andamento. Era vê-la dobrar os cabeços e, quando eu devia estar em cima dela para conseguir atirar às perdizes, não o conseguia fazer - só ouvia as aves do outro lado a levantar voo e nem sequer as via ou sabia para onde iam.

No domingo, no dia do meu regresso, sobrou  tempo, pelas 08h00 da manhã, de conseguir sair do carro, a algum custo, e captar ( última foto de baixo) o espesso e sempre misterioso manto de nevoeiro que tapava quase por completo aquelas terras.

Pois durante esse dia, o meu amigo PL e o seu inseparável 'Sado' ainda conseguiu um cupo de + 2 lebres + 2 coelhos+ 1 pato + 1 torcaz.

Assim "brincamos" por estas fantásticas terras de caça que, comparadas com muitos coutos em Mértola, onde usualmente se caça em linha, acabam por ser individualmente mais produtivas e dão muito mais "escola" aos cães..

Entramos na quadra natalícia e o tempo vai sendo agora mais para a família.

Para o ano, com os desenvolvimentos ali existentes dos projectos de rega do Alqueva, adivinho, pelo tipo de culturas e plantações previstas,  que vamos ter por aqui mais codornizes, mais lebres e, se o tempo correr de feição, mais coelhos e perdizes.

Um abraço amigo.

terça-feira, dezembro 01, 2015

Tributo à Inka




A Inka, de guarda ao seu espólio do dia.






























28-11-2015
Terras de Beja

Neste sábado havia marcado encontro na Herdade do Jarropal, em Mértola para uma caçada em linha, à perdiz, com os amigos GS e PL.

A Inka, estando em pleno cio e ainda por cima já nos seus dias férteis, levou-me a tomar a decisão e optei por substituir aquilo que iria ter no Jarropal pelo que tive na Gravia Grande.

Embora privando-me da companhia dos meus amigos, em boa hora o fiz.

Estas são verdadeiramente terras de caça, sobretudo para a praticar, de salto, com o nosso cão de parar, pela frente.

E aqui, hoje, vejo-me obrigado a fazer uma sincera e sentida homenagem de gratidão à  minha cadela, que esteve verdadeiramente endiabrada neste dia.

Todo o caçador tem a propensão de considerar que o seu companheiro de 4 patas é quase sempre melhor do que os outros.

A Inka, do canil Alão de São Bartolomeu, foi por mim repescada há 5 anos atrás, quando andava com uns tenros 5 meses de idade, perdida algures nas herdades de Ferreira do Alentejo, a caçar praticamente todos os dias, ao lado do dono da exploração da caça. Caçava para todos, dentro de toda a linha, era um pivot de equipa sem rei nem roque, sem instrução nenhuma de posicionamento e educação.

Depois de observar a cachorra, repito,com os seus 5 meses de idade, em 3 ou 4 lances, em que bateu claramente em mestria e nariz todos os outros cães que por ali caçavam, escolhi o meu alvo. Tinha de ter aquela cachorra para  mim.

Alguns meses mais tarde consegui-o, finalmente, e, desde então,  tornou-se  na minha inseparável companheira das lides cinegéticas . Já me desapontou algumas vezes na caça ( sim, quem não erra?) mais por impaciências do dono do que propriamente por erros dela, mas as alegrias sempre se sobrepuseram em larga escala às decepções, nesta arte, nesta escola de virtudes que é o acto de caçar, quer para o dono quer para o seu cão.

Quando para aqui venho, para a Salvada, procuro sobretudo o espaço, amplo,  que me é impossível encontrar na cidade, procuro também  o silêncio da natureza nestas terras do Alentejo, mas, sobretudo, procuro e geralmente alcanço uma profunda paz de espírito e tempo de sobra, para mim próprio.

Procuro esse desafio, de me superar a mim mesmo na luta pela descoberta e captura de caça, neste adiantado da época em que lutamos quase em igualdade de circunstâncias. Eu, com boas armas e munições, elas, as espécies, a caça, que já me reconhece à distancia, com toda a sua artimanha de camuflagem e fuga muito antes de poder chegar perto. É assim a caça de final de Outono, esperta, matreira, leva-nos muitas vezes quase ao desespero de a vermos escapulir-se deixando-nos muito poucas hipóteses de êxito.

Voltando ao meu dia de caça, a meio da manhã já tinha vindo ao carro largar 2 lebres, primeiro brilhantemente detectadas e depois levantadas pela Inka em olival velho que por ali conheço. Saíram as duas a jeito, a correr à frente dela e, confesso, também não deixei os meus dotes de atirador médio em mãos alheias. Dois passos rápidos ao lado, dois tiros bem centrados e, secos, deram a merecida resposta e oportunidade à cadela de fazer 2 belos cobros.

Na linha de caminho de ferro da povoação de Quintos, mudava de cartuchos na sobrepostos e fazia mais 3 codornizes.

Como sempre, um bando de perdizes daquelas que lá nasceram e que já "a sabem toda" colocaram-se longe, do outro lado da ribeira, intransponíveis. A sacrifício, ainda fui lá ver delas, mas devem ter-se entranhado dentro da terra, pois nem uma mais vi.

Baleizão estava ali pelo caminho e parei para comer uma bela sandes de presunto em pão alentejano e beber uma taça de vinho novo branco, Margaça, da zona de Pias,tudo rebatido com um café bem quente.

Até à hora do almoço, ainda visitei uns terrenos de lebres. Uma fugiu-me pela frente, longe, sem dar hipótese. Fiquei a vê-la correr até desaparecer no horizonte. A outra, ia completamente distraído a olhar para o chão quando olho para o lado e vejo-a a escapar-se, lesta, direi mesmo desalmadamente para dentro do olival do espanhol. Esta dava-me tiro, mas caça é isto, umas vezes saímos vencedores nos lances outras vezes o oposto, bem derrotados.

Ao almoço, com um magnífico dia de sol, frango assado no churrasco, com batata frita e salada de tomate maduro, com muita cebola. Uma taça de vinho tinto, um pudim de ovo e um café escaldado.

Aproveitei,  comprei e arrumei no porta bagagens 10 litros de azeite novo, puro e autêntico, do melhor que por ali se faz, por um dinamarquês sediado na região, proprietário de um belo monte, K. Larsen.

Depois de deixar alguma bagagem no Monte da Gravia, meti a espingarda e a cadela dentro da carrinha, mais um punhado de cartuchos e dirigi-me a uma conhecida zona de perdizes.

O sol já ía caindo ( agora às 17h30  é praticamente de noite) quando levantei o primeiro bando. Foram para muito longe, desanimei logo. Mesmo assim, fui-lhes no encalço. De caminho a Inka começa a dar-me sinais claros de perdizes por ali e por baixo de uma oliveira, com o vento de ventas, parou. Acelerei o passo e ao virar a oliveira a perdiz arranca, brava, escondendo-se com outra oliveira. Tiro rápido e veio cair na encosta. A braco corre, rápida, ao tombo e ainda ferida, consegue agarrá-la, segurá-la bem na boca, e trazer-me a ave à mão.

Já ia virando para o carro quando, numa cerca de arame farpado, encostada a uma lavrada enorme, mas com pastos só por baixo da aramada, a Inka descobre um "túnel" no pasto, mas baixa imediatamente o quadril e começa a abanar rapidamente o rabo, tipo pincel.. Não demorou quase nada, 4 ou 5 segundos depois o coelho estava a sair pela minha frente e a correr para trás, bem direitinho às tocas. Um tiro certeiro, a uns 25 metros e ficou redondo.

As fotos acima reflectem o que para mim foi um dia perfeito de caça.

Na primeira consegui com o telemóvel uma paragem da Inka a codorniz. Escusado será dizer que a ave fugiu. Mas eu consegui o que queria, A foto da paragem. Não é bem das melhores mas é para mais tarde recordar.

As seguintes são para a recordação.

Oh happy day !!

Abraço amigo.