domingo, fevereiro 06, 2005

Às perdizes no Rio Chança - Mértola



De há muito tempo que vinha ouvindo falar nas "perdizes do Rio Chança". Que são bravas, esguias, sempre muito suadas, enfim...à antiga portuguesa.

Assim que a oportunidade bateu à porta não hesitei.
Troquei algumas impressões com o gerente desta ZC , Sr Carlos Raposo que, logo de início me sossegou, quer pela qualidade quer pela quantidade de "produto acabado" ali existente.


No dia 10 de Outubro 2004 , saí de armas e bagagens e com a esperança no coração.
Às 7h00 da madrugada estava a entrar nas Minas de S. Domingos - Mértola.


No ponto de encontro, logo encontrei gente muito bem disposta e simpática, o que é sempre importante para nós que vimos de fora sem conhecer as pessoas e, portanto, sempre com algum receio neste aspecto.

Após o sorteio, deram-me boleia num 4x4 cheio de armas, bagagens e perdigueiros à mistura, e rumámos direito à herdade onde íamos montar uma linha de 7 caçadores. Nas vozes, notava-se a excitação da jornada que íamos viver.Tudo gente jovem, incluindo uma senhora caçadora, esposa do Sr Carlos Raposo.

Encostámos o Jeep numas ruínas e logo aí combinámos a volta. " O Sérgio Vieira, como é a primeira vez que cá vem vai encostado ao ponta da linha do lado direito enquanto os restantes vão enrolando pela extrema da Herdade.

Dados os primeiros passos logo uma lebre dispara direito ao vale escapando ilesa sem sequer levar fogo. Matreira hem?.

A paisagem é magnífica. Cabeços de estevas com alguns sobreiros e azinheiras e grandes limpas de permeio, com diversos pastos aqui e ali. O sol, logo de manhã inunda de luz aqueles montes pondo as perdizes a cantar alegremente.

O ponta direita ia fazendo o gosto ao dedo e logo na primeira reunião que fizémos, já ia com um saldo de 5 perdizes abatidas. Da minha parte ia com uma pendurada, que me tinha saltado do meio das estevas aí a uns 20 metros para o meu lado direito ( este é o meu tiro favorito e mais uma vez funcionou ).

Por vezes, tínhamos de atravessar os giestais e, com as duas mão, levantar ao alto as caçadeiras para não se estragarem naquela vegetação tão densa.

Mas era dentro desta vegetação que as perdizes estavam. Muitas, concerteza que nem levantaram, esgueirando-se para trás da linha. Isto, quer queiramos quer não, para quem já cá anda há uns anos nestas lides, é coisa que se sente.

Na volta de regresso, completamente esgotado, tive ainda a oportunidade virar mais duas. Uma delas sai do meu lado esquerdo e, voando atravessada a "duzentos à hora" passa-me de repente pelas costas. Viro-me, encaro quase por instinto, e , já em desequilíbrio, disparo 2 vezes, sendo que, ao segundo tiro, vejo-a pendurar uma das patas e foi poisar a cerca de 200-300 metros de distância.

Chamo a minha pointer e, em passo de corrida como se diz na tropa, vou direito "à queda". Quando chego, 3 ou 4 minutos depois, como era de se esperar , parece que se tinha esfumado.

Calma Sérgio que ela tem de por aqui estar - pensei. Gabi, minha linda, busca, busca.

Quem porfia sempre alcança e decorridos meia dúzia de minutos aí estava a cadela marrada junto a umas pedras. Incitei-a a entrar e a perdiz saíu do outro lado aos saltos sendo agarrada de imediato pela boca da pointer que excitadamente a trouxe às minhas mãos.

E agora a linha ? Toca de acelerar de novo para os encontrar que aquela gente não perdoa. É mesmo "à antiga portuguesa".

No fim, dispostas no chão , um saldo de 24 perdizes e 6 lebres. Mais não se mataram dado que não era permitido.

Nessa noite, já em Lisboa, adormeci a ver as perdizes a saltar e a cair naqueles montados magníficos do Rio Chança.

Bem hajam Carlos Raposo e restantes membros. Que saudades que eu já tenho.