quinta-feira, outubro 13, 2005

ZCM Beringel e Mombeja - (ou às Lebres ? )


FOTO 2
Beringel - um regresso.
2000 hectares de planícies onduladas de restolhos ( muito rapados devido à seca deste ano e ao pastoreio) , terras lavradas , pastos de permeio e pequenos retalhos de olival - plantações novas e algumas de arvores seculares, no inverno por vezes muito visitados pelos tordos.

Algumas valas sulcam os campos e que, em bons anos, albergam bastantes codornizes e pequenos muros e montes , poucos, de pedra solta , escondem por vezes uns coelhitos .

A Associação de Caçadores de Beringel e Mombeja , liderados pelos Srs José Casaca e Manuel Inocencio , é uma máquina bem oleada no que respeita à organização das caçadas.

A hora de chegada a Beringel é por eles exigida com rigôr e quem se atrasa arrisca-se a ficar pelas piores soluções do dia. Daí que as 6h30 da manhã são, em geral, respeitadas por todos os caçadores que ali chegam para caçar à perdiz e à lebre. Aliás é habitual logo à partida a boa disposição entre todos, pois adivinha-se sempre uma boa jornada de caça.

Por volta das 7,30 horas da manhã, já após a caçada organizada, as caravanas de Jeeps e outras viaturas repletas de caçadores e perdigueiros dirigem-se para os locais de caça na Herdade.

A acompanharem-me nesta jornada foram o meu cunhado Manel e o Zé Camões, senhor já aposentado do Crédito Predial Português.

Estacionámos o Jeep a cerca de 50 metros do alcatrão. Soltados os cães do reboque, montadas as automáticas e colocadas as cartucheiras à cintura fizémos uma reunião curta onde o Manuel Inocencio explica a volta a dar. Ele iria no meio da linha para garantir o bom andamento da mesma evitando que a mesma "partisse" deixando as perdizes escaparem-se para trás.

A estratégia: as 2 linhas, a saírem de pontas opostas da Herdade, caminharem direito uma á outra para conseguir entalar as perdizes em zona mais ou menos a meio da ZCM.

Começámos a andar. A linha vai abrindo e varrendo as terras e os cães procuram incessantemente a caça. O tempo, bom, céu limpo, sol, alguma brisa e algum frio. Mistura explosiva para uma boa manhã de caça.

Percorridos os primeiros metros, logo uma lebre salta, longe, atravessa uma vala e escapa-se a trote para dentro de um olival pela minha esquerda. Mais á frente outra lebre, salta, também larga (já andam "escaldadas") e enfia-se, como a outra, dentro do olival.
"No regresso encontramo-nos" - pensei para comigo.

Os primeiros tiros ouvem-se na ponta direita da linha que seguia num plano mais elevado que o meu.
Paro e aguardo á espera de alguma perdiz fugida dos tiros. Nada. Provavelmente teria sido uma lebre.
Algumas boas centenas de metros á frente , seguindo o Zé Camões pela minha direita e logo de seguida o Manel, oiço este último:
"Zé Camões , atrás de si , uma lebre ! "
O dito cujo, virando-se , já não vai a tempo de fazer fogo. A lebre corre desenfreada pelo pasto, matreira, de orelhas coladas às costas.
"Filha da P." - dispara o Zé.

Outros tiros se ouvem.
Mais algumas centenas de metros. Olho á esquerda. e vejo a Pointer marrada de nariz ao alto. Aproximo-me calmamente. A pointer vai olhando pelo canto do olho e dá 2 ou 3 passos e estaca de novo.
"Brrreeee" - salta uma perdiz - logo ao primeiro tiro prego com ela no chão. A pointer arranca, cobra e traz-me a ave á mão. "Linda" - dá , faço-lhe uma festa na cabeça e depois de retirar-lhe a perdiz da boca dou-lhe a cheirar de novo o troféu. O animal abana alegremente a cauda de satisfação.
Continuamos.

A outra linha já se avista ao longe. Nota-se que a perdizes começam a saltar mais curtas. Aí está a táctica a a dar frutos. Apertadas pela frente e por trás, pelas 2 linhas de caçadores, as perdizes amagavam nos pastos e só saltavam desde que incomodadas pelos cão ou pelos pés dos caçadores.
Neste breves minutos fez-se seguramente um bom cinturão de perdizes, a dividir entre todos.

Continuámos. pela frente. agora, terrenos de restolho, com algumas pedras altas rodeadas de pequenos carrascos.

O Manel sobe para cima de uma dessas pedras. Alguns tiros se ouve. Sabe-se lá de onde passa-lhe uma lebre em corrida a cerca de 20-30 metros. O Manel encara a Beneli e faz-lhe 1, 2, 3 tiros esperando vê-la dar uma cambalhota. Qual quê , seguiu que nem uma flecha pelo montado abaixo.
"EhEh - Manel , então como é , 3 tiros numa lebre a 20 metros e no restolho e não fica? - comecei a "entrar com ele" - "que é que queres, não se podem matar todas" - retorquiu desanimado.

Começámos a inverter a marcha para ir de regresso aos carros.

Afastei-me um pouco da linha para deixar a pointer trabalhar à vontade. O regresso era feito contra o vento e com o sol pelas costas, deixando todos os trunfos do meu lado.
Num triangulo de pasto alto , perto de uma vala , a pointer arranca com uma lebre que levanta célere para o meu lado esquerdo. Num ápice a cadela põe-se no seu encalço e, sob pena da cadela encobrir a lebre, tive de encarar e atirar rápido. Ao primeiro tiro derrubo-a , ficando estatelada no pasto.
Gosto muito de ver a minha cadela cobrar uma perdiz na boca mas o espectaculo de ela me trazer uma lebre grande pendurada dá-me sempre um prazer especial pela satisfação do dever cumprido.

Algumas centenas de metros á frente , já com as perdizes muito fustigadas , a pointer desce e entra para dentro de uma vala cheia de juncos e teima em de lá não sair.
Estranho. Tinha de estar a trabalhar alguma peça de caça que lhe fugia no seu interior. Subo para cima de uma pedra para tentar vê-la no interior da vala. Não a consigo ver. O que vejo é uma perdiz a sair a grande velocidade e aos cacarejos de assustada. Desta vez encaro com calma e ao segundo disparo cai deixando um rasto de penas no ar. A Gabi , a pointer, sai do outro lado da vala e rapidamente cobra a ave, depois de a procurar durante alguns segundos com a ajuda da brisa.

"Ó Sérgio, ó Sérgio aí vai outra ! " - olho para o ar e vejo uma de asas abertas planando a espectacular velocidade direita a mim a uma altura de cerca de 30 metros. Aguardo, deixo-a "entrar" no campo de tiro e quando vai a passar por cima de mim primo o gatilho. Nada, a arma não disparou, tinha a arma na segurança. Quando atravessei a vala tinha colocado o travão de segurança e esqueci-me de a destravar. Com o esforço de querer premir o gatilho até me desequilibrei e tive de dar 2 ou 3 passos á frente para nâo cair. Quanto à perdiz... os Deuses estiveram com ela.

Ainda mais á frente , outro lance interessante. O Manuel Inocencio, dono de 2 excelentes cães de caça , um deles levantou-lhe uma lebre jovem, bastante pequena. O caçador que ia ao seu lado levantou ainda a arma para lhe desferir um tiro. Mas o Manuel Inocencio gritou-lhe: "Não atire, a lebre é nova e vamos ver se consegue ainda escapar" . Os cães, claro, desataram no seu encalço e depois de muitas voltas e quebras de rins, a pequena lebre, certamente já muito cansada, acabou por se deixar agarrar já dentro de um olival. Apesar dos gritos do Manuel Inocencio, os cães não lhe obedeceram e acabaram por cobrar o lebracho.

De regresso ás viaturas, foram feitos pequenos montes de caça no chão, mais ou menos iguais para todos e, pelo método do sorteio, cada um levou a sua simpática parte.

O Zé Camões, como no dia seguinte tinha uma caçada às lebres no seu Couto, ofereceu-nos as 2 lebres que lhe tinham calhado. Eu e o Manel, em troca oferecemos-lhe as perdizes que tínhamos.

Beringel , bons terrenos de caça , zona vasta para se poder caçar à vontade , gente simpática.
Enfim, um abraço para todos eles.