sábado, setembro 03, 2011

Abertura aos Coelhos em Sta Iria - Serpa













































2 de Junho 2011

Por amável convite do meu amigo Zé S. fui fazer a minha abertura aos coelhos em Serpa, mais propriamente à ZCT dos Peixotos em Santa Iria.

Só o Concelho de Serpa nos permite captar fotografias e landscapes tão bonitas como as que estão acima.

Como não tenho cães de coelhos, prontifiquei-me a fazer uma porta, isto para aqueles coelhos que vão fugindo pela frente das matilhas que, constantemente, vão no seu encalço. Sendo "porta" , e porque isso acarreta muito menos perigo com os tiros neste tipo de caça, resolvi levar o meu "mais novo".

Logo que chegámos à Serpínia onde já tínhamos um quarto duplo alugado, arrumámos a tralha e fomos ainda dar uns mergulhos à piscina pois o tempo estava abafado e fazia calor. Curiosamente, foi a primeira vez na vida que, enquanto estava a banhos numa piscina, começou entretanto a chover e trovejar. Apesar do engraçado da questão, comecei a pensar que tal combinação poderia não ser de facto a mais aconselhável ( água, com chuva e trovões ...) pelo que acabei por dizer ao Miguel para irmos para dentro, para o quarto.

Entretanto, liguei ao Zé S. que me disse estarem todos ( naquele dia também tinham ido aos coelhos ) no "Arrozinho de Feijão", restaurante em Serpa, e para seguir para lá para beber uma cervejola. Lá estavam todos, um dos "Grupos do Norte" , amigos do Zé, gente calorosa no seu acolhimento, gente que vê os valores da amizade talvez de uma forma diferente, com mais tradição. Lembro-me sempre que quando pela Páscoa ia ao norte a casa da família da minha mulher, as portas abriam-se totalmente para as pessoas da procissão habitual entrarem e comerem do que estivesse em cima da mesa. Enchiam a casa num instante, comia-se e bebia-se e seguiam depois para visitar nova casa da Aldeia. De facto, nós aqui na parte sul do País não temos esta tradição e os valores e referencias são algo diferentes.

Bom, mas deixadas estas divagações e bebidas mais algumas cervejolas, em bom convívio, encontrámo-nos mais tarde à mesa do jantar. Para mim, optei por uma boa posta de bacalhau à lagareiro, ficando-se o Miguel pela picanha grelhada, sim porque isto de bacalhau e peixe não é lá muito com ele. Ainda por cima no Alentejo e sózinho com o Pai onde não tem a Mãe a "deitar-lhe o olho". O vinho tinto de Pias foi o escolhido e uma boa mousse de chocolate e um café forte encerraram a refeição. Para tudo terminar em beleza, Portugal tinha acabado de derrotar o Chipre por 4-0 para a fase de apuramento do Europeu 2012.

Já na Residencial , bebi uma água das pedras natural, na esplanada, pedi à D Teresa para me acordar às 05h45 e eu e o Miguel fomos dormir o sono dos justos, não sem antes prepararmos minuciosamente, para o dia seguinte, todo o equipamento e apetrechos da caça:
cartuchos, roupa da caça, botas, polainas, cintos, águas etc.

Acho que demorei menos de 5 minutos a adormecer. Às 06h15, depois de um duche rápido, já estávamos na sala de refeições a tomar o pequeno almoço. O Miguel, só à parte dele foram 2 enormes croissants com manteiga e doce, um pão também com manteiga e doce e um copo de sumo de laranja.

Aparece o Zé S e combinámos encontrarmo-nos à entrada de um macdam, a seguir à lagoa, logo antes do Monte dos Peixotos. Passados alguns minutos aparece o Zé e o António que tinham ido buscar o "exército" ( os podengos) ao Monte. Os cães ladravam incessante e alegremente dentro dos reboques já prevendo a "guerra" que tanto adoram dar à coelhada.

Soltos os cães, fui para uma porta em cima de um morro alto, autentica cidade de coelhos, tal era o número de buracos e tocas que o circundavam. A ideia era tentar apanhar alguns que viessem fugidos dos cães para procurarem maior segurança dentro das tocas. De facto, assim foi. Passados alguns minutos de caça , disse-me, ansiosamente, o Miguel: "Ó pai, ó pai, olha ali, olha ali " e apontava com o dedo um coelho que corria directamente para as tocas. Só tive tempo de endireitar a semi-automática e "sequei-o" mesmo junto à cova. Mais 1/2 metro e tinha encovado.

Algum tempo depois aparece-nos outro a correr desalmadamente para as tocas com os cães a laticar lá dentro dos matos. Aqui precipitei-me e joguei-lhe um tiro bem longe, aí a uns 50/60 metros. Com munição 28 gr, 7 1/2 B&P o coelho "levou" mas conseguiu dar meia volta e por ali foi entocar. Que pena, ainda andámos alguns minutos literalmente de rabo para o ar à procura dele mas a existencia de muitas covas fez-nos rapidamente desistir.

O terceiro que apareceu ... nem soube o que lhe aconteceu. "Vai buscar filho" - o Miguel desatou a correr e, agarrando-o pelas patas, como já aprendeu a técnica do golpe de cutelo por trás das orelhas, terminou-lhe rapidamente com o sofrimento.

Entretanto, dentro dos matos a "guerra" era grande. Gritaria, tiros, ladras, lá se iam pendurando aqueles coelhos que tinham sido menos afoitos a esconder-se dos cães. Devo já referir que, ali, naquela Herdade, atendendo à existencia de tantas tocas, só se consegue caçar uma percentagem ínfima do que lá existe. Ainda assim, e à hora do almoço, o Guarda da Herdade, o João R. avançava que naqueles 3 dias de caça, desde o dia 1 de Setembro, já estariam apanhados perto de mil coelhos, pelo que , por aqui, podemos aferir da riqueza cinegética desta Herdade em "Oryctolagus cuniculus" - coelho-bravo.

Depois de pararmos alguns minutos nos Jeeps e comermos "a bucha", seguimos a caçar de salto. Nesta fase, quem vai mais à frente nas portas geralmente é quem "se safa melhor". Eu e o Miguel íamos em terceiro lugar a contar da frente e, entre mais 3 ou 4 coelhos deixados fugir por tiros errados, outros por serem tão rápidos que não nos deram tiro, apanhámos ainda mais dois. Um deles dei-lhe um tiro, deu uma cambalhota e foi refugiar-se debaixo de um zambujeiro o que me obrigou a um autentico mergulho debaixo do arbusto para, no meio do pó, conseguir lançar-lhe a mão antes de cair para dentro de alguma cova.

No final, o saldo, para 9 espingardas, "sem carregar no acelerador" - relembro que no dia anterior já tinha havido outra sessão de caça com os mesmos protagonistas - foram 61 coelhos, o que permitiu uma média na ordem dos 7 coelhos por arma.

Depois da já tradicional fotografia de grupo, com a caça estendida no chão, regressámos a Serpa para o almoço. Antes disso, porém, um dos confrades que tinha tido um problema com um podengo demasiado gordo para aquelas andanças, ainda foi à veterinária para ver do cachorro que tinha sofrido um golpe de calor e felizmente que se safou pois estava mesmo bastante mal. É preciso sempre muito cuidado com os nossos cães e com a caça de verão e aqui o nosso companheiro esteve muito bem. Primeiro recuperar imediatamente o cão, depois o almoço.

À mesa foram servidos uns suculentos filetes de pescada com o tradicional arrozinho de feijão e, desta feita, acompanhei com cerveja sem álcool, pois ia regressar para S. João do Estoril.

Depois de mais um café na esplanada e feitas as despedidas regressei a casa. À saída de Serpa dizia-me o Miguel, de mansinho : " Pai ficava agora aqui milhares de anos". Ouvi e calei, continuei a guiar em silencio, mas fiquei satisfeito pois aquelas palavras significavam ...que tinha gostado.

Já em Beringel tinha combinado e encontrei-me com o Zé G. onde bebemos um café, conversámos sobre a caçada. Ele, no dia seguinte, ia caçar à codorniz com a sua pointer, com o António e com o Zé S, todos eles com pointers, quanto a mim o cão de excelencia para a caça desta pequena ave.

Um abraço de amizade , até à próxima.