quarta-feira, julho 10, 2013

Quase perdia a INKA


































7 de Julho 2013
Herdade de Vale de Lobos
Álcacer do Sal
Campo de treino com solta de perdizes.

40 anos de experiência na caça com cães de parar e cometi um erro crasso, indesculpável.

Debaixo da vontade de dar treino à cadela, com solta de algumas perdizes, ainda pouco emplumadas, encontrei-me com o Guarda da organização em Álcacer, às 06h30, em frente aos Bombeiros da Cidade. A esta hora o termómetro do carro já marcava 29,5 graus. De notar que foi o dia mais quente do ano, no Distrito mais quente em Portugal ( Setúbal : 42,5 graus )

Dali até à Herdade são ainda uns bons 10 Km. O campo de treino é composto por pastos muito altos, pouco "trespassáveis" que obrigaram a cadela, na busca,  a andar quase sempre em passo de corrida, e aos saltos, a vencer barreiras, para caçar. Logo aí começou o tremendo desgaste. Logo aí,  com as temperaturas que já se faziam sentir e com alguns meses de inactividade nas pernas,  deveria ter previsto o que se poderia passar.

A cadela, de grande nobreza no cumprimento da sua paixão, tudo fazia como se nada pudesse acontecer.

Ao fim de hora e meia, a Inca depois de marrar uma perdiz amagada no mato, deixou-me aproximar, colocar-me de lado para que me pudesse ver bem e, em poucos segundos, a perdiz arrancava e caía, a tiro,  a 50/60 metros,  no pasto profundo. A Inka arrancou para o cobro e poucos minutos depois trouxe-me à mão a perdiz e, deitando-se,  de lado,  no chão, exausta, abriu a boca e deixou cair a perdiz da boca.

Aí sim, apanhei um verdadeiro susto " é lá, que se passa cadelita ?" - levantei-a, dei-lhe água imediatamente e por ali acabámos o "treino".

Já a chegar a casa, por volta do meio dia, dentro da carrinha, oiço  a Inka a vomitar. Fui observar e era um líquido branco. "Provavelmente estará mal disposta" - pensei.

Em casa, quando tocava na água, para beber, deitava-a logo fora com um vómito.

Incomodado, embora sendo domingo, liguei para o veterinário e indiquei-lhe, sem hesitações,  os sintomas.

"Leve a cadela já para o meu consultório e encontramo-nos lá. Se não a levar, ela em 1 hora pode morrer-lhe"

Um quarto de hora depois, a Inka estava deitada em cima de uma "marquesa" , com uma toalha de almofadas de gelo por cima, Cada centímetro do animal foi arrefecido desta maneira, com gelo. A Inca quando entrou estava com 170 pulsações por minuto e com 41 graus de temperatura.

Depois de arrefecer, levou 2 injecções, uma para prevenir lesões cerebrais e outra para tentar evitar lesões intestinais.

Depois de levar um correctivo do Vet, levei-a para casa,  com a missão de a fazer regressar no dia seguinte,  à 1ª hora da manhã,  novamente  ao consultório. Deveria verificar logo de manhã se as fezes seriam de diarreia com sangue. Felizmente que, o que tinha feito, eram fezes firmes e sem indícios de sangue. Já no consultório o médico, depois de lhe fazer os exames normais,  disse-me que eu poderia considerar-me um homem cheio de sorte, pois os golpes de calor geralmente são fatais aos cães e, quando não o são, podem deixar sequelas incontornáveis.

A Inka demorou 2/3 dias para recuperar. Agora parece-me bem e já totalmente  recuperada. No entanto, lembro-me constantemente das palavras do médico:"Sou um homem de sorte"

Mas também me lembro do enorme erro que é caçar com um cão debaixo de altas temperaturas e condições extremamente adversas para o animal.

Escrevo para que todos aprendam com esta má experiência. A paixão dos nossos cães ( e a nossa ) somos nós que a temos de refrear,  sob pena dos resultados imediatos serem os piores.

Um abraço de amizade.