segunda-feira, outubro 28, 2013

Caça de salto - a minha paixão





















Outubro 2013
Salvada - Beja

A possibilidade de podermos partilhar o tempo inteiro com o nosso companheiro de caça,  o perdigueiro, é uma prerrogativa rara hoje em dia. Se em condições normais o cachorro já nutre por nós um amor incondicional e uma paixão inquebrável, imagine se o tempo que passamos com ele é partilhado na totalidade, quer no ato da caça durante o dia, quer nos momentos de lazer, seja durante as refeições deitado aos nossos pés ou quando dormimos profundamente com o cachorro a fazer-nos companhia, deitado no chão do nosso quarto. O estreitamento da relação de amizade entre animal e dono aqui é notório e exponencial e, verdade seja dita, a Organização permite-nos ( não a todos claro) este pequeno luxo.

Na sexta-feira, dia 25 de Outubro, tinham caído grandes "pancadas" de água no Concelho de Serpa e Beja. A minha chegada ao Monte da Gravia Grande foi feita,  já de noite, não debaixo de chuva, que já tinha acabado, mas com o horizonte negro sobrecarregado de trovões e raios que se afastavam ao longe mas que iluminavam os céus da noite com as suas poderosas descargas.

Já no conforto do meu "quarto de caçador" como o demonstra a 1º foto, adormeci a sonhar com as codornizes que iria procurar, no dia seguinte.

Às 06h30 estava levantado, tomei um duche quente e rápido, preparei as cartucheiras com chumbo 8 da B&Pellagri e uma dúzia deles de chumbo 6, também da mesma marca, 32 e 34 gramas, respetivamente.

Claro que de manhã tive de calçar as botas de borracha pois adivinhava os campos completamente alagados com as chuvadas da véspera. A escolha do local para caçar foi estratégica. Tinha de ir para os terrenos inclinados, de restolho amarelo torrado, com chapadas viradas aos primeiros raios de sol da manhã, pois seria precisamente aí que elas estariam.

Duas paragens da Inka e duas capturas. Entretanto vejo um lebrão a fugir rápido pelas minhas costas e lembrei-me logo que também as lebres procurariam nesse dia aqueles locais. O dia estava bonito e rapidamente comecei a dedicar-me mais à lebre.

Subi a uns pastos bem altos, que já iam secando, e não demorou muito à Inka desalojar de lá uma lebre.Um tiro bastou para estendê-la no restolho a uns 25/30 metros. Enfiei-o ( era um macho) no bolso do ladrão do colete e continuei. Reparei numa pequena barreira no restolho, que estava abrigada do vento algo frio que ainda se fazia sentir,  mas bem banhado ( o declive) pelo sol magnífico da manhã. Percorrri-o todo, de alto a baixo, e, algumas centenas de metros mais à frente, a Inka pára, completamente imóvel. Chego-me devagar e começo a olhar para o chão. Querem ver que é uma codorniz?" - pensei. Espreitei, mas não, não era. Lá estava ela deitada, com as orelhas juntas mas encostadas ao dorso, completamente camuflada. Arranca outra lebre que procura a fuga pela parte mais elevada do terreno. Beretta bem apontada e com um só disparo "seguro-a" no restolho. A Inka cobra e traz-ma à mão, com orgulho. "Linda canita, dá cá ao dono" - deixei-a caminhar atrás de mim alguns metros com a lebre na boca.

Pelas 11 horas passei na carrinha para um pequeno "taco" e aproveitei fotografei a caçada do momento, 2 lebres e 2 codornizes.

Arrumei tudo e voltámos à caça.

Desta vez dirigi-me para a orla de um olival bem longe, lá no alto, já pertença de uma outra ZCT, mas bem rodeado de pastos altos e já secos, com o sol do meio da manhã a bater-lhe. Salta uma lebre para dentro do olival que falho com 2 tiros. Quinze ou vinte minutos depois, salta outra que nem me deixou atirar pois esgueirou-se logo para dentro do olival.

Começo a regressar ao carro. Estava perto do meio dia. Ao longe apercebo-me de uma lebre a sair do mesmo olival e dirigir-se tranquilamente, a trote, para um campo de restolho de girassol já rapado, apanhado e amontoado pelas máquinas. Como não a vi a desaparecer no horizonte, decidi passar por lá com a Inka. Os terrenos estavam frescos e, no rasto,  a cadela daria bem conta do recado. Bem dito bem feito. Minutos depois a Inka começa a abanar o rabo, acelero o passo e por trás dum amontoado de paus de girassol arranca a lebre. Dois tiros bem dados mas continua,  com a cadela a correr e a ladrar atrás dela. Fiquei desapontado. Estava ( quase ) certo que lhe tinha acertado, enfim.
Qual o meu espanto quando após 200 ou 250 metros de corrida a lebre dá um salto no ar e cai ferida de morte e a Inka agarra-a, ofegante. Fantástico, uma manhã, 4 lebres e 2 codornizes.

Chegado ao Monte, deixei a caça no balcão de frio,  e fui ao Toi, restaurante da Salvada/Beja que faz uns achigãs escalados e grelhados, de comer  e chorar por mais. No entanto, desta feita optei pela carne grelhada, com um corrente "Margaça", de Pias, tinto,  para "carregar as baterias" pois da parte da tarde ia ainda bater uns outros terrenos que me estavam na mira, na estrada de Quintos.

Passei "pelas brasas" durante uma hora, no quarto do Monte e, depois, meti a espingarda e a cartucheira no carro, a Inka saltou para a bagageira  e fomos fazer o final da tarde à procura das "africanas".

Os terrenos são todos de restolho alto, bem espesso, com vegetação velha de cardos, e com uma linha de água a atravessá-los, direito ao Monte da ( agora não me lembro do nome), mas com uma fiada de eucaliptos ao longo da ribeira.

A primeira paragem da cadela não demorou e pendurei a 1ª codorniz da tarde. Alguns minutos depois, de novo a cadela imóvel. Desta vez salta um par delas. Seguro uma com um tiro, marco-lhe a pancada e ajudo a cadela a encontrá-la. A outra...deixá-la ir!

Alguns minutos depois, de novo a cadela "marrada" nos cardos. Deu-me tempo para tudo. Aproximei-me de lado, em "passo fantasma" para a cachorra me sentir e controlar-me  a aproximação. A codorniz estava "perra", demorava a saltar. Esperei, esperei, mas o que saltou foi... uma outra lebre. E eu com chumbo 8 (!) na arma. Segurei-a, no chão, a uns 20 metros ( mais ou menos).

Com o sol esplenderoso já a por-se no horizonte ( tinha combinado com o Sr B. irmos esperar os patos no açude ao cair da noite ) voltei para a carrinha e ainda deu tempo para capturar mais 2 aves.

Claro está que a felicidade jorrava de certeza pelos meus olhos, mas enfim...!

Os patos foi um fracasso. Entrou já de noite escura um bando disperso, para aí de uns 10 mas ( escaldadíssimos) assim que tocaram na água arrancaram logo para outras paragens com 2 tiros atrás, para o monte, mas sem resultados.

Patos: 0

Após o jantar, a noite foi dormida, de forma profunda e recompensada,com a Inka deitada no chão do quarto, também completamente esgotada. No dia seguinte a brincadeira era outra: perdizes, de salto, em linha.

Domingo, 27 de Outubro. Mudou esta noite para a hora de inverno mas o telemóvel faz o acerto automático: 06h30. Duche rápido, a Inka olha de soslaio para mim, como que a querer dizer: o quê, mais "conversa"? - e lá se levantou, "sem discutir",  prontinha para mais uma manhã atrás das perdizes.

Os terrenos onde começámos eram à volta da povoação de Quintos, nas margens do Guadiana. Cerros de montado, pasto, giestas, linhas de água sinuosas a caminhar para o Guadiana, sempre por ali fora cerca de 4 ou 5 de Km de terrenos bastante difíceis.

A Inka ( e eu ) à medida que o tempo avançava, fisicamente íamos dando sinais de puro cansaço, mas, ainda assim, deu-me "a matar" 3 perdizes,  das quais só aproveitei uma.

Na volta de regresso aos carros ainda derrubei mais um par delas e uma lebre que vinha fugida dos outros caçadores.

A caçada acabou finalmente,  já bastante tarde, cerca das 14h30, e, como queria vir ver o meu Benfica a jogar contra o Nacional, despachei-me rapidamente, fiz as despedidas e voltei,célere, para Lisboa, onde ainda jantei com o meu filho mais velho.

Parei em Santa Margarida do Sado para descansar as pernas e beber um café e acabei por ver só a 2ª parte onde o Benfica ganhou 2-0.

Saldo da Jornada:

6 codornizes
5 lebres
3 perdizes

Para mais tarde recordar.

Um abraço amigo.