segunda-feira, dezembro 23, 2013

Caçador solitário ou de "linha" ?

Pela hora do almoço. Penetrando o horizonte com o olhar.

No final do dia.
Lá diz o ditado: Quem porfia...



























21 de Dezembro 2013.
Jornada física e atrozmente esgotante mas recompensadora.

Comecei o dia com os tordos.
Ainda que havendo uns tordos, como não tinha ido preparado, nem com arma adequada nem com cartuchos próprios, nem sequer com aguardo, cedo arrumei a tralha e fui para aquilo que verdadeiramente me apaixona: a caça de salto, com o cão pela frente.

Quem vê estas fotos dirá: "pois, só vai à caça das lebres"

Não necessariamente. A orografia do terreno muitas vezes assim o determina, mas as perdizes, que nesta altura não se deixam chegar, estão sempre, sempre na minha mira. Caçá-las, sem ser em linha, torna-se muito difícil. Não impossível, mas difícil.

Ainda este sábado, já no final da manhã, numa iniciativa magnífica da minha Inka que culminou, nuns pastos altos, com uma maravilhosa paragem sobre 4 vermelhudas que já para lá tinham fugido algumas centenas de metros atrás, quando pela primeira vez me viram.

A esta cadelita por ter "crescido" comigo, já lhe percebo o andamento tão bem que não tenho a menor dúvida sobre o seu comportamento no terreno e de que tipo de caça se trata:

Codorniz: rabinho a abanar, busca muito minuciosa no terreno, sem se embalar, o que me permite estar praticamente sempre perto dela. No final, ou levanta a ave ou acaba por a parar, imóvel, oferecendo-ma.

Lebre: rabinho a abanar, embala muito rapidamente quando se trata de rasto de lebre, muitas vezes quase anda a galope com o nariz sempre no chão. Estas, geralmente...já lá não estão. A segunda hipótese é, dar-lhe os ventos e pará-las, assim, sem mais. Algumas aguentam bem, outras nem por isso. Já no campo da 3ª hipótese é quando está de volta de alguma codorniz em valas com água, a procura é menos intensa e, não raras vezes, a lebre sente-se descoberta e salta, foge para o campo aberto, onde se sente muito mais à vontade com a sua velocidade. É a altura de aproveitar a oportunidade.

Perdiz: rabinho a abanar. Baixa bastante mais a barriga. A busca no terreno não é tão minuciosa e embala um pouco mais. Mas é clara, a evidência é muito grande, vê-se imediatamente quando se trata de perdiz. Depois, há que ter algumas pernas para a seguir pois rapidamente se vai deparar com as aves. É aqui que está o problema. As minhas pernas já não são exactamente aquilo que eram há 20 anos atrás...!
No caso em apreço, quando encontrou as emanações deixadas pelas patas das perdizes, ela avançou, rápida, sobre o rasto deixado pelas 4 aves, eu acelerei o passo, o mais que pude, ainda a vi "marrada" por uns instantes, mas as perdizes já não deram - como se diz na gíria - "orelha". Fugiram, cada uma na sua direcção, e acabei por abandonar a perseguição. O suor escorria-me pela cara abaixo, em bica, camisa empapada e colada às costas, mas pelos motivos que gosto.

Nas lebres, é na caça a salto, solitária ou, no máximo, com mais um companheiro, com quem tenhamos um bom entendimento, que podemos aplicar com  mais sucesso os conhecimentos que sobre elas temos, sobretudo em relação aos seus costumes.

A lebre está em sítios diferentes consoante o dia que faz, ou que fez, na véspera.

Assim, se na véspera choveu copiosamente , há que procurá-las, pausadamente, dentro dos olivais com algum pasto ou mato cortado ou solto. Em alternativa, procurar as bordas das linhas de água, onde elas gostam de se encostar e deitar.

Pela manhã, em dias frios e solarengos, aqui, enfim,  não há que ter dúvidas. É levar o perdigueiro e procurá-las nas encostas bem soalheiras, de restolhos mais ou menos espessos ou de lavradas. Haja paciência e, mais cedo ou mais tarde, ela aí está, a saltar à nossa frente, linda, vistosa, em grande fuga.

Com vento muito frio, procurem-nas nos restolhos banhados pelo sol mas junto dos caminhos que "cortem" o vento ou nas chamadas "covas" do terreno. É aí que elas se deitam ainda de madrugada.

Não procurar lebres em sítios complicados para elas fugirem. Detestam mato entrelaçado e qualquer tipo de vegetação tão intensa que lhes impeça a fuga como elas tão bem querem e sabem fazer.

Gostam muito de estar na orla dos olivais, ao final da tarde, deitadas, ainda a apanhar os últimos raios de sol. Sabem que se forem descobertas, rapidamente se põem em fuga por entre as oliveiras. Reflexos rápidos e tiros muito certeiros são necessários nestas alturas para lhes impedir a fuga.

Diria que das espécies existentes no alentejo, a lebre será, talvez, aquela onde o caçador mais experiente, aplica com maior êxito todos conhecimentos que tem para a descobrir e capturar.

Numa linha da caçadores, será quase sempre por mero acaso que ela salta e é cobrada. Excepto se for uma linha constituída só para a caça à lebre.

Por isso, prefiro a caça de salto, isolada, permite-me aplicar os meus conhecimentos sem ter que responder como se estivesse no exército.

Ainda este fim-de-semana cacei em linha e em terrenos muito acidentados. Surge uma perdiz em grande velocidade, de asa aberta, da minha direita para a esquerda. Derrubei-a com tiro certeiro, mas, com a velocidade que levava, foi cair lá abaixo, a um barranco fundo, seguramente a mais de 70 metros. A Inka não  a viu pela que tive de "baixar ao barranco" . Três ou quatro minutos depois, já estava com ela na boca, trazendo-ma. Quando voltei a subir o barranco... 7 ou 8 minutos depois? - já lá não estava a linha. Não esperam. Salvo honrosas excepções em que a linha é composta por amigos. Como não conhecia bem aquele terreno acidentado, tive que me aplicar a fundo para a retomar outra vez. O suor escorria-me pela cara abaixo, em bica, camisa empapada e colada às costas, mas pelos motivos que não gosto.

Abraço amigo.