Mértola, 02 OUT 2021
Convenhamos que para abertura geral em Outubro, ainda que com relativa preparação física, enfrentar as desafiantes ladeiras e barrancos da Ribeira do Vascão era sempre algo de superlativo, mesmo para 3 caçadores experientes como nós, neste tipo de caça de salto, à perdiz.
No entanto, lá fomos, de "peito aberto" , com a fé na alma e com a ajuda dos nossos cães, alguns deles praticamente a estrearem-se nestas lides da caça brava.
Nesta nova temporada enfrentávamos pela primeira vez aqueles declives, muito pronunciados, muitos quase a 45º e que, quando chegados aos seus topos, deixavam-nos com o coração a saltar da boca, incapazes de quase sequer conseguir levantar a arma e dar um tiro.
Terras secas, cheios de xistos traiçoeiros que nos deixavam perigosamente escorregar as botas, com riscos de quedas, estevas e matos ressequidos por todo o lado, responsáveis por muitos arranhões nos braços e pernas, pés doridos, sofridos, sobretudo das descidas dos barrancos, onde, para não cairmos, muitas vezes íamos agarrados ao mato.
E pergunta-se porquê, porquê ir fazer uma abertura nestas condições com 3 caçadores e 2 mochileiros para tais terrenos ? - a resposta : pelo complexo desafio de o fazer logo em Outubro em condições agrestes e, acima de tudo, pela qualidade das perdizes !! Não encontro outra explicação. Pelo desafio.
Mas lá fomos.
Tivemos a ( grande sorte ) de a manhã se tornar mais fresca e cinzenta e conseguirmos jornada até ao meio dia. Caso contrário, estávamos seguros que pelas 10 da manhã tínhamos a caçada feita e a percha teria sido nem metade. Na véspera assim estivemos mentalizados para isso. Mas tal não sucedeu, tivemos sorte.
Com voltas bem calculadas e uma espingarda sempre bem adiantada e colocada, certeira, lá iam tombando ao som dos tiros, uma a uma. Muitas fugiram para sítios incertos, dobrando cabeços de asas abertas , poderosas, bravas. Nem insistíamos ! Lá iam.
Fizemos 2 longas voltas adivinhando a fuga das perdizes para certas zonas e, na volta de contrário, fomos lá tentar dar com elas. A temporada ainda agora começou . Fora mais tarde e os voos seriam muito mais largos e não conseguiríamos concretizar esta estratégia.
Subida a subida, descida a descida, com o ritmo possível, cães a trabalharem e a cobrarem muito bem, perdizes a levantarem, algumas a fugirem para trás ou em voos cruzados por cima de nós, lá foram sendo capturadas. No final, 12 perdizes e 1 coelho. Bravo! Da minha parte não contribui muito para o resultado mas estou certo que melhores dias virão.
A boa disposição e companheirismo imperou sempre como se pode ver nas fotos .
Num lugarejo onde nem sequer podíamos fazer ou receber chamadas - os telemóveis aqui não tinham linha para funcionarem - esperava-nos, acautelado e já feito, um saboroso almoço de cozido de grão, que tão bem se faz por estas terras alentejanas. Retemperou-nos as forças e regressámos a casa, para mim com a satisfação do dever cumprido e o desejo de lá voltar.
Um abraço amigo.