domingo, novembro 14, 2010

Chuva com Perdizes
















Domingo 14 de Novembro 2010 - Serpa
Caçada real na fotografia.
Só é pena não estar uma das principais protagonistas: - a cadela pointer do Zé S.
Do lado direito da foto, as principais artistas: -perdizes e lebres.


Com o tempo que se fazia sentir, muito mal começou o dia. Acabou, contudo , uma delícia de manhã.

Às 03h30 da madrugada , o despertador do telemóvel acordou-me. Trata-se do único dia da semana em que tenho prazer em ouvir semelhante mecanismo

Sem hesitações, saltei da cama, dirigi-me à cozinha onde tinha já preparado todo o "estendal" da roupa da caça, enfiei as calças, calcei logo as minhas inseparáveis botas de borracha da "Somlys" com revestimento a neoprene - penso que seja este material que não deixa suar os pés durante as caminhadas - tomei o pequeno almoço a ouvir a chuva a cair forte lá fora - umas torradas e um chá com uma maça verde enganaram o estômago, peguei na Beretta, saí para o jardim, coloquei rapidamente e à pressa a tralha na carrinha, abri o portão e fui-me embora... como soi dizer-se, já um pouco molhado mas, "de peito aberto".

De "peito aberto" porque a chuva era tanta, tanta, tanta, que só o mais fanático dos "Bin Laden" por este tão nobre desporto poderia encarar com o prazer que eu sentia, uma longa viagem para o Alentejo, debaixo daquele tempo, para ir caçar à perdiz.

Todo o santo caminho choveu copiosamente, em bátegas, muitas vezes a velocidade dos limpa pára-brisas seguia no máximo da potência, ao passo que a velocidade do carro era bem na ordem dos 60/70 Km /hora, tal o ímpeto com que a água caía.

Em Beja, para mal dos meus pecados, comecei a desanimar, pois já estava a 24 Km de Serpa e a chuva torrencial não havia forma de abrandar.

Ultrapassei Serpa para ir buscar o meu amigo Zé G que estava em V. Nova São Bento e - milagre dos milagres - precisamente naquela altura, deixou de chover, só uma chuva miúdinha. Fantástico! - pensei e rejubilei de alegria.

Arrumada a tralha fomos direitos à reserva mas, no caminho, de novo, e com grande desagrado nosso, começava a chover mais forte.

Já chegados ao Monte do P. abrigámo-nos dentro da casa da Associação onde , depois , dos habituais cumprimentos tomámos - para mim foi um segundo - pequeno-almoço.

Mais tarde, no sorteio, tocou-me a porta 10 na espera e com a 14 a caçar de salto.

A saída para o campo, já tardia pois esperámos bastante para ver se a chuva abrandava, nas carrinhas da caça, foi ainda debaixo de água, mais fraca é certo mas com chuva que ainda incomodova.

Na minha porta ainda consegui o resultado de 2 belas perdizes, deitadas abaixo com 2 subsequentes belos tiros, de novo Rotweill, 36 gr ch6. O terreno, como era limpo, os "depenadouros" ficaram bem à vista, bem marcados, e só as cobrei mesmo no final da batida.

Entretanto, tinha parado de chover e o sol já espreitava por entre as nuvens. Santo Huberto, decididamente, estava a vir ao nosso encontro.

Na batida, que é a parte que eu mais aprecio nestes dias, inúmeros lances, de entre muitos:

- um coelho saído aos pés do ZG que veio em corrida desenfreada, direito a mim, a "300 Km/hora" , 1 ou 2 tiros - não me recordo - só me lembro do chumbo a zunir raivosamente à minha volta e o Zé a pedir-me desculpa com plena consciência de que tinha sido de facto uma distracção grave. Felizmente nada de mal aconteceu.
- este coelho, ao passar por mim, direito ao barranco, no meio de giestas e tojo alto, levou atrás também 3 tiros meus, ao vulto, a ver se caía. Sem cartuchos na arma, vejo logo de seguida uma lebre a sair pela ponta da lá do mato, a cerca de 25 metros, ultrapassar a vedação de arame farpado e sair em fuga para o restolho limpo ( e eu sem cartuchos). Ainda mal refeito do que acabava de presenciar, salta-me, vigorosamente, também exactamente dentro do mesmo mato, uma perdiz a cacarejar, para o meu lado direito ( e eu continuava na mesma sem cartuchos pois tudo aquilo foi em meia dúzia de segundos).

-F0"#:::%&/# se!, ...só mesmo comigo é que acontece disto - pensei. Ainda fui lá abaixo ver se o coelho tinha ficado estendido no matagal, mas...nem isso. Foi-se tudo embora, quer o coelho, quer a lebre quer a perdiz.

Há que respirar fundo, manter a calma, concentrar-mo-nos que estas coisas na caça estão quase sempre a acontecer , e seguir, calmamente, caçando.

Mais uma centenas de metros à frente oiço o estoiro de 2 tiros, olho para a minha esquerda e vejo uma lebre a fugir do ZG, barreira abaixo, aponto cuidadosamente e derrubo-a logo ao 1º tiro. A "norma" a sua cadelita pointer branca e preta , que caçava pela 2ª vez, e que podemos ver acima na foto, já lhe ia no encalço e agarrou-a dentro do barranco pois para lá tinha caído.

O animal era lindo, castanho escuro, cor-de-mel, tipo raposa, como podem ver na foto acima.

Meti-a cuidadosamente dentro do bornal, coloquei-o de novo às costas e segui em frente, recarregando a P Beretta

Alguns minutos mais tarde, em voo de través, da esquerda para a direita, aparece-me uma perdiz larga, fugindo da linha. No voo, viu-me, virou-me imediatamente o peito, de asas abertas, dois tiros bem colocados e foi cair muito para lá do aramado que tinha no meu lado direito. O ZG pediu-me para não a cobrar, para deixar ir lá a cadela. Jáno local, lançou uma pedra para a zona onde a perdiz caiu e a cadelita, dando bons sinais da sua qualidade genética, deu-lhe rapidamente com o cheiro da pancada, agarrando-a com a boca.

A 4ª perdiz, essa, veio fugida já do entalanço entre as portas e os batedores. Passou-me, veloz, pelo meu lado esquerdo, entre mim e o ZG.

Desferi-lhe dois tiros e pendurou as pernas. Eu sabia que fosse onde fosse que aquela perdiz caísse, estaria ferida de morte. "Viste onde foi cair Zé? - perguntei. Foi cair lá para os lados da ribeira. Vamos lá buscá-la. Voltámos para trás e, quando chegados ao local, meia dúzia de voltas e ali estava a pointer a dar-lhe com o cheiro e a marrar a ave no chão. Curiosamente, ainda estava viva. Acabei-lhe com o sofrimento e pendurei-a de cabeça no cinto. Menção honrosa para esta cadelita, grande promessa e, se sair à mãe, pointer de 4 ou 5 anos do Ze S , cor café com leite, será seguramente uma grande auxiliar para o ZG.

Seriam aí por volta das 13h30 quando regressámos todos ao monte. Espingardas às costas, cães atrás, molhes de caça nas mãos, dirigimo-nos para as carrinhas, para o regresso. O céu estava naquela altura já aberto e, no final, o quadro de caça foi , uma vez mais, bem interessante.

Ao almoço, um manjar. Leitão assado no forno acompanhado com batata frita e salada e vinho verde tinto e verde branco gasoso.

Mais uma caçada às perdizes na Vendinha onde tudo decorreu de forma perfeita. Nem a chuva na primeira metade da manhã conseguiu estragar-nos o dia.

Tenho absoluta certeza que houve milhares de caçadores por esse País que, neste dia chuvoso, acabaram por ficar na cama, sem coragem suficiente para se meterem à estrada e à chuva.

Como diz o meu amigo ZS, "o dia faz-se é à porta do Patrão" e a chuva não impede os verdadeiros caçadores, aqueles que realmente se movem nos campos, por verdadeira paixão, e que, no fundo, não sabem sequer de onde lhes chega verdadeiramente o ânimo, o espírito de sacrifício e o empenho... que nos dá a coragem para "ir atrás delas".

No próximo fim de semana farei uma pausa.

Um abraço amigo.

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