domingo, dezembro 05, 2010

Mértola - Terra de coelhos
















Grande jornada de caça aos coelhos em terras de Mértola.

Podengos, mestiços e outras raças definidas ou indefinidas mas de grande qualidade, muitos tiros, muita gritaria e, no final, um belo quadro de caça.

Os planaltos de Mértola continuam em grande forma.

Na sexta-feira tínhamos saído de Lisboa após o trabalho, extenuados, sobretudo mentalmente, mas, depois de ultrapassado o interminável e angustiante transito antecedente à P25 Abril, lá conseguimos desembaraçar-nos e seguir viagem.

Curioso que aí a partir de Setúbal, o nosso estado de espírito, sobrecarregado de stress, acumulado ao longo de uma longa semana de trabalho, começa gradualmente a ficar mais leve, a desanuviar, isto porque, garantidamente, ele, o nosso estado de espírito, inicia todo um processo de deixar tudo para trás começando a concentrar-se no que realmente nos vai dar um prazer profundo e que mais não é do que a expectativa gerada de uma jornada de caça ou um fim de semana em grande no campo com os amigos.

Um pouco à pressa fizémos um desvio na A2 e parámos em Alcácer do Sal para jantarmos qualquer coisa. Restaurante desconhecido, um bocado "manhoso" , mal servidos e, por isso, rapidamente, procurámos meter-nos de novo ao caminho para Serpa, onde chegámos por volta das 10h30.

O importante seria dormir bem pois no dia seguinte esperava-nos uma jornada exigente de caça aos coelhos, de salto, onde sempre impera a necessidade de bons reflexos e olhos bem limpos, logo, com uma boa dose de horas dormidas.

O entusiasmo era tanto que pedi à D Teresa, da residencial Serpínia, para me acordar às 05h00 da manhã. No entanto, às 04h30 já estava debaixo de um duche bem quente e a preparar-me para arrumar a tralha na carrinha e tomar o pequeno almoço. Quando cheguei à sala de refeições ainda os tabuleiros estavam por colocar na mesa de buffet, pelo que prestei-me a dar uma ajuda à D Teresa e eu próprio também "armei" a mesa grande de pequenos almoços.

Um chá preto, um yogurt, umas bolachas, uma maça verde e uma banana dar-me-iam o suficiente para me aguentar umas boas horas. Embrulhei ainda uma sandes de mrtadela para comer a meio da manhã e guardei-a dentro da mochila.

Entretanto, chegava à sala o meu cunhado B. que não tinha passado lá muito bem com o jantar da véspera pelo que limitou-se a beber um chá, uma ou duas bolachas e pouco mais.

Às 06h00 da manhã, ainda escuro como breu, com passagem por 1,5º negativos, já estávamos nas cancelas do Monte do Zé S para meter os nossos heróis ( os cães) dentro do reboque e, sem grandes demoras , deixámos a minha carrinha no monte e fomos para Mértola no Jeep do Saldanha.

Em Mértola, no largo grande dos Cafés, já nos esperavam os outros caçadores, que tinham vindo de véspera, de Braga e Famalicão, dormindo na Estalagem do Rio, aprazível lugar para se passar uma noite em Mértola a olhar para o Guadiana à noite.

No café, voltámos a confortar os nossos estômagos com uns cafés bem quentinhos e, rapidamente, fizémos ainda uma dúzia de Km para lá de Mértola, pela estrada que vai dar ao Algarve.

Chegados ao encontro com o guarda do Couto e verificados os documentos de caça seguimos para a "zona de batalha": - cabeços pouco altos mas de grandes larguras, meio pronunciados mas acessíveis, com largas manchas de estevas e montes de pedras de xisto negro. Algumas linhas de água com vegetação espessa de juncos, onde os coelhos geralmente constroem as suas "moradias" subterrâneas, atravessam os locais onde caçamos.

A cortar esses grandes estevais, uns caminhos feitos com tractores de rastos permitem-nos colocar algumas portas em locais estratégicos, que o Guarda conhece como ninguém, sabendo exactamente por onde os coelhos podem sair quando apertados e em fuga dos cães.

Nos pastos, podemos observar os sinuosos carreiros desenhados pelas lebres quando deambulam pela noite em busca de comida ou de acasalamento.

As perdizes começam a cacarejar alegremente, saudando a nova manhã. Cedo ouvimos cantos em diversos cabeços daquelas terras de caça, denunciando ainda quantidades apreciáveis de bandos que ainda por ali sobrevivem.

Soltos os cães é, como de costume, a debandada geral, com os cheiros dos coelhos os cães correm primeiro seguramente alguns Km a laticar atrás dos orelhudos até que chegam a um ponto que se acalmam e chegam-se então aos seus donos como que a quererem dizer: - estamos prontos, vamos lá!.

É aqui que a verdadeira caçada começa. A surpresa daqueles que saltam ainda sem serem incomodados pelos cães e que acabam por se dirigirem às portas, até àqueles que só saem do encame quando levam verdadeiras focinhadas dos podengos e que, no meio de tiros , ladras e gritos procuram desesperadamente a fuga para longe ou para as covas. "Vai, vai" , "agarra, agaaarra" , é um verdadeiro festival extraordinaŕio de adrenalina.

No meio seguem as duas matilhas de cães, 2 ou 3 armas caminham um pouco à frente, pelos lados, na tentativa de "interceptar" os que para o lado fogem, na traseira das matilhas mais 1 ou 2 armas para os coelhos que resolvem fugir para trás e, finalmente, algumas centenas de metros mais à frente são colocadas com o maior cuidado, pelo Guarda, as 2 ou 3 portas para os que seguem mesmo em frente.

É assim que decorre, com sucesso, uma caçada aos coelhos em grupo aqui nestes planaltos de Mértola, terra de caça por excelência e que, quase me atrevo a dizer, que é do melhor que temos em Portugal.

No final, distribuídos no chão, uma centena de coelhos, algumas fotos para recordar mais tarde, os nossos agradecimentos ao Guarda ( extraordinário Guarda) e, com os estômagos a "tilintarem" de tão vazios, rumámos rapidamente para Mértola para almoçarmos.

No restaurante, fiz-me servir de umas plumas de porco preto, grelhadas exactamente "no ponto" e acompanhadas com umas migas de se lhe tirar o chapéu. A acompanhar , um branco ( estava a antibiótico) fresquinho e, à sobremesa, uma sericaia para rematar o repasto.

Em convívio saudável e alegre, um dos Grupos seguiu viagem para Bragança e o outro ainda seguiu connosco para a zona das Fábricas, aldeia situada algures entre Mértola e Serpa, pois estavam interessados em levar para o Norte 2 leitões vivos, de porco preto.

Já com a noite a invadir o horizonte eu eo Zé S pegámos em 2 sacos de serapilheira e fomos com o dono da Herdade apanhar 2 leitões ao redil da vara de porcos. Truque para os apanhar mais facilmente: - espalhar uma saca de trigo no chão, os porcos acorrem rapidamente à comida e, enquanto distraídos a comer, pais , mães e filhos, tudo junto, é só escolher e pegar nos pequenos pelas patas de trás. De seguida enfiámo-los nos sacos de sarapilheira, saltámos para dentro do Jeep e fomos levá-los ao outro Grupo amigo que, mais acima, aguardava por nós.

Para a despedida, ainda fomos todos beber um café bem quente ao café lá da aldeia, onde, cá fora, ardiam uns troncos de oliveira dentro de um tambor aquecendo a noite.

Ainda tivemos tempo de ir ao Monte do Zé S onde estripámos os 25 coelhos que eu e o meu cunhado levámos, os tradicionais abraços de despedida com amizade e a certeza de que rapidamente nos iremos ver de novo, pois no próximo domingo esperam-nos as ásperas perdizes da Vendinha.

Até lá


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