quarta-feira, dezembro 22, 2010

Que m...de cartuchos !



















19/12/2010
Dia inesquecível de caça de salto.
Peripécias com cartuchos novos, lebres mortas que ressuscitam, lebres fantasmas, perdizes que escapam entre os pingos da chuva, de tudo houve um pouco.

Na foto, da esquerda para a direita, eu , o Zé G e o Vit. Os pointers são 2 manos, a "norma" e o"chiquinho".

Para mim esta jornada contava como a última caçada de salto à perdiz, deste ano de 2010.

Escusado será dizer que nos dias anteriores já alguma nostalgia me ia invadindo aos poucos, à medida que me apercebia que a minha caça predilecta, a perdiz, chegava ao fim.

Como não consigo resistir à mudança ( asneira, como sempre ) resolvi levar a P. Beretta Ultralight e, na semana anterior, à hora do almoço, saí do escritório e passei ali pela Espingardaria Diana, mesmo em frente à estação de comboios do Rossio, em Lisboa.

Pedi um conselho para levar uns bons cartuchos carregados com chumbo 6 e com carga de 32 gr pois o peso da espingarda assim o aconselhava e os donos da casa não tiveram dúvidas: " Só comercializamos o cartucho Winchester, mas o meu amigo leve 1 ou 2 caixas que é um cartucho a sério, extraordinário, não se vai arrepender de certeza!" , " o problema é que só temos chumbo 7 mas para o efeito que quer vai ver que não se arrepende nada". Perante tanta convicção, lá me decidi por comprar 2 caixas de cartuchos.

No dia seguinte, íamos caçar na ZCA Vendinha, em 2 linhas de salto, a percorrer as 2 metades da totalidade da reserva, de uma ponta à outra. Daí a razão da minha escolha pela P. Beretta mais leve.

Ás 04h30 da manhã saltei da cama com o barulho do despertador e às 05h00 saía de casa direito a Vila Nova de S Bento para apanhar o Zé G.

Na véspera tinham caído chuvas diluvianas em Serpa, obrigando mesmo à intervenção dos Bombeiros durante a noite em alguns locais. Como se previa uma manhã de sol ( que acabou por aparecer tímidamente já muito tarde) e uma longa caminhada durante várias horas, levei só as minhas Chiruca de meio cano, deixando em casa as de borracha de cano alto.

Quando chegávamos à reserva cruzámo-nos com o Zé S.. Nesse dia não caçava connosco, ia para uma batida junto às margens do Guadiana, na Herdade da Nata. "Sérgio, tens alguns cartuchos a mais?-perguntou-me. "É pá, trouxe 2 caixas de Winchester chumbo 7, posso ceder-te uma, pois ainda tenho umas sobras de B&P, queres ?" - "Dá-me então uma pois para o que vou tenho poucos cartuchos". Seguimos, assim, viagem.

Depois do pequeno almoço, no sorteio calhou-me a ponta esquerda da linha. "Não tem nada que enganar, o Sérgio percorra junto à estrada alcatroada, sempre à distancia regulamentar, mas vá-se guiando por mim que vou à sua direita" - disse-me o Bob.

Iniciámos a caçada em zonas de matos muito altos. O objectivo era empurrar os bandos de perdizes para fora daquelas zonas e depois caçá-las já em zonas mais limpas, com a ajuda dos preciosos auxiliares, os cães.

O ceú estava cinzento bem escuro, o que para mim se traduzia em dificuldades acrescidas nos tiros, pois é nestes dias que sempre tenho piores resultados a atirar à perdiz vermelha.

Atravessei com algum custo umas ribeiras onde a água corria profunda, abundantemente, com as chuvadas dos dias anteriores. As calças, essas, já seguiam completamente ensopadas, dificultavam-me gradualmente o passo, mas, por fim, e depois de ver meia dúzia de vermelhas a escapulirem-se para longe, comecei a entrar em zonas menos cerradas.

O Bob. tinha feito um disparo lá para trás, a uma, e mesmo assim a perdiz foi cair longe."Sérgio, espere aí um pouco que eu vou lá com os cães, aquela perdiz onde caiu ficou".

Enquanto esperava por ele, vejo um bando de meia dúzia, levantado largas, no meu lado direito da linha, a cruzar-se aí a uns 100 metros à minha frente, para o meu lado esquerdo. "Maganas, estas já se safaram" - pensava.

Os minutos iam passando e o Bob. teimava em não aparecer. Já não via sequer o companheiro que caminhava ao seu lado direito o que queria dizer que estávamos os 2 já muito para trás da linha. O ruído dos tiros assim o dizia.

Comecei a chamá-lo em alta voz, diversas vezes, mas nem sequer resposta ouvia. Insisti, voltei a insistir, os minutos passavam e ele nada. "Será que já passou, acompanhou a linha e eu não vi?" - a dúvida assaltava-me.

Acabei por concluir que provavelmente era eu que tinha ficado para trás e segui, rápido, em frente, para tentar recuperar a linha.

Dobrei um cabeço e "brrrrrr" , salta-me um par delas, a tiro, boas de derrubar. Dois disparos e nada, foram-se as duas. "Não gostei nada do barulho dos tiros" - pensei, parecendo-me fracos.

Algumas centenas de metros mais à frente, caçava, atento aos pequenos matos ali existentes, onde havia muitos rastos de coelhos daquela noite. Levantei a cabeça e deparei-me com um bando de perdizes, em fuga, a atravessar as terras, voando de asas abertas, mesmo por cima de mim. Faço o "swing", atrás delas mais 2 disparos mas ...nada. "Que diabo, isto não é nada habitual. Por norma, algumas destas, quando me entram assim, desta maneira, costumam ficar" - pensava.

Adianto mais o passo, pela direita do Monte do P. que é da Associação, e, alguns metros mais à frente, ao passar uma vedação, salta-me uma vermelhuda dentro dos matos, aí a uns 15, 20 metros. Novo encare, 2 disparos e...nada. "Das 2 uma, ou eu estou a ficar cada vez mais marteleiro ou então é da porcaria dos cartuchos"

Entretanto, à frente ia apanhando a linha e cruzei-me com o Luís da Vend. "Luís viu o Bob?" -"Não , respondeu. Começámos a ficar preocupados.

À medida que íamos andando grita-me " Sérgio, por cima !!! - olho e vejo uma perdiz a cruzar-se, linda, comigo, dentro de tiro.Mais 2 tiros e fico completamente embasbacado ao vê-la seguir sem tugir nem mugir. Raios, vou mudar para B&P, 34 gr, ch 6. Dos poucos que tinha na mochila carreguei a arma com 2 e segui.

Já estava desanimado e, depois de atravessar um caminho, encostei-me por momentos a uma vedação. Entretanto, o sol já nos acompanhava há largos minutos o que me deixava extremamente satisfeito. Larga, a uns bons 40 ou mesmo 50 m ( é sempre difícil avaliar estas distancias) vejo outra perdiz a fugir da direita para a minha esquerda. Encaro a arma e ao primeiro tiro cai redonda, "seca", sem hipótese. "Até que enfim" - já safei o chibato. Corri a apanhá-la e vi que se tratava de uma fêmea. Enfiei-lhe a cabeça pelo cinto das calças, pendurei-a e regressei atrás.

Para já, tudo o que é Winchester vai já para dentro da mochila e só caço com B&P. "M... de cartuchos que comprei" -pensei.

Entretanto vimos o Bob lá atrás a chegar-se à linha. Então o que aconteceu? perguntei, fartei-me de chamar por si, não ouvia nada e acabei por pensar que tinha vindo para cima - disse-lhe.

"È pá Sérgio, nem imagina o que aconteceu, fui lá atrás como combinado buscar a perdiz que tinha abatido, caiu longe mas ela lá estava e os meus cães encontraram-na. Mas quando vinha outra vez para a linha, a atravessar a ribeira, escorreguei e distendi a virilha. Tive de ficar ali imobilizado, aí uns bons 15 ou 20 minutos sem me conseguir mexer - dizia-me. Só depois é que lá consegui levantar-me e continuar.

Bom, de novo refeita a linha entrámos em zona de lebres. As perdizes, muitas, escaldadas, não nos davam mão. O Bob. disparava e fazia cair mais uma, bem cobrada pelo cão. Enquanto via, oiço um restolhar por trás de mim, volto-me para trás e vejo uma lebre perto, em fuga. Um tiro e deixo-a de imediato estendida no pasto. "À pois, isto era mesmo dos cartuchos, só pode ser, que m.... de cartuchos que na 2ª feira já lá lhes vou dizer" . Meto-a dentro da mochila e sigo caminho.

A 2ª perdiz veio fugida da linha em velocidade de TGV . Um só tiro, enrolo-a toda no ar, desfaz-se em penas e cai redonda no chão.

A 2ª lebre cobrada salta-me também aos pés, junto a uma linha de água. Com as chuvas as lebres têm muito o costume de se acamarem junto às ribeiras. Caiu redondinha, sem espinhas. E eu a pensar nos cartuchos que tinha comprado e a ver a diferença quando mudei para os B&P.

Junto a um açude, saltou-me outra perdiz, em linha recta a fugir de frente. Encaro calmamente a arma e disparo. O tiro passou-lhe todo á volta e não sei como aquela perdiz conseguiu fugir. Vi todos os chumbos a embaterem no cabeço para onde ela de se dirigia e posso assegurar que escapou por milagre. Escapou entre os pingos da chuva, pensei.

Entretanto a linha começou a virar para a minha esquerda e era tempo de criar ali uma pausa.

O Bo. levanta uma lebre e ao primeiro tiro derruba-a. Os 2 cães disputam o cobro da lebre e ele tem de intervir para "pôr ordem na coisa".

Longe vejo uma lebre fugida . Estive tentado a não atirar para não a ferir. Disparei e senti que o animal levou em cheio e retraiu imediatamente. Porém, continuou a descida do cabeço. Largo a mochila e faço uma corrida para o outro lado para lhe cortar o caminho. Vejo-a de novo, vai lenta, está ferida de morte. Corro mais uns metros mas ela vai-se distanciando aos poucos. As minhas pernas já não chegam. Tiro 2 cartuchos ao calhas, e faço 2 disparos. A lebre continua. Quando vejo os cartuchos eram Winchester. Merda para isto. Recarrego com B&P. Mais uma corrida e disparo de novo, mas a lebre era "fantasma" . Depois de tanto tiro desaparece no meio do matagal de um barranco.

O suor escorria-me pela cara e pelas costas e voltei atrás para pegar na mochila que já carregava 2 lebres.

Quando lhe peguei , salta-me logo ali outra. Linda, pensei. Encaro a arma e ao 2º tiro derrubo-a. Ficou no chão estendida, a uns 20 metros, a torcer-se, a fazer o que habitualmente chamamos de "esticar o pernil".
Já te apanho, voltei atrás para ir buscar a mochila e quando voltei e vou a deitar-lhe a mão, a lebre de súbito levanta-se e foge cabeço abaixo numa velocidade diabólica. Tinha a arma descarregada e nunca tinha visto tal coisa na minha já longa vida de caçador. Fugiu. Se não voltasse atrás para ter ido buscar a mochila tinha-a apanhado de certeza. Assim, dei-lhe alguns segundos, conseguiu ganhar forças e lucidez e fugiu, sem deixar hipótese, tanto mais que tinha a arma descarregada. Fantástico.

Eram 14 horas a caçada chegava ao fim e o meu saldo eram 3 perdizes, 2 lebres e 1 coelho.

Ao almoço, um belo de um cozido à portuguesa. Juntou-se a nós o Zé S. que tinha ido caçar para a Herdade da Nata. Matou uma mão cheia de perdizes mas disse-me que mal começou a atirar com os Winchester falhava tudo. Teve de mudar de cartuchos para começar a ter resultados ( tal como eu).

Na véspera tinha comprado um Bolo-Rei no El Corte Inglês da Beloura e acabámos o almoço a beber o café e a comer uma fatias deliciosas, já a pensar no Natal.

No regresso fomos ao Monte do Zé S. buscar 2 cabritos que eu tinha encomendado para o Natal e que tinham sido "arranjados" na véspera. Esquartejados e em sacos de plástico efectuei o regresso, depois de mais uma sensacional jornada de caça.

Dia 26 será a última caçada na Vendinha. Nesse dia não irei, ficarei com a família, em quadra de Natal, mas quem vai em meu lugar, o Vit., vai, seguramente, viver gloriosa jornada de caça. Ali...só pode!!! Mas o meu coração vai por lá andar.

Um abraço amigo.