sábado, dezembro 18, 2010

ZCT STA IRIA - Serpa




































11/12/2010
Uma bonita jornada de salto às Perdizes.

Já não sei muito bem porque caminhos e travessas chegámos ao lugar onda iríamos caçar naquela manhã. De facto, foram uma série de voltas que fizémos dentro da Herdade dos Peixotos até lá chegarmos.

A perspectiva era de uma jornada de salto, às perdizes, onde o amigo José S. sempre está por detrás destas jornadas e faz os convites aos seus amigos.

A Herdade dos Peixotos é uma das propriedades mais ricas em caça no Concelho de Serpa. A sua orografia e biodiversidade existentes, permite criar, com sucesso, praticamente todas as espécies caçáveis em Portugal.

Rica em coelhos, não faltam as perdizes e as lebres ( de tordos nem se fala) , galinholas, javalis etc, prova provada de que é possível conjugar conflitos de interesses na vivencia em comum das espécies.

Por volta das 08h30 estacionámos os carros dentro de um cercado com cerca de 600 hectares. O João R. , Guarda da ZCT, e profundo conhecedor da caça e de tudo o que a rodeia, incluindo o furtivismo e como o combater, chegou connosco e estabeleceu as regras do jogo: - "Pronto, para vocês é uma caçada vip, podem caçar de tudo mas não atirem a algum javardo que vos salte".

Soltámos os cães enquanto armávamos as espingardas e fornecíamos as cartucheiras com aqueles cartuchos que cada um entendia iam ser a melhor solução para a manhã de caça. Não sendo de todo importante, a percha sempre animava a alma e confortava ter 2 ou 3 peças penduradas a baterem-nos nas pernas enquanto caminhamos.

Da minha parte utilizei na semi-automática o B&P 34 gr Ch 6.

Entretanto, o Zé S. dava as primeiras instruções sobre a forma como íamos atacar aqueles 600 hectares, rodeados de cabeços pronunciados e, nos terrenos do meio, ligeiramente mais planos.

A estratégia era caçar um V , com pontas bastante adiantadas, como única forma de não "põr as perdizes em França", para fora do couto.

Do meu lado esquerdo, seguia na ponta esquerda o Zé S com a sua pointer "catia", ao seu lado direito o Zé G. com a sua cachorra pointer "norma" e do meu lado direito o Vit com o "chiquinho", todos da mesma família, isto é, produtos da barriga da "catia".

Mesmo com óculos apropriados, a caçar com o sol a bater forte nos olhos pensei logo que perdiz que saltasse em frente quase que nem a iria ver.

Nem era preciso perdiz. O 1º coelho que me saltou das estevas, levou 2 tiros atrás e já quase como descargo de consciência, atirando ao vulto, pois por vezes ficam estendidos no mato. Aquele não, fugiu e fugiu muito bem ocultando-se com o sol que ainda ia baixo.

O Zé S. caminhava em passo largo pela esquerda, os tiros iam-se sucedendo e ele gritava para o José G chegar-se mais, pois algumas perdizes estavam a saltar para trás e precisava ali de uma espingarda mais próxima.

Do meu lado direito, o Vit dava conta de uma galinhola que provavelmente se alimentava nos matos altos, daquela manhã fria. A ave salta para trás, para o seu lado esquerdo e com um tiro é derrubada alguns metros depois. O cachorro pointer, com a carga genética a ajudar, dava uma volta rápida ao arbusto onde momentos antes se ocultava a galinhola e marrava, lindo, no local onde a ave tinha estado. Era a sua primeira galinhola da vida e, com ninguém a ensinar-lhe que era ave de caça, ali estava ele, com todo o seu esplendor a querer "mostrá-la" aos seu dono.

Mais à frente novo levante de galinhola e o Vit grita-me" Sérgio vai para esse lado". Virei-me , fiz o swing e de um só tiro derrubo-a, indo cair nas margens da ribeira que por ali passava.

O Zé G., esse, saltaram-lhe um par de perdizes que por ali estariam em pânico, amagadas, mais próximas e dando a mão ao tiro, que foi certeiro. A Pointer, que eu considero também uma boa promessa, vai ao cobro mas deixa a perdiz no chão. Disse ao Zé G que o animal estaria provelmente stressado. "Deixa-a crescer que vais ver que as traz todas" - disse-lhe.

O Zé S. ia atirando. O Gonçalo também ia fazendo o gosto ao dedo. Num momento de reunião dos caçadores, dizia-lhe o S.: "É pá ó Gonçalo, trazes só uma perdiz pendurada. Devias de mudar de cartuchos. Isso do Sul Beja já deu o que tinha a dar" . "À é? - e metendo a mão à bolsa do colete, dizia, em tom jocoso: "então toma lá mais uma, e toma lá mais outra, e ainda toma lá mais outra." A gargalhada, claro, foi geral.

Depois daquele momento de boa disposição retomámos a caçada.

As minhas botas de borracha de cano alto não eram a melhor solução para tamanha caminhada e, no caminho, já iam deixando algumas marcas nos pés.

Um coelho atravessa da minha esquerda para a direita a subir em galope o cabeço. Um tiro certeiro deixa-o estendido no chão.Enfio-lha a cabeça pelo cinto, puxo-lhe pelas orelhas e penduro-o .

No caminho de regresso uma perdiz atravessa, da direita para a esquerda. Larga e alta , aí a uns 40 metros, de asa aberta, faço-lhe um tiro - em cheio, começa logo a cair redonda. Por instinto, remato-a ainda no ar com o 2º tiro.

"Bravo" . gritou-me o Zé S.

Quando fui procurá-la, o pasto cerrado e de ervas altas dava-me pelo joelho. Comecei com dificuldades em encontrá-a. Atirei da imediato o chapéu para o chão para não perder o sítio da pancada e comecei a procurar. Nada ! . Zé, traz aqui a cátia senão ainda me fica aqui a perdiz.
Deixa-te estar aí quieto- retorquiu o Zé, senão a cadela começa a misturar os cheiros e depois é mais difícil.

A pointer chegou ao local de depois de meia dúzia de voltas ali estava ela, imóvel, marrada com a perdiz morta no chão, que nem sequer se via. Mas a forma de parar da cadela dizia tudo, estava mesmo lá. "Cobra" -atira o Zé e a cadela, obedientemente, abocanha a perdiz e traz ao dono.
Era a chamada cereja em cima do bolo.

O campeão da jornada foi mesmo o Zé S. - abateu 7 perdizes mas também andou atrás delas ( passe a expressão) que nem um cavalo por aqueles cerros agrestes.

De volta ao monte, a C., mulher do Zé S., apareceu no Jeep transportando um tabuleiro de cabrito assado na altura, no forno. É isto o que a caça tem de bom. O vinho... uma maravilha, branco espumoso e tinto verde.

Ocupámos uma das salas do Monte dos Peixotos e ali estivémos algumas horas à conversa.Particular atenção para o Guarda João R. Ali nascido, conhece aquelas terras como ninguém. As suas histórias sobre as espécies, trabalho de Guarda, criação, combate a furtivos são intermináveis. A sua forma simples mas adjectivada de as contar constituem uma autêntica delícia para quem o ouve. Éramos capazes de estar ali horas a ouvi-lo.

Uma bela jornada de caça às perdizes, numa manhã de sol fantástica, com bons companheiros e, no final, um repasto de comer e chorar por mais.

Abraço amigo.
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