domingo, outubro 19, 2014

Caça de salto em Ourique

DIA 1 - 3 perdizes, 2 lebres, 1 codorniz.


DIA 2 - 2 perdizes, 5 lebres, 1 pato.




























2 caçadores, um cão, dois dias.

Dia 1
Como facilmente se pode reparar,  a foto primeira foi tirada já com a luz do dia a sumir no horizonte, logo, ficou um pouco mais escurecida, dado que não quisémos usar de efeitos que alterassem a sua originalidade. Seriam por aí quase umas 19 horas quando a máquina foi usada.

Este dia nasceu claro, frio para a época e rapidamente se foi tornando cinzento, soprando com uma brisa mais ou menos gelada vinda do lado este.

Começámos na ribeira que ladeia o monte para tentar ver se encontravámos algumas peças naquelas pastagens .

Cedo abandonámos a ideia e, depois de passar algumas cercas de arame farpado, virámos de forma a termos o vento de frente e fomos para o lado dos terrenos de pasto, junto à ribeira da aguentinha, que atravessa a herdade de uma ponta à outra.

O "sado" -companheiro  de 4 patas do Paulo,  continua em período de convalescença,  pelo que sabíamos que a jornada ia ser difícil, 2 espingardas, 1 cadela e um punhado de perdizes selvagens e lebres para encontrar e tentar algumas capturas, de todo nunca seria tarefa fácil.

Procurávamos as lebres quando, por trás de um cabeço, foge-nos um bando de umas 7 ou 8 perdizes.

Uma vira inesperadamente para a direita e "dá orelha" ao Paulo que lhe desferiu 2 tiros. Escapou impune, para outros terrenos. Como nos competia fazer, tentámos ir atrás das outras. Dobrámos novo cabeço e vimo-las, muito à frente,  a entrarem na ZCA que limita o couto.

O Paulo toma a liderança do percurso e encosta-se a bater do lado da extrema. Alguma caça que por ali se encontrasse seria empurrada para o centro do couto.

A dada altura a Inka gira à volta de um rasto e pára. Aproximo-me pela direita, arma preparada nas mãos, encosto-me um pouco mais e... salta uma codorniz. Bom, não se pode deixar fugir, sobretudo depois daquele trabalho da cachorra. Um tiro, cai redonda e a cadela cobra-a, sem reparos.

A uns 100 metros, grande trabalho da Inka. Curiosamente, o vento estava a virar a sul e, de frente, a cadelita estanca, pára, cabeça no ar, faz uma guia de uns 5/10 metros e estanca de novo. Cabeça no ar, a aspirar os ventos. Nova guia de mais 5/10 metros e nova paragem. A perdiz saltou sim, mas saltou lá do fundo da ribeira, a uns 80 ou 90 metros. Sem hipótese. Nem encarei a arma. Com uma festa e algumas palavras de alento, encorajei a cadelita. Grande trabalho mesmo, dos melhores  que lhe tenho visto, tendo em conta trabalhar aquela perdiz àquela distância.

Algumas centenas de metros depois, nova viragem à direita, ao vento, cabeça no ar e uma guia rápida. Tento acompanhar e salta uma perdiz por trás do cabeço. Um tiro de chumbo 6 e a perdiz tomba. Tomba mas mal tombada. Quando reparou que o Paulo vinha pela minha direita, arranca de novo para a esquerda, ferida,  mas com fortes ganas de escapar. Obriga-me a novo tiro, da direita para a esquerda, a uns 40 metros,  e cai redonda. A Inka vai ao cobro, a perdiz ainda teve força para dar um pequeno salto mas a cadela, rápida prende-a com a boca ainda no ar.

Algum tempo depois outra paragem da Inka nos pastos. Deu tempo para tudo. Aproximei-me e a lebre salta, veloz. Passou a linha de água e, já do outro lado, seguro-a com um tiro. A Inka vai ao cobro e faz o cobro, radiante.

A subir mais umas dezenas de metros e 2 perdizes são surpreendidas por mim. O Paulo pela direita. Corro a mão da esquerda para a direita e carrego no gatilho. Certeiro. Cai com estrondo e continua a saltar sem sair do mesmo local. - Está segura, ferida de morte - pensei. Deixei a Inka trabalhar e trazer-me a perdiz à mão.

Abordámos um açude mas não acreditámos que àquela hora tivesse lá patos. Foi o nosso erro. Estavam 7 ou 8. Levantam e o Paulo consegue ainda um tiro e eu outro. Cai um pato, abatido pelo paulo, fora do açude. Os outros escapam todos. No cobro, o pato foge novamente para dentro de água e a Inka foi ao cobro. Pato ferido e a mergulhar constantemente fora do alcance. Foi uma festa até a Inka o conseguir apanhar.

O almoço, em Ourique passou por uma deliciosa carne de porco à portuguesa com umas cervejas bem geladinhas. O calor era forte, na ordem dos 30 graus.

Ainda passámos pelas brasas no Romba e, à tardinha, fomos dar a volta pelo lado contrário do couto.

Sabíamos que íamos encontrar as perdizes naquela zona. Mal começamos, enxoto um bando dumas 10 para fora do couto. 

Mais à frente na ribeira, não esperando nada daquilo, arranca um javardo, enorme, que por ali estava deitado numa charca de água toda lamaçenta. Corro e ainda desfiro 2 tiros de ch 6. Pelos menos cócegas devo ter-lhe feito. Fugiu que nem um doido pelo montado acima.

Adiante, as perdizes iam brincando connosco. Mas eu sabia que tínhamos chance de abater uma ou duas. O Paulo derruba uma.

Do monte do Biló salta outro bando. Eu, pelo lado esquerdo, atiro a uma que vai cair a uns 70 metros, em plena estrada de terra. Embateu no chão, tal qual uma bola, saltou com o impacto e desata a correr a patas para a ribeira. Foi a perda do dia. Se a Inka a tivesse visto, a perdiz não teria hipótese. Mas não viu. Tive de a chamar depois e já não conseguiu nada dela. Evaporou-se.

O sol encobria-se rapidamente  no horizonte, o calor continuava, o cansaço invadia-nos as pernas e a roupa colava-se, irritante,  ao corpo. No topo de um cabeço, com um pequena brisa, a Inka vira-se de repente e estanca, absolutamente imóvel. Aproximo-me lentamente e tento ver o que ali estava escondido no pasto. Finalmente lá vi. Uma lebre. Foi para mim o lance do dia. Estava já a escurecer e provavelmente pensou que iria passar despercebida. Quase, quase que a consegui pisar com a bota. Mas não, arranca, potente, faço-lhe um tiro, continua em corrida, segundo tiro e dá uma cambalhota. A Inka agarrou-a de imediato.

À noite, nas ruas de Ourique continuava calor e, depois de um reconfortante duche, jantámos e cedo nos deitámos.

O dia havia sido longo e, pessoalmente, estava extenuado.

Aliás basta ver a cor da minha camisa na foto 1. A parte escura é suor.

Dormi toda a santa noite. O dia, esse, dediquei-o aos profetas da desgraça e aos velhos do restelo que quando vêm os outros fazer qualquer coisa onde não intervêem, logo despejam defeitos e desgraças sobre tudo e todos. Enfie a carapuça quem queira.

Dia 2
(continua)