Moreanes
Mértola
01-10-2018
Na antevéspera recebi inesperado telefonema do proprietário desta Herdade, convidando-me para participar na inauguração da abertura da caça geral à perdiz, que haviam antecipado.
Apesar das temperaturas que se previam para este dia, iam mesmo arriscar a jornada às perdizes.
Perguntei se podia levar um amigo e companheiro de caça habitual o que, gentilmente, me foi de imediato concedido.
Viajámos,assim, de véspera, e fomos pernoitar ao Monte da Herdade. Pelo caminho, parámos no "Brasileiro", em Mértola, e deliciámo-nos com uma omelete de farinheira e, para contrabalançar, uma leve açordinha de bacalhau, ambas acompanhadas com um branco gelado da região, da marca "Balanches" . No final, e para rematar, não poderia faltar o "torrão real", fresco doce conventual de ovos e amêndoa, especialidade daquela casa
À noite, pelas 11 horas, já deitado na cama do Monte, muitas perdizes e lebres passaram-me pela cabeça. Adormecer foi, como tal, tudo menos tarefa fácil. Finalmente, lá consegui adormecer, acordando com a ajuda do despertador do tm às 06 horas da manhã.
Toca de me trajar a rigor para o dia e, às 06h30, fomos-nos todos encontrando e cumprimentando e juntando à mesa. Ovos mexidos quentinhos a chegarem à mesa, pão fresco, queijo fresco de cabra, compotas diversas, finas fatias de bons enchidos alentejanos, leite, café, entre outros, recompuseram o estômago para a dura tarefa que tínhamos pela frente .
No caminho para o ponto de partida, já aperrados com armas e cães em cima dos veículos 4x4 , avistámos 2 ou 3 bandos de perdizes, correndo nervosamente, como que adivinhando algo de anormal ( a caça quer aceitemos ou não esta teoria, pressente estas coisas) afastando-se rapidamente das viaturas.
Ultimados os preparativos, montadas as armas e penduradas as cartucheiras, devidamente municiadas, com algum nervoso miudinho à mistura e habitual nestas andanças, soltámos os perdigueiros e, à ordem do diretor da linha encetámos a jornada.
Do meu lado esquerdo, o cão do PL, o Sado, marrava-se logo ali num pequeno barranco com um belo par de lebres. Levantadas, uma saiu ao caminho e, tiro certeiro, derrubada e bem cobrada.
A Inka, a minha cadela, também não deixava os seus créditos por mãos alheias e desalojava uma outra orelhuda duns carrascos e ao segundo tiro seguro-a. Também bem cobrada veio trazer-ma, doce, às mãos.
As perdizes ainda com o fresco da manhã, não "davam orelha" e iam escapando,longas, na frente da linha, independentemente de um ou outro tiro mais largo.
Quem estava em portas, cirurgicamente colocadas, lá fazia o gosto ao dedo, primeiro que os confrades da linha de salto.
O sol levantava e, logo implacável ( chegámos aos 33 graus de temperatura) secava já tudo à sua volta, o que restava de algum orvalho da noite e os pastos e restolhos já quase que queimavam. As lebres, nestas condições, não se deixavam ficar e levantavam-se, longe, por vezes com os cães no seu encalço, em grandes correrias, não dando tiro. Avistámos diversas, muito fora de tiro.
Se por um lado era mau para "o pelo" , por outro tinha o seu aspecto positivo para "a pena", dado que as jovens perdizes do ano, assustadas com os tiros, tresmalhavam e uma ou outra iam ficando em pânico, amagadas nos pastos e proporcionando boas arrancadas, bons tiros e bons cobros.
Da minha parte, comecei menos bem e falhei 3 ou 4, ou de levante ou de passagem, mesmo daquelas que, não obstante a velocidade, se certeiras, cairiam. Esta perdiz, nesta herdade, não deixa brincar, e os voos, rápidos, mesmo com calor, dificultam o tiro.
Com a minha primeira pendurada, abati ainda uma segunda, sempre com a ajuda da cadela no cobro.
Foi quando, já a meio da manhã, com um calor abrasador por cima, Santo Huberto dediciu conceder-me a oportunidade do dia.
Numa baixa, por onde ainda circulava uma leve brisa, arrancam 2 ou 3 perdizes, aponto a sobrepostos Beretta, derrubo uma, derrubo a segunda. Doble. Belo. A Inka vai rápida ao cobro mas, na corrida, levanta-se-lhe uma lebre para trás, pela encosta acima. Irresistível, a cadela não deixa de ir a correr atrás dela. Entretanto, outra perdiz salta da esquerda para a direita e, atrapalhado, tento meter mais 2 cartuchos na arma. Arranca ainda uma outra lebre desta feita pela encosta abaixo. Os nervos apoderam-se de mim em ver só ali tanta caça a fugir. Outra perdiz vem fugida da linha e passa por cima de mim a 100 à hora de asas abertas.
Com o coração a bater apressadamente, acabo por pendurar somente as 2 perdizes e seguir, (in)conformado. Só ali podia ter pendurado mais 2 lebres e uma perdiz, para além das 2 que já havia cobrado.
Entre muitos tiros e muitas peças a fugir ao longe, a manhã foi chegando, rápida, ao seu final.
Nos rostos dos caçadores espelhava-se acesa alegria pela caçada havida. Na linha, constatei existirem excelentes atiradores, mesmo muito batidos neste tiro à perdiz, o que, com um dia escaldante como este, também ajudou aos números finais.
Alguns açudes com água sempre deram uma belíssima ajuda aos cães que, estafados e língua quase toda de fora, deitavam-se, a arrefecer, dentro de água, seguindo a caçar.
Já no monte, as fotos finais com o quadro de caça, 34 perdizes, 4 lebres, um coelho e 4 patos.
Ao almoço, presenteados com umas belas febras de porco preto grelhadas com migas alentejanas, estaladiças, no ponto, com o belo vinho tinto das Bombeiras produzido duma vinha cercana, com cerca de 17 ou 18 hectares, nas margens do Guadiana que produz sempre bons néctares .
Feitas as despedidas a meio da tarde, pusemo-nos ao caminho para Lisboa ( e outros para o Porto), com a satisfação e a paz de alma de mais um dia de abertura muito bem passado.
Cá atrás, na carrinha, os cães dormiam nos sonos dos Deuses, estafados pela manhã de caça que muito puxou por eles.
Abraço amigo