terça-feira, outubro 15, 2019

Em linha, à perdiz vermelha.





















Em terras de Mértola
Sábado, 12-10-2019


Entre perdizes, coelhos, lebres,  e patos à noite.

Chegamos ao Monte cerca das 10h30 da noite, e juntámo-nos a outro grupo de confrades que há muitos anos habitualmente por aqui caçam, embora eles façam algumas consideráveis centenas de quilómetros a mais do que nós.

Depois de meia dúzia de horas bem dormidas, acordei na manhã seguinte , atravessei o pátio interior e juntei-me ao pequeno-almoço, onde o bom humor cedo começou a imperar.

Adivinhava-se, desde logo, uma boa manhã de caça e o nervoso miudinho já reinava saudavelmente nas nossas mentes.

A volta às perdizes, essa, começou logo ali, à saída das traseiras do Monte.

De espingardas às costas e cães pela frente, bracos, um ou 2 setters e perdigueiros português , a linha começou a desenrolar-se com ligeireza, e algum tempo depois - muita caça a fugir fora de tiro na primeira meia hora- as oportunidades iam aparecendo.

Os bandos de perdizes , já fora dos seus territórios habituais, o que nada apreciam, começaram, como se previa,  a fazer as revoadas para trás, em altos voos por cima dos caçadores e em que, uns melhor que outros, aproveitavam tais oportunidades.

Recordo tiro meu, que mereceu mais tarde largos elogios, a perdiz revoada a sensivelmente 15 ou 20 metros de altura,  mas atingida mortal e seguramente a uns bons 50 metros de distancia pela minha Beretta, choque 3* e com a ajuda do meu habitual cartucho B&P - F2 Classic , 34gr de chumbo 6. Atingida em cheio, despencou lá do alto e foi cair, larga, atrás do talude de um açude ali existente. Insisti no cobro com o meu novo BA, o Jeep, e, surpreendentemente, não obstante o belíssimo olfacto do cão, passou 2 ou 3 vezes por cima da perdiz, até que, finalmente, lá a agarrou e cobrou alegre e rapidamente, como é seu apanágio.

Algum tempo depois cobrava a minha segunda. Levante poderoso, da direita para a minha esquerda, espingarda corrida, tiro e enrolo no ar com queda aparatosa para lá de um aramado. Rápido, levantei a parte de baixo dos arames e ordenei o cobro ao Jeep que se esgueirou e foi a correr cobrar a perdiz, mais uma vez impecavelmente. "O cão faz-se" - pensei, radiante.

Muitos mais lances envolveram posteriormente a caçada, tiros muito bonitos, belíssimas paragens dos cães a lebres e coelhos, raras vezes a perdizes, mesmo sendo novas, já alguns torcazes a entrarem ao montado e a permitirem também bons tiros, gritarias a duas zorras que fugiram com muitos tiros a tentar derrubá-las, este bicho é deveras o inimigo numero um para quem cuidadosamente trata da fauna de um couto de caça menor, ela destrói diariamente ninhos, mata láparos, lebres,  entra e pilha nos galinheiros dos montes ali existentes tal como nos narraram, basicamente tudo quanto é vivo e apanham pela frente matam. Daí o ódio que os locais têm às raposas. Desde sempre assim foi e assim será no mundo rural, não tem nada de extraordinário.

Grande satisfação, também por parte dos proprietários,  por verificar que das perdizes avistadas nesta jornada, só uma percentagem mínima caiu ao som das espingardas. Muita perdiz fugiu e os bandos mantêm-se, assim, praticamente intactos.

No final da nossa caçada, celebrámos, degustando um bom bacalhau gratinado com espinafres, garrafas de branco bem gelado das terras de Mértola, e um gelado no prato como sobremesa, tudo misturado com boa disposição e comentários dos melhores e também dos mais divertidos lances.

Os donos da herdade, também naturalmente satisfeitos com o resultado da caçada, comentavam, já durante o ritual do café,  o esforço aqui desenvolvido pelas gentes rurais, logo desde Janeiro onde iniciam o lavrar das terras, de manhã à noite em cima dos tractores, as colheitas do cereal já nos meses mais quentes, o tratamento diário do gado ovino e bovino,  e outras tantas actividades transversais aos produtos da terra, deixam-nos forçosamente a pensar como não pensar e lutar atrás das secretarias em Lisboa, em prol desta nossa gente, verdadeiros heróis do trabalho e labuta diários.

Aqui não há reivindicações de semanas de 40 horas de trabalho, é o que for necessário para extrair o que de melhor a terra nos pode dar.

Para o final do dia, guardámos a beleza misteriosa do cair da tarde, numa espera  aos patos selvagens, desde as 18h30 até às 20h, com entradas pontuais de 2 ou e 3 patos de cada vez,  já muito escaldados, desconfiados, mas que permitiram ainda disparos suficientes para a captura de 3 reais e uma fêmea.

Até breve e um

Abraço amigo.